Artigo original publicado em 25/04/2018
No mês em que celebramos a Liberdade, trazemos até si o Museu da GNR (Museu da Guarda Nacional Republicana), instalado no Quartel do Carmo, uns dos decisivos locais da Revolução dos Cravos, em pleno centro histórico de Lisboa.
Dentro desta temática, leia também:
– Museu do Aljube – Resistência e Liberdade, Uma Lição Obrigatória
– Marcos de 25 de Abril de 1974 em Lisboa
O importante espólio e excelente qualidade expositiva deste museu permitem-nos percorrer a história, desde as origens do antigo Convento do Carmo e do seu fundador, o terramoto de 1755 e a emergência das primeiras forças antecessoras, até à criação da Guarda Nacional Republicana.
E é a localização deste museu que nos faz recuar ao determinante dia 25 de Abril de 1974.
No interior do Quartel do Carmo, sede do comando-geral da GNR, bastião de defesa do poder ditatorial, refugiaram-se importantes membros do governo. No exterior, militares revolucionários e uma multidão de populares, lado a lado, com as chaimites, esperavam em expectante euforia o desenvolvimento dos acontecimentos. Após algumas horas de tensão, teve lugar a rendição do Presidente do Conselho de Ministros, Marcello Caetano, pondo fim, assim, à longa ditadura do Estado Novo.
De Convento a Quartel
A construção do antigo Convento de Santa Maria do Carmo remonta ao séc. XIV, impulsionado pela vontade e devoção religiosa do seu fundador, o Condestável do reino, D. Nuno Álvares Pereira.
A Igreja e o Convento do Carmo impunham-se pela imponência da arquitectura gótica e também enquanto centro de poder, estudo e espiritualidade. A escolha da sua localização diz muito sobre o seu fundador. Um militar prestigiado de grande visão estratégica, tão rico e poderoso quanto o próprio rei, que assim afirmava a sua posição e poder na colina em frente ao Castelo. Esta obra não foi fácil, devido às difíceis condições do terreno, mas a perseverança do seu fundador associada à introdução de novas tecnologias, foi mais forte.
Séculos mais tarde, em 1755 o terramoto que abalou a cidade de Lisboa atingiu com violência estes edifícios, principalmente a igreja. A sua reconstrução ainda foi iniciada mas acabou por ser interrompida devido à extinção das Ordens Religiosas em 1834. O gosto Romântico característico do séc. XIX optou por manter as ruínas góticas como memorial da catástrofe.
Em 1801 a Guarda Real da Polícia ocupou as instalações da parte abandonada do convento transformando-o em quartel. A sua localização estratégica não terá sido alheia a esta escolha já que se encontrava no epicentro da reconstrução da cidade e daqui se avistava uma área muito significativa dos arredores.
A partir de 1868 tornou-se Comando Geral das Guardas Municipais de Lisboa e do Porto; Guarda Republicana em 1910 e Guarda Nacional Republicana em 1911, mantendo-se desde a República até aos nossos dias como Comando Geral da GNR.
O Museu da GNR
O Museu da GNR, aberto desde Maio de 2015, não pertence à categoria dos museus mais conhecidos dos turistas e do público em geral.
Mas este original museu que apenas ocupa 450m2 consegue transportar o visitante, através de um circuito expositivo com excelente organização do espaço, para uma outra dimensão histórica. Este projecto, levado a cabo pelo Comando da GNR através da Divisão de História e Cultura da Guarda com a colaboração do arquitecto Jorge Cid, apela aos sentidos através da cor, da luminosidade e dos sons que nos vão acompanhando.
A história da GNR está intrinsecamente ligada à história de Portugal e de Lisboa em particular. Aqui encontra um rico espólio que reúne peças de diversas tipologias do séc. XIV à actualidade, dividido em vários núcleos.
O circuito expositivo do Museu da GNR inicia-se através de um corredor iluminado de modo cénico, que nos remete para a passagem para um outro tempo. Logo encontramos referência aos três grandes temas: o fundador Nuno Álvares Pereira, a GNR e o 25 de Abril.
O Fundador, a GNR e a Revolução de Abril
A mítica figura histórica do final do séc. XIV, o cavaleiro frade Nuno Álvares Pereira, condestável do reino e posteriormente frade carmelita, beatificado e santificado tem lugar de destaque. No final da sua vida, viveu despojado dos seus bens e recolhido como frade no convento que mandou edificar, até à sua morte em 1431.
Esta controversa personalidade, herói da Batalha de Aljubarrota de 1385, foi não só o fundador do edifício que nos recebe, mas também militar distinto, ligado ao primeiro corpo de segurança do reino, o Corpo de Quadrilheiros instituído em 1383, primeiro antecessor da GNR e de todas as Polícias Nacionais.
A história e memória da Guarda Nacional Republicana e suas antecessoras está patente através de uma exposição apelativa de testemunhos como fotografias, documentos e artefactos. De tudo um pouco se pode observar, uniformes, armas, condecorações, bandeiras, objectos artísticos, viaturas, instrumentos musicais ou objectos do quotidiano.
Neste espaço pode observar objectos ligados à extinta Guarda Fiscal, instituição centenária que foi integrada na GNR em 1993 e objectos particularmente curiosos ligados à investigação criminal dos anos 50 do séc. XX, assim como, a reconstituição de um posto da GNR e uma sala de aula destinada à formação e alfabetização dos militares.
De destacar ainda duas pequenas salas, simulações de uma trincheira da I Guerra Mundial e de uma mina de volfrâmio de 1939-1945, imagens emblemáticas dos diferentes papéis de Portugal nos dois grandes conflitos internacionais do séc. XX.
Estão ainda presentes as novas valências nacionais e internacionais da GNR no Portugal democrático. Contudo, o Serviço de Censura que aqui funcionou, desde a sua criação em 1926 até 1934, e todo o período negro da ditadura marcado pela violência e repressão, encontram-se aqui abertamente representados.
O 25 de Abril está presente através de peças emblemáticas das quais destacamos elementos da farda do Capitão Salgueiro Maia, um dos principais protagonistas da revolução e a poltrona onde Marcello Caetano aguardou, no final do dia, o desenrolar dos acontecimentos.
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Visitas Guiadas
Mediante marcação prévia o Museu da GNR disponibiliza-se para efectuar visitas guiadas para grupos e a possibilidade de aceder ao Salão Nobre e à espantosa varanda de onde pode usufruir de uma vista privilegiada sobre o Rossio, numa panorâmica da Colina de São Roque ao rio Tejo.
Não há desculpa para não dar um salto ao Carmo e descobrir este fascinante museu!
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