Há cerca de trinta anos desenvolvemos uma pesquisa sobre a pintura decorativa dos barcos tradicionais do Tejo e tivemos oportunidade de conhecer, à época, um dos últimos pintores populares, o mestre José Lopes. Constatámos que pouco restava deste impressionante legado.
Os barcos eram, na sua maioria, fantasmagóricas carcaças enterradas no lodo das praias fluviais da margem Sul. O segredo da sua construção e pintura eram domínio de muito poucos. O interesse pela manutenção destes saberes parecia ser algo que desapareceria em menos de uma geração.
Nessa altura, muitos barcos foram até vendidos para o estrangeiro e aí transformados em bares e restaurantes.
Contudo, algumas embarcações de maior porte tinham sido recuperadas e eram, sem dúvida, autênticas peças de museu vivo que as câmaras dos municípios ribeirinhos tiveram a audácia de não deixar morrer. Esta atitude didáctica do poder local resultou, com o tempo, numa crescente consciencialização da importância histórica e cultural deste património.
Hoje, há motivos para nos alegrarmos, pois verifica-se interesse por parte de associações e autarquias das duas margens do rio, na preservação desta arte popular ligada ao Tejo.
São muitos os eventos realizados para celebrar as embarcações tradicionais: regatas, encontros, oficinas de pintura tradicional, exposições de modelismo de embarcações, entre outros.
No Núcleo Naval do Ecomuseu Municipal do Seixal existe, para além de um espaço expositivo, uma oficina de construção artesanal onde se recuperam e constroem embarcações segundo modelos originais. Os barcos de maior porte estão disponíveis para passeios programados de carácter cultural e didáctico.
Quem visita Lisboa, felizmente, pode desfrutar de um cruzeiro no Tejo em barcos tradicionais, recuperados e adaptados para esse fim e deslumbrar-se com vistas magníficas da cidade e da margem Sul.
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Gostaria de saber um pouco mais sobre as tipologias e as vistosas pinturas destas embarcações que coloriam o rio?
Tipologias de Barcos Tradicionais do Tejo
Visualize Lisboa, o estuário do Tejo e a margem Sul… retire as pontes que as unem… imagine todo o transporte de pessoas e mercadorias feito por barcos.
Era, assim, antes de 1966, ano em que se inaugurou a Ponte Sobre o Tejo. Era de barco que se ligavam mais rapidamente as localidades entre Santarém e Cascais. Era também de barco que se procedia ao transbordo entre as embarcações de grande porte e o porto de Lisboa.
O rio era a auto-estrada de outros tempos e o trânsito era composto por uma rica variedade de embarcações. Animavam o estuário do Tejo: Fragatas, Varinos, Faluas, Cangueiros, Botes, Botes de Fragata, Botes de Pinho, Barcos de Água Acima, Canoas, Catraios e muitos mais.
A tipologia dos barcos tradicionais do Tejo revela-nos a actividade a que se destinavam:
- Barcos de fundo chato, como Varinos e Barcos de Água Acima, podiam navegar até mais junto das margens onde a água é menos profunda e subir o rio mais a montante;
- Canoas e Catraios, embarcações de menor porte, transportavam gentes e mercadorias como frescos e mercearias;
- Cangueiros destinavam-se a transporte de carga pesada como materiais de construção, areia, pedra ou pinho para abastecer os fornos de pão de Lisboa.
- As Faluas constituíam uma espécie de rede, mais ou menos regular, de transporte de pessoas. Estas fazem, ainda hoje, parte do imaginário dos lisboetas através da lengalenga que as crianças repetem, muitas vezes, sem perceberem bem o seu significado: “Que linda Falua que lá vem, lá vem, é uma Falua que vem de Belém…”
Pintura Decorativa
Já imaginou, todas aquelas tipologias de barcos de que lhe falámos, pintadas de cores garridas a navegarem no rio Tejo? Que tráfego colorido!
De todos, os barcos mais decorados eram os Varinos, as Faluas e as Fragatas.
Eram muito utilizados os motivos florais e as letras decoradas mas cada pintor tinha o seu estilo e, por isso, era facilmente identificado o estaleiro de origem da embarcação. Mas o que constava obrigatoriamente do registo e identificava a origem e propriedade dos barcos, era a sequência de cores da pintura do calcês, zona mais alta do mastro. Tudo o resto resultava do gosto e inspiração dos artistas populares.
Tratava-se de uma pintura de carácter decorativo, constituída por cores garridas sem qualquer tipo de simbolismo. A aplicação do vermelho, azul, verde, amarelo e branco eram resultado da escolha do pintor ou do dono da embarcação. Tradicionalmente, as tintas eram feitas a partir de pigmentos que, há muito, foram substituídos por tintas industriais.
A pintura era feita directamente sobre o suporte sem qualquer desenho prévio excepto nos casos em que se pretendia reproduzir um efeito de simetria. O método utilizado na pintura consistia na aplicação de uma cor de cada vez, ou seja eram pintados todos os elementos da mesma cor e assim de forma sucessiva, sem o auxílio de qualquer instrumento de rigor.
Estavam, assim, reunidas todas as características de uma pintura popular de carácter ingénuo e empírico que resultavam em composições alegres, de motivos simples, de gosto folclórico e despretensioso.
Sobre esta temática existem elucidativos estudos e documentos iconográficos, como: pinturas, gravuras e fotografias. Mas os registos mais emotivos desta vivência dos barcos tradicionais do Tejo e das suas gentes estão presentes nas velhas rábulas do Teatro de Revista e nas letras dos fados que cantam Lisboa e o rio Tejo.
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