Actualizado em 20/09/2024
Artigo original publicado em 01/05/2019
A realização do Festival Internacional da Máscara Ibérica em Lisboa regressa à cidade após ter sido interrompido em 2020 aquando da pandemia.
Nesta nova edição volta ao seu lugar original percorrendo a Baixa Pombalina, o que em nosso entender lhe devolve um maior impacto, dada à configuração das ruas estreitas que conferem ao público grande proximidade com o desfile. Desta feita também o calendário sofreu alterações, transitando o evento de Maio para Setembro, integrando assim o programa das Festas na Rua.
Em Maio de 2019, altura em que este artigo foi publicado pela primeira vez, a edição do Festival teve lugar na Praça do Império, em Belém. Aqui falamos-lhe não só deste evento, mas essencialmente das máscaras enquanto património libertador e o seu papel ao longo da história.
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O Festival Internacional da Máscara Ibérica em Lisboa
Este festival, realizado desde 2006, começou por reunir grupos de mascarados portugueses e espanhóis, integrando posteriormente outros participantes.
Trata-se de um grandioso evento que reúne durante dias vários aspectos da cultura popular, unidos em torno dos ancestrais rituais ligados ao uso de máscaras: uma explosão de cor, arte popular, música, de grande riqueza histórica e cultural.
O momento alto são sem dúvida os desfiles onde grupos de mascarados ibéricos, e também convidados de outras origens, interagem com o público, criando momentos de diversão.
Merece igualmente destaque uma programação paralela que visa envolver a participação do público, como: espectáculos de música, seminários…
Mas antes de ir ao encontro dos chocalheiros, caretos e cabeçudos no Festival Internacional da Máscara Ibérica em Lisboa, saiba o que recolhemos para si sobre o uso das máscaras.
Máscaras, Um Património Cultural Libertador
A máscara tem a finalidade de fingir ou imitar uma imagem diversa da do indivíduo que a usa, permitindo-lhe maior liberdade de sátira ou de caricatura; remete ao simbólico, enigmático, secreto e iniciático.
É ainda um objecto criativo de arte artesanal, capaz de ritualizar estados de alma. São fixadas expressões de alegria, choro ou terror, com cores que reforçam as sensações de júbilo, luto ou loucura.
Usadas desde tempos ancestrais têm vindo a ser reinventadas, sendo uma tradição que importa preservar como património cultural que reflecte todas as possibilidades do sentir humano.
Os mascarados assumem aspectos antagónicos: sagrado e profano; cristão e pagão, ordem e caos…
As tradições dos mascarados, ligados ao Entrudo ou a outros períodos festivos, encerram um ritual que permite a ligação e comunicação com o sobrenatural, mas também um sentido prático de ajuste de contas entre elementos de uma comunidade. Esta prática resolve conflitos e reforça laços.
O acto de se mascarar confere ao indivíduo uma capacidade superior, transcendente, profética. Por um lado, o mascarado espalha a desordem e o caos, abusando da sua liberdade e impunidade e por outro, regula e impõe normas ao criticar actos reprováveis de membros da sociedade, impondo respeito e moral.
Na verdade acaba por constituir uma espécie de moralizador de uma comunidade.
As Máscaras na História
Na comédia grega as máscaras eram usadas como adereço. Tinham como objectivo a evidente transformação de identidade e também a capacidade de servir de caixa-de-ressonância, uma forma de amplificar o som da voz nos grandes auditórios ao ar livre onde decorriam os espectáculos.
As máscaras protegiam ainda as desvairadas liberdades levadas a cabo em festas de louvor a Saturno na antiga Roma, que marcavam o fim do Inverno e o início do ciclo de renovação da natureza.
As figuras mascaradas permaneceram nas festas e no teatro medieval em representações onde se recitavam as tradicionais Cantigas de Escárnio e Maldizer que visavam satirizar, motivar o riso e em última instância moralizar.
Durante o Antigo Regime, apesar de em determinados períodos serem proibidas entre os populares, as máscaras eram usadas em festas palacianas, onde se aproveitava o anonimato para romper as regras sociais vigentes.
O uso simbólico das máscaras ligadas a rituais de comunidades rurais profundamente religiosas e simultaneamente supersticiosas foi fortemente censurado ao longo dos tempos, pois o seu comportamento comprometia os poderes instituídos, fossem políticos ou religiosos.
Em Portugal, apesar das vicissitudes do séc. XX marcadas pela proibição por parte da Igreja e do Estado Novo e pela dispersão destas comunidades provocadas pelo êxodo rural e a emigração, as festas de mascarados resistiram e foram até dinamizadas após a revolução do 25 de Abril.
O homem mascarado fica imbuído de um poder que provoca, satiriza, agride, infringe as regras, inverte valores. A máscara confere-lhe sacralidade mas também impunidade. Quanto mais reprimida for a comunidade, mais violentos se tornam os mascarados.
Assim sendo e fruto dos tempos tem-se vindo a assistir a um gradual acalmar dos mascarados. Hoje os grupos que se reúnem procuram acima de tudo divertir-se e não deixar morrer a tradição. O espectáculo supera o ritual.
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