Do Majestic Club à Casa do Alentejo

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Ninguém adivinha o que o espera ao passar a discreta porta da Casa do Alentejo, situada na Rua das Portas de Santo Antão, no eixo Baixa/Liberdade.

No interior da sede da Associação Regionalista Alentejana, podemos encontrar uma escadaria que nos ascende a um mundo maravilhoso de fantasia, excentricidade e luxo.

Que edifício é este? Qual a sua história? Que associação é esta que ama e preserva este espaço ímpar?

Vamos conhecer…

O Palácio Alverca

A sede da Casa do Alentejo ocupa o antigo Palácio Alverca, edificado no final do séc. XVII, pertencente à família Paes de Amaral, Viscondes de Alverca.

O palácio foi construído adossado à Muralha Fernandina, no sítio das Portas de Santo Antão, paredes meias com o Palácio da Independência. Talvez por esta razão não terá sofrido grande destruição aquando do terramoto de 1755. Contudo, sabe-se que foram feitas intervenções posteriores a este, indiciadas pela existência de estruturas em gaiola pombalina.

Mas a grande obra de transformação deste edifício teve lugar no início do séc. XX, com vista à abertura do primeiro casino da cidade de Lisboa, o Majestic Club.

Em apenas dois anos, entre 1917 e 1919, o arquitecto Silva Júnior (1868-1937) levou a cabo um projecto ecléctico, marcadamente revivalista, que resulta num espaço cinematográfico que ainda hoje surpreende e encanta.

Os anos 20 do século passado, em todo o mundo, ficarão para sempre com o epíteto de loucos anos. Não foi por acaso!

Também em Lisboa estes tempos foram vividos de forma intensa, com conquistas a nível dos costumes, apesar do clima de instabilidade política marcada por uma jovem República, pela participação no primeiro grande conflito mundial e pelas dificuldades económicas e sociais do país.

A aristocracia estava falida e decadente e a burguesia em ascensão imperava, imprimindo uma lufada de ar fresco na sociedade.

Os palácios, que sobravam aos seus proprietários, eram arrendados para os mais diversos fins e não foram raros os casos em que passaram a dar lugar a estabelecimentos de divertimento nocturno.

Foi o caso do Palácio Alverca que já tinha conhecido outros inquilinos antes de 1918, ano em que passou a ser ocupado pelo Majestic Club, mais tarde Monumental Club, hoje Casa do Alentejo. 

O Majestic Club

Pormenor do tecto da sala da roleta

O Majestic Club era um dos locais mais relevantes da Lisboa boémia de então, mas não era acessível a qualquer um. Para frequentar este espaço eram necessários vários requisitos, sendo o mais relevante ter poder económico para suportar uma elevada quota. O luxuoso club não gorava as expectativas e justificava a selectividade.

O ambicioso projecto dirigido por Silva Júnior contou com a colaboração dos decoradores Benvindo Ceia e Domingos Costa, dos pintores Júlio Silva e José Ferreira Bazalisa e de Jorge Colaço que realizou os inúmeros painéis de azulejos.



Breve Descrição

Aqui impera o gosto eclético espelhado nos revivalismos.

Em primeiro lugar deparamo-nos com um pátio neo-árabe que nos transporta para os contos das Mil e Uma Noites. Daqui temos acesso a vários espaços, entre eles um toilette de senhoras decorado no mais requintado estilo rococó e ao lado, uma pequena sala que foi barbearia, onde as pinturas lembram bolhas de sabão…

Toilette de senhoras e barbearia. O gosto eclético e revivalista presente no toilette de senhoras decorado no mais requintado estilo rococó e ao lado, uma pequena sala que foi barbearia, onde as pinturas lembram bolhas de sabão…
Toilette de senhoras e barbearia; anos 30
Imagens gentilmente cedidas pelo coleccionador Luís Bayó Veiga

O mesmo estilo neo-árabe acompanha-nos no acesso ao piso superior através de uma escadaria bipartida que se adivinha original do primitivo palácio. Aqui somos inundados por um banho de luz e cor, provenientes das magníficas janelas coloridas de vitrais e dos azulejos de padrão geométrico.

Pátio e escadaria neo-árabe. Um pátio neo-árabe e uma escadaria de acesso ao piso superior transporta-nos para os contos das Mil e Uma Noites. Aqui somos inundados por um banho de luz e cor proveniente das magníficas janelas coloridas de vitrais e pelos azulejos de padrão geométrico
Pátio e escadaria neo-árabe; anos 30
Imagens gentilmente cedidas pelo coleccionador Luís Bayó Veiga

No primeiro piso o espanto continua num nunca acabar de surpresas, onde cada sala nos remete para um estilo diferente.

Uma sala de estar apresenta painéis de azulejos historiados onde a azul e branco e também a cores, nos são apresentadas passagens dos Lusíadas do poeta Luís de Camões, emoldurados por elementos decorativos neo-manuelinos a amarelo.

Sala de estar que apresenta painéis de azulejos historiados onde a azul e branco nos são apresentadas passagens dos Lusíadas do poeta Luís de Camões, emoldurados por elementos decorativos neo-manuelinos a amarelo.
Sala de estar decorada com painéis de azulejos historiados; anos 30
Imagem gentilmente cedida pelo coleccionador Luís Bayó Veiga

No impressionante salão dos espelhos, numa explosão de dourado neo-barroco, não falta a simetria produzida pelas janelas fingidas que reflectem as reais. Nesta evocação a Queluz, um palco e duas portas que o ladeiam fazem a ligação a outro espaço mais privado.

No impressionante salão dos espelhos, numa explosão de dourado neo-barroco, não falta a simetria produzida pelas janelas fingidas que reflectem as reais.
Salão dos espelhos em estilo neo-barroco; anos 30
Imagem gentilmente cedida pelo coleccionador Luís Bayó Veiga

Trata-se de uma sala de jogo, onde este é repetidamente afirmado, simbolicamente, pelas pinturas que representam sensuais figuras femininas e esvoaçantes borboletas que dão conta do estilo Arte Nova, em voga no dealbar do séc. XX.

Zona de bar e sala da roleta, onde estão presentes decorações que dão conta do estilo Arte Nova, em voga no dealbar do séc. XX.
Zona de bar e sala da roleta; anos 30
Imagens gentilmente cedidas pelo coleccionador Luís Bayó Veiga

Noutra sala de jogo, os coloridos azulejos de Jorge Colaço (1868-1942) preenchem totalmente as paredes, reproduzindo cenas do mundo rural do Minho, enquanto na sala dos bilhares, actual biblioteca, as caçadas são emolduradas por elementos decorativos geométricos arabizantes.

Sala dos bilhares decorada com azulejos de Jorge Colaço
Sala dos bilhares decorada com azulejos de Jorge Colaço; anos 30
Imagem gentilmente cedida pelo coleccionador Luís Bayó Veiga

O casino dispunha ainda de privados, pequenos compartimentos onde os frequentadores podiam gozar de maior privacidade. Cada um apresenta uma decoração única e é mais surpreendente que o anterior. Hoje encontram-se recuperados e servem de gabinetes aos órgãos de direcção da Casa do Alentejo.

A Casa do Alentejo

Casa do Alentejo: pátio neo-árabe
Pátio neo-árabe

O casino manteve-se até 1928, tendo ficado encerrado até 1932 quando foi arrendado ao então Grémio Alentejano, hoje Casa do Alentejo, sede da Associação Regionalista Alentejana.

Em 1981 o palácio é adquirido pelos seus inquilinos, passando assim a ser, como gostam de afirmar, propriedade de todos os alentejanos.

Felizmente este rico património encontra-se em boas mãos. Tem sido feito um esforço pela sua preservação e restauro e é desejável que assim possa continuar.

A Casa do Alentejo encontra-se aberta ao público e aqui pode-se usufruir dos prazeres da gastronomia alentejana. Para tal existe um restaurante e uma taberna de petiscos situada num pátio a que foi dado o nome do escritor Manuel da Fonseca (1911-1993). Neste podemos observar dois murais realizados com a finalidade de homenagear Michell Giacometti (1929-1990), o músico etnólogo que tanto se identificou com o cante e o viver das gentes de Além do Tejo.

Restaurante onde os coloridos azulejos de Jorge Colaço preenchem totalmente as paredes, reproduzindo cenas do mundo rural do Minho. E Pátio Manuel da Fonseca onde podemos observar dois murais de homenagem a Michell Giacometti
Restaurante e Pátio Manuel da Fonseca

As magníficas salas do primeiro piso podem ser alugadas para a realização de festas e eventos, estando também disponíveis novas salas para pequenos grupos.

A Casa do Alentejo dispõe ainda de uma biblioteca onde estão disponíveis cerca de 10.000 títulos de temáticas diversas, naturalmente com maior incidência no Alentejo. Aqui também se realizam lançamentos de livros, reuniões e exposições.

Ao longo de toda a sua existência, a Casa do Alentejo tem  contribuído para a dinamização, promoção e preservação da cultura alentejana, na cidade de Lisboa e também, directamente, na região que defende.

Trata-se não só de um espaço cultural de divulgação da literatura, artes plásticas, artesanato e gastronomia alentejanas mas também um lugar que promove a discussão e resolução dos velhos problemas e dos novos desafios que o Alentejo enfrenta.

Este papel activo, está presente na realização de conferências temáticas, congressos e outras manifestações, iniciativas que visam o desenvolvimento regional, a melhoria de vida e a preservação da cultura da sua região. Para mais informações consulte o seu website.

Um local a não perder, um património a defender, uma associação a apoiar!


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