The Egyptian of Torel Garden is a beautiful artwork by French sculptor Mathurin Moreau (1822-1912).

A Egípcia do Jardim do Torel em Lisboa

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A egípcia do Jardim do Torel era, para nós, uma das curiosidades mais enigmáticas da cidade de Lisboa. Sempre nos intrigou a sua autoria, o seu simbolismo…

Na verdade, em nenhuma visita guiada, guia da cidade ou página de internet que descreva este magnífico miradouro vemos informação relevante sobre esta elegante figura que nos recebe assim que ultrapassamos o bonito gradeamento deste jardim.

Fomos à procura e encontrámos o seu autor, a sua origem e uma série de gémeas espalhadas pelo mundo. Vai gostar de saber!

Uma Fonte-Repuxo com Duas Moradas

O percurso de uma das mais belas ruas de Lisboa, onde podemos admirar raros exemplares de mosaico italiano, conduz-nos à egípcia do Jardim do Torel. Esta escultura, que decora uma fonte-repuxo deste jardim, reabilitado em Junho de 2020, encanta quem por ela passa desde o final da década de 20 do século passado. Mas esta não foi a sua primeira morada.

Palácio Folgosa situado na Rua da Palma, anterior a 1928; Egípcia do Jardim do Torel, 1973
Palácio Folgosa, anterior a 1928, autor desconhecido; Egípcia do Jardim do Torel 1973, Arquivo Municipal de Lisboa, Artur Pastor (1922-1999), 1973, PT/AMLSB/ART/031890

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A sua origem aponta-nos para um outro local, o Palácio Folgosa situado na Rua da Palma, nº 169, ao Martim Moniz. Este foi edificado em 1893 por António de Sousa e Sá, Conde da Folgosa (1843-1923), e adquirido pela Câmara Municipal de Lisboa em 1928. Com as transformações e adaptações do palácio, então levadas a cabo, uma parte do gradeamento foi dali retirado e aplicado no Jardim do Torel, assim como as floreiras que ladeiam e encimam o portão e ainda a fonte-repuxo com a bela egípcia.

Gradeamentos no Palácio Folgosa e no Jardim do Torel
Gradeamentos no Palácio Folgosa e no Jardim do Torel

O gradeamento que ficou no antigo palácio da Rua da Palma, ainda ali se encontra e facilmente se pode constatar que é igual ao do Jardim.

Autoria, Contexto e um Olhar Mais Atento

A egípcia que decora uma fonte-repuxo do Jardim do Torel, encanta quem por ela passa desde o final da década de 20 do século passado.
A egípcia do Jardim do Torel

A egípcia do Jardim do Torel é um belo trabalho da autoria do escultor francês Mathurin Moreau (1822-1912), o mesmo autor das principais figuras das Fontes Monumentais do Rossio de que já lhe falámos.

Egípcia da autoria de Mathurin Moreau
Egípcia da autoria de Mathurin Moreau

Trata-se de uma peça em ferro fundido com a forma de uma mulher que eleva os braços sobre a sua cabeça sustendo um foco de luz. Esta figura feminina enverga o Nemés um turbante de riscas que era de uso exclusivo dos faraós do Antigo Egipto. Estas incongruências iconográficas são vulgares em representações posteriores, não coevas. A presença do Nemés não deixa dúvidas sobre a origem da figura e até pode ter sido introduzido de forma consciente, conferindo-lhe importância.

A base a que a peça se encontra associada é constituída por uma coluna, também de ferro fundido. Esta é decorada com flores de lótus, penas de pavão e carrancas de rostos masculinos, igualmente emoldurados por turbantes, da boca dos quais jorra água para um tanque de pedra circular. Em tempos este apresentava-se protegido por um gradeamento decorativo que rodeava um canteiro de rosas.

Base decorada com flores de lótus, penas de pavão e carrancas
Base decorada com flores de lótus, penas de pavão e carrancas

Esta gramática exótica relacionada com o Antigo Egipto, muito em voga no séc. XIX, é fruto da atenção, por parte dos europeus, dada aos vestígios arqueológicos então descobertos no Egipto e que culminou num gosto por vezes exacerbado apelidado de egiptomania.

Como vimos em Fontes de Ferro da Lisboa Oitocentista foi neste século, com o desenvolvimento dos centros urbanos, que as fontes-repuxo e o mobiliário urbano em geral, como candeeiros, gradeamentos e bancos, entre muitos outros, ganharam uma nova dinâmica. Para isso foram fundamentais as fundições francesas que reproduziam trabalhos artísticos de escultores em peças de ferro fundido de fabrico em série que, disponibilizadas por catálogo, se espalharam um pouco por todo o mundo.

Foi neste contexto que a nossa egípcia do Jardim do Torel foi concebida e produzida na fundição francesa de Val’Dosne no final do séc. XIX, chegando a Lisboa para enriquecer o Palácio Folgosa.

As Gémeas da Egípcia do Jardim do Torel

Catálogo da fundição francesa de Val’Dosne; Jardim de Miliana em Argel, Argélia
Catálogo da fundição francesa de Val’Dosne; Jardim de Miliana em Argel, Argélia

Como não podia deixar de ser, quando se trata de peças feitas em série, podemos verificar que existem sempre algumas gémeas espalhadas pelos quatro cantos do mundo.

Encontramos conjuntos exactamente iguais à nossa egípcia do Jardim do Torel de Lisboa, no Jardim de Miliana em Argel na Argélia e na Place Clemenceau em Neuvy-Saint-Sépulchre, uma comuna da França.

Sabendo que o tocheiro é uma peça independente da base, não é de estranhar que este surja inúmeras vezes com diferentes aplicações e sobre diferentes modelos de peanha, associado ou não a fontes ou chafarizes.

São os casos presentes no Jardim Zoológico Municipal de Montevideo no Uruguai; no Palácio de La Alhambra em Santiago do Chile no Chile; do Museu do Estado de Pernambuco em Recife e no Rio de Janeiro no Brasil; em Pondichery na Índia; em Saint Étienne e em Paris na França

Muitas vezes a egípcia faz par com um outro modelo de tocheiro, desta feita representando uma mulher de origem africana igualmente muito bela. Encontramo-las em Temple Hoyne Buell, um mausoléu em Denver nos EUA; no Hôtel de Ville em Lorraine na França; no Hotel Shelbourne em Dublin na Irlanda e surpreendentemente, ladeando um palco nos Jardins do Palácio Cristal na cidade do Porto em Portugal.

Par de esculturas (egípcia e africana) nos Jardins do Palácio de Cristal, Porto
Par de esculturas (egípcia e africana) nos Jardins do Palácio de Cristal, Porto

Quando passar no Jardim do Torel preste atenção na elegância desta fonte-repuxo. Uma iconografia que sugere a purificação pela água regida por uma egípcia que nos remete para a simbologia do culto de Hórus. As flores de lótus são símbolo de renascimento e as penas de pavão símbolo solar e de imortalidade. Um caminho a percorrer em busca da verdade, do conhecimento, da ciência e do saber que culmina na Luz.

Leia também Sinais do Antigo Egipto em Lisboa, onde falamos de outros elementos contemporâneos de inspiração egípcia.

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