O Museu Bordalo Pinheiro é, por si próprio, considerado como o museu mais divertido de Lisboa… e é bem capaz de ser verdade!
A genialidade e o humor andam geralmente de mãos dadas e Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905) é um bom exemplo dessa união.
A obra diversificada, inconfundível e única deste artista está aqui representada numa colecção que reúne inúmeros trabalhos que nos transportam do mundo da caricatura e da ilustração ao da cerâmica. E são muitas as peças que nos fazem sorrir!
Vamos, entre outras coisas, conhecer como nasceu este museu e o que deve esperar da sua visita.
Acreditamos que se irá surpreender!
Ernesto Cruz Magalhães, um Homem de Causas
Preservar, estudar e divulgar a obra do artista são os objectivos do Museu Bordalo Pinheiro, até aí nada difere da missão de qualquer outra instituição congénere. Contudo, esta casa tem uma história muito particular que lhe queremos contar.
O Museu Bordalo Pinheiro nasce da vontade de Ernesto Cruz Magalhães (1864-1928), um contemporâneo do artista, admirador e coleccionador das suas obras.
Poeta, crítico, humorista e também republicano convicto, Cruz Magalhães encomenda em 1913 ao arquitecto Augusto Machado (1874-1944) uma moradia, destinada a habitação e a museu, situada no Campo Grande, na zona das Avenidas Novas.
A vida pessoal de Cruz Magalhães foi propícia à sua atitude filantrópica. Enviuvou, não teve descendência e dispunha não só do gosto mas de uma situação financeira desafogada. As receitas do museu foram, inclusive, muitas vezes canalizadas para instituições de acção social.
Tratava-se de um homem activo nos circuitos culturais, artísticos e políticos do seu tempo, dedicado a causas e o Museu Bordalo Pinheiro foi uma delas.
Nada disto é de estranhar porque Rafael Bordalo Pinheiro é um dos raros artistas que, apesar de incómodo, é muito apreciado no seu tempo, sendo o valor do seu legado reconhecido ainda em vida.
A abertura do museu ao público terá lugar em 1916 e numa primeira fase a colecção ocupará apenas o primeiro piso. Mas, 6 anos depois, são abertas novas salas onde terão lugar conferências e exposições e será criado o Grupo de Amigos Defensores do Museu.
A acção de Cruz Magalhães foi decisiva na divulgação e reflexão sobre a obra de Rafael Bordalo Pinheiro, na mobilização de meios que permitiram erguer um monumento ao artista e atribuir o seu nome ao Largo onde o artista viveu, assim como ampliar o espólio, artístico e documental do museu.
A Bela Moradia do Museu Bordalo Pinheiro
A curiosa moradia encomendada por Cruz Magalhães é não só o primeiro museu construído de raiz para essa finalidade, como também o primeiro de carácter monográfico em Portugal.
Para tal o arquitecto Augusto Machado concebe um edifício de dois pisos na chamada linha da “casa portuguesa” que se caracteriza pela utilização de alpendres e beirais que lhe dão um certo carácter popular. O projecto valeu-lhe uma Menção Honrosa do Prémio Valmor 1914.
Observa-se no seu exterior duas evocações à figura de Rafael Bordalo Pinheiro. Por baixo de uma janela um medalhão de faiança com a efígie do artista e um painel de azulejos azul e branco, da autoria do pintor José António Jorge Pinto (1875-1945), em que Rafael é representado como o importante poeta português Luís de Camões, equiparando-o à sua genialidade.
Animam ainda a fachada peças de faiança que representam animais de grandes dimensões que foram introduzidos mais tarde.
Em 1924 o fundador e director do museu legou a casa e o seu acervo ao Município de Lisboa que aqui realizou obras e o reabriu dois anos depois. O espólio foi ampliado assim como as salas de exposição e passou a dispor de Biblioteca.
Em 1992 é construído um edifício anexo a fim de aumentar a capacidade expositiva, visando a criação de uma galeria de exposições temporárias.
Problemas com construções vizinhas em 1999, obrigaram ao encerramento do museu e o edifício foi sujeito a obras de consolidação. Voltou a abrir ao público em 2005, após requalificação geral do espaço e do programa museológico.
No ano em que o Museu Bordalo Pinheiro completou 100 anos a sua tutela passou a ser responsabilidade da EGEAC – Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural e, desde então, a programação de actividades ganhou novo dinamismo.
O Espólio do Museu Bordalo Pinheiro
O espólio do Museu Bordalo Pinheiro é, como o artista que representa, multifacetado. Desenhos, gravuras e pinturas convivem com cerâmica e azulejos, objectos de uso quotidiano, fotografias e documentação.
No piso térreo a Biblioteca oferece para além da consulta de obras disponíveis em formato tradicional, material documental audiovisual em computador.
A fotobiografia entre 1863 e 1904 permite-nos um contacto directo com a figura inconfundível de Rafael Bordalo Pinheiro. Destaque para uma magnífica pintura do seu irmão o pintor Columbano Bordalo Pinheiro que se encontra a meio da escada de acesso ao piso superior.
Nesse piso encontramos inúmeros desenhos originais e impressos onde o humor, o sentido crítico e subversivo do genial artista estão patentes.
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Atente nas auto-representações do artista que nem a si próprio se poupava; na sala dedicada ao Zé Povinho, personagem criada por Bordalo que suplantou o próprio criador; nas ilustrações que concebeu enquanto designer gráfico e nos objectos pessoais e de trabalho.
Não vai poder deixar de sorrir e constatar a actualidade das mordazes caricaturas que aqui irá encontrar. As mensagens de Bordalo relacionam-se sempre com a defesa de valores morais e éticos universais, por essa razão são intemporais e visam abanar consciências acomodadas.
A boa disposição está sempre presente e é certamente com agrado que irá percorrer o espaço expositivo que o convidamos a conhecer ou a revisitar.
O Museu conta com uma loja onde pode adquirir livros e reproduções de peças do artista produzidas na Fábrica de Cerâmica Bordallo Pinheiro de Caldas da Rainha que são uma tentação.
Mais informações na página do Museu.
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