Já pensou em passear por cemitérios históricos? Provavelmente o primeiro pensamento que lhe vem à cabeça quando falamos de cemitérios é de lugares arrepiantes. Espaços que geralmente remetem para a dor, sofrimento e morte.
Mas estes espaços, particularmente os mais antigos, têm muito para oferecer. Aqui se contam histórias, se evocam personalidades ilustres, se contemplam magníficas peças de arquitectura e escultura, e até se podem encontrar verdadeiros quebra-cabeças de interpretação de símbolos.
Pelas mais diversas razões, milhares de pessoas em todo o mundo visitam os cemitérios como locais turísticos imperdíveis. O Cemitério de Montparnasse em Paris, o Cemitério Alegre de Sapanta na Roménia ou o Cemitério e Memorial Americano de Manila são alguns deles.
Em Lisboa destacam-se três fascinantes cemitérios oitocentistas, o Cemitério dos Prazeres em Campo de Ourique, o Cemitério do Alto de São João na zona oriental da cidade e o Cemitério da Ajuda na zona ocidental. Estes constituem parte integrante do património histórico, artístico e cultural e são por isso locais de interesse turístico.
Pode visitá-los livremente ou deixar-se conduzir nas interessantes visitas temáticas gratuitas disponíveis.
Vamos, então, saber!
Património Histórico, Artístico e Cultural de Interesse Turístico
Os cemitérios cumprem mais do que o seu papel primário de deposição de cadáveres, constituem lugares de memória. Os cemitérios históricos oitocentistas, em particular, são ainda lugar de concentração significativa de manifestações artísticas.
Os amantes de arte em geral não podem ser indiferentes aos magníficos exemplares de arquitectura e escultura que ocupam o espaço original para que foram concebidos. Por outro lado, o culto de figuras célebres, como pensadores, músicos, escritores, artistas em geral, de várias épocas, atraem aos cemitérios fãs e curiosos.
O mais célebre exemplo desta espécie de peculiar museu a céu aberto é o famoso Pére-Lachaise, uma das atracções de Paris que atrai milhares de visitantes.
Este património artístico e de memória colectiva pode e deve ser promovido como de interesse turístico. Este aproveitamento não pretende desrespeitar a memória dos que ali repousam, bem pelo contrário. Ao estudar e divulgar este património, promovendo a fruição e conservação do lugar, valoriza-se e enaltece-se o espólio artístico e as personalidades que ali se eternizam.
Visitas Temáticas aos Cemitérios Históricos
Tornar os cemitérios históricos verdadeiros museus a céu aberto implica investimentos que urge realizar. A elaboração de levantamentos exaustivos de inventariação, criação de roteiros que orientem os visitantes e núcleos museológicos, entre outras acções, implicam uma vasta equipa multidisciplinar.
Sensibilizar a comunidade para a importância deste património enquanto testemunho de memória colectiva é fundamental para o sucesso deste gigantesco trabalho.
Nesse sentido são preciosas as visitas temáticas gratuitas realizadas pelas seguintes entidades:
- Divisão de Gestão Cemiterial da CML – As visitas são realizadas pelos seus técnicos e sujeitas a marcação prévia através de e-mail ou telefone. Mais informações na página de facebook do Grupo de Cemitérios de Lisboa.
- Santa Casa da Misericórdia é proprietária e responsável pela conservação de uma boa parte do património dos cemitérios históricos. Através do Museu de São Roque promove com regularidade visitas. Esteja atento à sua página.
Ficou com vontade de participar numa das visitas?
Então, continue a ler o nosso post para saber mais sobre a génese deste equipamento urbano funcional e artístico.
O Convívio com a Morte
Cuidar do corpo e da preservação da memória dos mortos é uma preocupação ancestral da humanidade.
Até ao final do séc. XVIII a relação com a morte era algo muito presente na vivência quotidiana. Os sepultamentos no interior das igrejas ou nos terrenos em seu redor eram a prática comum. Os locais de culto e as últimas moradas constituíam uma só realidade.
Podemos simplesmente imaginar o que teria de desagradável e nefasto para a saúde esta convivência. 🙁
No final de setecentos estavam reunidas as condições para proceder a reformas estruturais profundas.
O aumento populacional e o consequente crescimento urbano, assim como, as noções de higiene e salubridade foram determinantes para a adopção dos cemitérios como hoje os conhecemos.
Contexto Histórico da Implementação dos Cemitérios
A revolução francesa permitiu a implementação de um Estado laico, independente da igreja, modelo que rapidamente se repercutiu um pouco por toda a Europa.
Em Portugal em 1835, na sequência da implementação de reformas estruturais do Estado, das quais se destaca a extinção das ordens religiosas, foi proibido o sepultamento nas igrejas, provocando mais uma revolução nos conservadores hábitos das populações.
Os avanços civilizacionais destes modelos liberais de raiz iluminista impostos por leis, foram, num primeiro momento, rejeitados pelas camadas mais conservadoras da sociedade. Foi esta a grande bandeira para as célebres lutas populares do norte do país, em 1846, conhecidas por revolta da Maria da Fonte que tinham outras motivações ligadas à profunda divisão entre liberais e conservadores.
Porém, as epidemias de cólera que fustigaram o país entre 1833 e1855 tiveram um papel determinante para a progressiva aceitação da nova lei, pois tornaram-se urgentes medidas drásticas dada a elevada mortalidade que se fez sentir.
Por outro lado, a garantia de enterramentos dignos acompanhados por um membro da igreja, para qualquer pessoa independentemente do seu estrato social, acabaram por convencer as populações. Assim como, a rápida adesão das classes mais favorecidas que passaram a dispor de mais espaço para os seus projectos de ostentação de impressionantes últimas moradas.
Os, então, novos cemitérios ocuparam locais mais periféricos e gradualmente, por exigência das populações, os seus terrenos foram sacralizados através da construção de capelas no seu interior. De certa forma reproduziram-se os antigos modelos nos novos espaços. Estes antigos cemitérios encontram-se hoje nos centros das cidades e constituem verdadeiros museus a céu aberto.
Cemitérios Históricos: Lugares de Memória, Culto e Reflexão
Que sociedade pode ser conhecida sem se ter estudado o seu olhar perante a morte e os seus rituais funerários?
Se a instituição dos cemitérios constituiu um avanço civilizacional inegável, actualmente a crescente opção pela cremação constitui um novo avanço. A impossibilidade física de manter cemitérios tradicionais, que impõem um permanente crescimento, obriga a que as entidades responsáveis incentivem esta prática. As próprias populações estão mais receptivas a esta opção.
A crescente adesão a este ritual merece análise sociológica, reflexão que nos permite conhecer melhor a sociedade que fomos, que somos…
Os cemitérios são locais onde repousam os restos mortais dos que partiram, mas foram e são concebidos, construídos e frequentados pelos vivos. Através de elaboradas construções e verdadeiras obras de arte, aqui se exibem vaidades, se diferenciam pensamentos, assumem atitudes, glorificam acções, homenageiam personalidades e as suas obras.
Todas estas manifestações, ali cristalizadas, são reflexos do tempo a que pertencem. Constituem, por isso, importantes testemunhos, documentos fundamentais para o estudo das mais diversas áreas das ciências humanas, da história à sociologia e às artes, da filosofia à psicologia.
São lugares de memória e não de abandono ou esquecimento, lugares onde se perpetuam mensagens, apelos, nomes. É impossível percorrer um cemitério sem inadvertidamente ir lendo os nomes que se encontram um pouco por todo o lado, inscritos em pedra. Nesse momento esses nomes de vivências anónimas e esquecidas são evocados e assim, eternizados.
Esta simples ideia era conscientemente entendida no Antigo Egipto. Por essa razão gravar um nome em pedra ou omiti-lo fazia toda a diferença. De forma mágica, se eternizava e dava vida a quem era merecedor deste privilégio ou se apagava definitivamente a sua memória.
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Uma Curiosidade
A separação entre o mundo dos vivos e a última morada dos mortos acabou por ter um efeito curioso. A literatura romântica do séc. XIX com o seu gosto pelo drama, pela exaltação do desespero, da dor, do desgosto e da morte, contribuiu para uma crescente visão da morte, não como o culminar de um processo natural, mas como uma inevitabilidade fatalista.
A ideia que hoje muitos têm dos cemitérios como locais a evitar porque os consideram tenebrosos e mórbidos, resulta da grande difusão desta literatura. Para esta visão dramática contribui ainda em muito a produção cinematográfica de suspense e terror do séc. XX que exalta o medo e tira partido dos cemitérios como cenário para toda a espécie de coisas terríveis.
Convidamo-lo a desafiar qualquer visão sombria e a embarcar numa aventura pelos cemitérios históricos de Lisboa!
O projecto getLISBON tem sido muito gratificante. Queremos continuar a revelar singularidades da apaixonante cidade de Lisboa.
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