Artigo original publicado em 26/01/2018
Ao darmos a conhecer aos nossos leitores um pouco da história de Lisboa, pensamos contribuir para uma melhor compreensão da sua cultura e das suas gentes.
Esta cidade de grande vitalidade e multiculturalismo, apesar de todas as adversidades no decurso dos tempos, soube sempre renascer das cinzas mantendo as suas particularidades e tradições.
Nos Primórdios
Começamos com a curiosa informação que a geologia nos mostra. Sabia que a região de Lisboa atravessou um período de clima tropical em que se desenvolveu um recife rico em vida marinha? Com a alteração do clima e a passagem de milhões de anos, acabaram por ser testemunhos deste facto, o lioz e os mármores. Com eles cruzamo-nos constantemente, e sem sequer, reparamos nas marcas de vida neles impressos. E foi com estes testemunhos da simples pedra da calçada à cantaria esculpida das edificações que a cidade se construiu, ao longo dos tempos.
Apesar de a lenda atribuir a fundação da cidade a Ulisses (o famoso herói grego), a história remete-nos para a forte influência mediterrânica de origem fenícia e cartaginesa. Foram estes povos que, nesta enseada amena, Alis Ubbo, instalaram uma feitoria, Olissippo, onde promoviam as trocas comerciais entre o Mediterrâneo e o norte da Europa.
Colonizada mais tarde por romanos, Olissipo foi incluída com plenos direitos no seu vasto império. Construíram templos, termas, teatro e a sua primeira muralha. Paralelamente, o cristianismo expandiu-se e surgiram em Lisboa inúmeros mártires, ainda hoje presentes na toponímia da cidade.
No séc. V foi invadida por aguerridos povos germânicos, dando início a um período negro de guerras, fome e pilhagens que só teria fim com a ocupação árabe, dois séculos mais tarde. O povo de Lisboa não ofereceu resistência à invasão desta nova cultura que se deixou encantar pelas terras férteis, os vastos pomares e as águas termais. Souberam reconhecer as grandes qualidades da região e desenvolver o seu potencial económico, devolvendo a grandeza que a cidade já conhecera.
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Depois da Reconquista Cristã, a Conquista do Mundo
A ocupação árabe só terminou em 1147, com a reconquista cristã, efectivada por D. Afonso Henriques, aquando do Cerco de Lisboa. Como consequência, a cidade sofreu profundas transformações, mas a marca dos seus ocupantes de muitos séculos será sempre uma herança profundamente presente.
Mais tarde, a privilegiada localização geográfica de Lisboa que a liga ao Mundo pelo Oceano Atlântico, contribuiu para os seus momentos de glória. Muitos foram os motivos que encorajaram o povo português, intrinsecamente ligado ao mar, audacioso e aventureiro a navegar pelos caminhos marítimos e a conquistar o mundo. Esta expansão culminou no reinado de D. Manuel I, num tempo de opulência e dinamismo. Lisboa estava na sua plena época áurea, onde se cruzavam gentes de diversas origens, produtos raros e animais exóticos.
Declínio e Novo Apogeu
Paradoxalmente, esta época foi também o princípio de um período de crise na história de Lisboa. Foi o tempo da conversão forçada dos judeus em cristãos-novos, do massacre de Lisboa e do pedido Real de intervenção do Santo Ofício que se veio a efectivar no reinado seguinte com D. João III.
Com a subida ao trono de D. Sebastião, em 1568, sucederam-se os autos de fé e iniciou-se um novo período de peste, fomes e sucessivos tremores de terra. Lisboa vivia em constante sobressalto e acreditava que estava perante o castigo divino, provocado pela crise de valores morais. Simultaneamente, sucessivas perdas de Praças em Marrocos levaram o jovem rei a organizar uma expedição a fim de as reconquistar. O desfecho foi desastroso, culminou numa perda de independência que remeteu o reino para a periferia, para a convulsão e para a guerra.
Portugal e Lisboa em particular, só virá a viver um novo apogeu no reinado de D. João V (1689-1750) com a exploração dos recursos do ouro do Brasil. Nesse período Lisboa foi alvo de inúmeros melhoramentos no seu edificado e foram erguidas grandiosas construções na cidade e nos seus arredores, dando origem a escolas de escultores e arquitectos.
Infelizmente, muito deste edificado sucumbirá em 1 de Novembro de 1755, com o violento terramoto e o tsunami e incêndios dele decorrentes.
Lisboa Renascida das Cinzas
Com o Marquês de Pombal (ministro de D. José) e o Iluminismo, Lisboa renascerá das cinzas. Surgirá, então, a cidade moderna projectada para o futuro que hoje conhecemos como centro histórico.
O início do séc. XIX revelar-se-ia uma nova época conturbada na história de Lisboa, marcado por guerras civis e uma tímida revolução industrial. A implementação de um regime liberal, com a consequente reestruturação na organização sociopolítica do Estado, nomeadamente a extinção das Ordens Religiosas e a incorporação dos bens da Igreja, da Família Real e da Coroa na Fazenda Pública, teriam consequências determinantes no destino do panorama cultural e patrimonial português.
Mais tarde a prolífera produção artística da geração de 70, particularmente ao nível da literatura e artes plásticas, deixou em Lisboa o seu testemunho. Nos cafés e livrarias, muitas ainda hoje existentes, decorriam animadas tertúlias intelectuais e a cidade em geral serviu de cenário de incontornáveis obras deste período.
Na primeira década do séc. XX Lisboa foi, mais uma vez, palco de acontecimentos relevantes. Em 1908 o terror do regicídio, que ocorreu no Terreiro do Paço, deu lugar dois anos depois, ali mesmo ao lado na varanda da Câmara Municipal, à Implantação da República. Esta, ideologicamente bem acolhida, revelou-se conturbada e curta.
Mas o que marcaria o séc. XX seria o longo período de 48 anos de ditadura que resultou de um golpe militar em 1926. Apesar de algum aparente desenvolvimento no que respeita às infra-estruturas e a um Modernismo controlado, as principais heranças deste regime foram uma prolongada guerra colonial e um atraso cultural e económico, só quebrado pela revolução de 25 de Abril de 1974.
Quarenta anos após a implantação do regime democrático encontramos uma Lisboa aberta ao mundo.
Misto de tradição e modernidade a população de Lisboa acolhe o visitante com simpatia e orgulho.
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