Marcos do 25 de Abril de 1974 em Lisboa; Mural de Cravos, Museu do Aljube

Marcos do 25 de Abril de 1974 em Lisboa

Quando se cumprem 50 anos da Revolução dos Cravos decidimos divulgar Marcos do 25 de Abril de 1974 em Lisboa. Para nós é uma evidência, senão mesmo uma obrigação, abordar este dia histórico que tanto impacto teve nas nossas vidas e de todos os portugueses.

Aquando dos acontecimentos éramos ainda crianças mas dele retemos muitas memórias e, acima de tudo, plena consciência de como as conquistas de Abril foram determinantes no nosso crescimento, na nossa formação, na nossa identidade como mulheres, no nosso destino… 

Somos gratas aos capitães que revolucionaram o nosso país oprimido, analfabeto e atrasado, dando-nos, sem derramamento de sangue e numa explosão colectiva de alegria, o fim de uma guerra, a liberdade, a democracia e o desenvolvimento que resultaram daquele dia.

Dirão vozes mais críticas que há ainda muito a fazer. Haverá sempre! O mundo nunca pára de evoluir e as exigências de uma sociedade mais justa, mais igualitária e mais livre são sempre prementes.

Contudo, devemos sempre lembrar, honrar e festejar aquele que foi o primeiro Dia da Liberdade porque as conquistas também se perdem se não estivermos atentos e se cairmos no erro de julgar que estão garantidas.

Marcos do 25 de Abril de 1974

Elementos expositivos dos museus do Aljube e GNR

Já aqui trouxemos dois museus que muito importa conhecer e que abordam a revolução de formas distintas. O Museu do Aljube – Resistência e Liberdade onde se encontra a musealização de memórias e testemunhos da resistência e combate à ditadura e o Museu da GNR que pode visitar no Largo do Carmo, cenário onde teve lugar a acção central do dia da revolução.

Mas existem outros marcos do 25 de Abril de 1974 em Lisboa, são estes que lhe trazemos hoje, numa enumeração que não pretende ser exaustiva mas que nos parece reunir um conjunto bastante diversificado de manifestações artísticas ou simbólicas que têm como ponto comum “… a madrugada que eu esperava / O dia inicial inteiro e limpo / Onde emergimos da noite e do silêncio / E livres habitamos a substância do tempo” como tão bem exprimiu Sophia de Mello Breyner Andresen.

Placa de Homenagem às 4 Vítimas da PIDE no Dia 25 de Abril de 1974

Placa de Homenagem às 4 Vítimas da PIDE, Rua António Maria Cardoso

Foi na tarde do dia 25 de Abril de 1974, já após a rendição de Marcelo Caetano, que uma multidão de populares se reuniu em frente à sede da PIDE/DGS, na Rua António Maria Cardoso, para exigir a rendição dos agentes que aí se encontravam e recusavam a derrota. Em resposta a esta manifestação os elementos da Polícia Política dispararam indiscriminadamente sobre a população, provocando dezenas de feridos e quatro mortos.

Estes viriam em 1980 a ser homenageados, por um grupo de cidadãos, com a colocação de uma placa no local do assassinato.

Anos mais tarde, em 2005, e não sem muita contestação, as antigas instalações onde se praticaram terríveis interrogatórios e torturas, foi transformado em condomínio de luxo.

A placa foi retirada na primeira década do novo século, vindo a ser reposta em 2009 mas voltou a desaparecer em 2014 e agora, no passado dia 3 de Abril foi novamente recolocada. Desta vez surge acompanhada de um QRcode que remete para o site do Museu do Aljube onde estão disponíveis informações sobre cada uma das quatro vítimas mortais deste trágico acontecimento:  Fernando C. Giesteira, José J. Barneto, Fernando Barreiros dos Reis e João Guilherme R. Arruda.

Esta iniciativa, com o apoio da CML – Câmara Municipal de Lisboa, deve-se a um grupo de cidadãos preocupados e conscientes, entre eles a Associação Movimento Cívico Não Apaguem a Memória – NAM, porque sem memória não há futuro” .



Homenagem ao Capitão Salgueiro Maia no Largo do Carmo

Homenagem ao Capitão Salgueiro Maia, Largo do Carmo

Talvez nunca tenha reparado mas em pleno Largo do Carmo existe no chão um marco que perpetua o local exacto onde o chaimite que disparou, após vários avisos, contra o quartel da GNR esteve estacionado. Até há poucos anos as marcas dos disparos continuavam presentes na fachada do quartel mas, infelizmente, durante uma campanha de obras decidiu-se pelo seu desaparecimento. Desse facto resta um livro onde ficou alojada uma bala, hoje em exposição no Museu da GNR.

Esta homenagem partiu da iniciativa da CML alguns meses após a morte precoce do capitão de Abril a 3 de Abril de 1992.

Trata-se de uma composição circular em pedra mármore onde se pode ler: A SALGUEIRO MAIA / LEMBRANDO O / 25 DE ABRIL DE 1974 / HOMENAGEM DA / CIDADE DE LISBOA / CML 1992.

Monumento ao 25 de Abril de João Cutileiro

Monumento ao 25 de Abril de João Cutileiro, Parque Eduardo VII

Em 1997 foi inaugurado o monumento ao 25 de Abril, encomenda da CML ao consagrado escultor João Cutileiro (1937-2021).

Situado no topo do Parque Eduardo VII, entre as colossais colunas modernistas dos anos 50 de Keil do Amaral (1910-1975), ergue-se como que irrompendo do subsolo, provocando a derrocada dos elementos pré-existentes que simbolizam o Estado Novo.

90 toneladas de mármore implantadas num lago pouco profundo, compõem um conjunto escultórico que concilia um único elemento figurativo, um cravo composto por um caule em mármore verde de Viana e a flor em mármore vermelho de Negrais, com um obelisco de forma marcadamente fálica com 6 metros de altura que jorra água e duas colunas que remetem para os canos das espingardas dos militares envolvidos na viril, vigorosa e triunfante Revolução.

Uma composição irreverente e simbólica que até hoje não reúne consensos.

Movimento dos Capitães de Abril

Placa Evocativa ao Movimento dos Capitães de Abril, Olivais

Na Rua Sargento José Paulo dos Santos, em frente ao nº 43, encontra-se uma placa evocativa do local onde se reuniu, clandestinamente, o Movimento dos Capitães de Abril, no dia 5 de Fevereiro de 1974.

Implantada desde 1999 aquando das comemorações do 25º aniversário da Revolução, deve a sua existência à iniciativa da Associação 25 de Abril.

Da autoria do escultor Francisco Simões (1946), encontramos representados quatro militares e um cravo, composição à qual se associa o logotipo do Movimento das Forças Armadas MFA. Na inscrição podemos ler: “NESTE LOCAL, EM 5 DE FEVEREIRO DE 1974 / REUNIU-SE CLANDESTINAMENTE / O MOVIMENTO DOS CAPITÃES PARA DISCUTIREM / O PROGRAMA POLÍTICO A APRESENTAR AOS / PORTUGUESES / EM 25 DE ABRIL DE 1974 / HOMENAGEM DA CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA / 5 DE FEVEREIRO DE 1999”. Após a inscrição observa-se uma pomba branca que remete para a simbologia da paz, aludindo, certamente, ao facto da revolução ter tido lugar sem derramamento de sangue por parte das forças revolucionárias.

Mural de Homenagem ao Capitão Salgueiro Maia

Mural de Homenagem ao Capitão Salgueiro Maia, Av. Berna

O incontornável painel da Av. Berna dedicado ao capitão Salgueiro Maia (1944-1992) não podia faltar neste Marcos do 25 de Abril de 1974 em Lisboa, apesar de já ter sido por nós falado no artigo Personalidades Homenageadas em Arte Urbana de Lisboa.

Localizado no muro da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa apresenta hoje uma nova versão que veio substituir a primeira, de 2014, que já se encontrava deteriorada.

Realizada pela plataforma Underdogs contou com um colectivo de quatro artistas: Tamara Alves, Sara Fonseca da Graça aka Petra Preta, MOAMI e Mariana Malhão.

Jardim dos Cravos

Jardim dos Cravos, Bairro das Estacas

No Jardim Ruy Jervis d’Athouguia, localizado na Rua Teixeira de Pascoais, no chamado Bairro das Estacas, próximo da Avenida de Roma, pode ser observada uma intervenção artística colectiva que tem como mote o Dia da Liberdade.

Esta iniciativa, promovida pela Junta de Freguesia de Alvalade, foi realizada em 2017 por alunos da licenciatura em Artes Visuais da Universidade Lusófona com coordenação da professora Inês Marques. Consiste no revestimento de elementos de betão pré-existentes com azulejos que ilustram 24 cravos diferentes que se repetem em diferentes composições. Por este motivo, o jardim foi rebaptizado Jardim dos Cravos.

Memorial de Homenagem aos Militares de Abril

Memorial de Homenagem aos Militares de Abril, Campo Mártires da Pátria

No Campo Mártires da Pátria, junto ao Campo de Basquetebol do Jardim Braamcamp Freire, encontra-se uma escultura que representa um enorme cravo vermelho. Um belo cravo sempre vivo, assim como se anseia permaneça o espírito de Abril em cada um dos portugueses.

Esta intervenção do escultor Rui Pereira (1975) constitui uma homenagem aos Militares de Abril e encontra-se neste local desde 2017. 

Do mesmo artista e no mesmo ano, foi inaugurado no Jardim do Príncipe Real o Memorial das Vítimas da Violência Homofóbica e Transfóbica em Portugal, de que já lhe falámos.

Roteiro Lugares de Abril

Uma das 25 placas do Roteiro Lugares de Abril, Rua António Maria Cardoso

Desde as comemorações dos 45 anos do 25 de Abril de 1974 que têm sido instaladas em Lisboa, placas que assinalam lugares onde ocorreram episódios importantes no dia da Revolução. As placas encerram uma pequena descrição dos acontecimentos e um QRcode que remete para informações mais detalhadas.

São 25 placas, as últimas cinco colocadas em Março de 2024, que resultam de uma parceria entre a Associação 25 de Abril e a CML.

O Terreiro do Paço; a Rua do Arsenal; a Ribeira das Naus; o Largo do Carmo e a então sede da PIDE/DGS, na Rua António Maria Cardoso, são alguns dos locais assinalados. Saiba tudo na página da Associação 25 de Abril.

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Para o Futuro

Cumprir – Mural Colectivo de Azulejos 

Em breve encontrará junto às Estações do Rossio em Lisboa e à de Campanhã no Porto, murais colectivos de azulejos que resultam de uma iniciativa do Partido Comunista Português que os oferece às referidas cidades.

Estes trabalhos, cuja concepção artística se deve a Miguel Januário, têm como mote “Cumprir”, cumprir Abril através dos seus valores, das suas conquistas, desde logo na aplicação da Constituição da República Portuguesa que emana da Revolução.

Os trabalhos foram realizados em oficinas abertas durante a Festa do Avante e, posteriormente, em ateliers livres que decorreram nas duas cidades.

Tendo como suporte os azulejos, elemento decorativo fundamental do património português, pretende-se afirmar a liberdade, a democracia e o progresso conquistado e construído com a Revolução de 25 Abril de 1974.

Centro Interpretativo do 25 de Abril

A 12 de Janeiro do corrente ano, foi assinado um protocolo que envolve o Estado português, a CML, a Associação de Turismo de Lisboa e a Associação 25 de Abril que visa a criação de um Centro Interpretativo do Dia da Liberdade, localizado na Praça do Comércio e com abertura prevista para 2026.

A programação deste espaço estará a cargo da Associação 25 de Abril que através da exposição e divulgação do seu acervo e do desenvolvimento de projectos educativos e pedagógicos destinados aos mais jovens, visa perpetuar as memórias desse dia histórico e libertador.

Participe nas muitas actividades integradas nas comemorações dos 50 anos da Revolução e visite estes marcos do 25 de Abril de 1974 em Lisboa que lhe propomos.


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