Portal principal do Palácio Palmela cuja moldura escultórica, coroada com o brasão dos Palmela, é ladeada por duas hermas que representam: à esquerda a Força Moral e à direita o Trabalho.

Palácio Palmela, Morada da Procuradoria-Geral da República

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O Palácio Palmela é hoje ocupado pela Procuradoria-Geral da República, órgão superior do Ministério Público. Este é um imóvel incontornável, cheio de história, que marca a chamada Sétima Colina e que está classificado, desde 2006, como sendo de interesse público.

Neste artigo vamos dar-lhe a conhecer o seu património, reflexo do mais requintado gosto da Lisboa da segunda metade do séc. XIX.

Da Primeira Construção ao Palácio Palmela

Palácio Palmela, vistas do Largo do Rato e da Mãe D’Água com destaque para o jardim com a sua casa de fresco sobranceira ao Largo do Rato
Palácio Palmela, vistas do Largo do Rato e da Mãe D’Água

A construção do Palácio Palmela nasceu de uma feliz conjugação de disponibilidades: a cedência por parte da coroa de um terreno anexo ao Chafariz do Rato, que fornecia água à propriedade, e materiais de construção de muito boa qualidade que haviam sobrado da recente edificação da vizinha Basílica da Estrela.

O contemplado foi o Arquitecto da Coroa e Obras Públicas, Manuel Caetano de Sousa (1738-1802), responsável pela edificação de projectos tão marcantes como a citada Basílica ou o Palácio da Ajuda.

É neste contexto favorável que o arquitecto vai construir a sua casa entre 1792 e 1794, uma boa casa mas ainda não exactamente um palácio.

Menos feliz foi o destino do seu filho e herdeiro, o também arquitecto Francisco António de Sousa, que será condenado ao degredo por envolvimento em questões políticas. A propriedade é então expropriada passando para as mãos do Estado e em 1822 é levada a leilão e arrematada pelo futuro 1º Conde da Póvoa, Henrique Teixeira de Sampaio (1774-1833).

Durante os dois anos seguintes o edifício sofrerá obras de transformação e acrescentos como a escadaria nobre e a capela que transformarão esta casa num palácio. Assim, sob a orientação do arquitecto italiano Luigi Chiari, o edifício ganhará um novo semblante, em muito idêntico ao que conhecemos hoje.

Palácio Palmela entre 1886, ano da colocação do brasão dos Palmela,  e 1902 quando foram introduzidas as hermas que ladeiam o portal.
Palácio dos Duques de Palmela, (entre 1886, ano da colocação do brasão dos Palmela, e 1902, quando foram introduzidas as hermas que ladeiam o portal), Arquivo Municipal de Lisboa, autor não identificado, PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/LSM/000388

Com o correr do tempo, por herança, o palácio vem a pertencer, a partir de meados do séc. XIX, aos Duques de Palmela e é nessa posse que ganhará novas intervenções de obras e uma dinâmica à qual não é alheia a personalidade de Maria Luísa de Sousa Holstein.

A 3ª Duquesa de Palmela, Maria Luísa de Sousa Holstein

3ª Duquesa de Palmela, Maria Luísa de Sousa Holstein, no Atelier de Pintura
Maria Luísa de Sousa Holstein, 3ª duquesa de Palmela no seu atelier de pintura, [19–], Arquivo Municipal de Lisboa, Paulo Guedes (1886-1947), PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/PAG/000753

Personalidade incontornável no panorama das artes e da sociedade da 2ª metade do séc. XIX, a Duquesa, como era vulgarmente conhecida, foi uma mulher fora do seu tempo. 

Aristocrata ligada de forma privilegiada à família real, afilhada de casamento da rainha Maria Pia e do rei D. Luís, foi depois camareira-mor da rainha D. Amélia.

De espírito benemérito e detentora de uma imensa fortuna, criou  em conjunto com Maria Isabel de Lemos Saint-Léger, marquesa de Rio Maior, a Sociedade de Promoção de Cozinhas Económicas, instituição que procurou fazer face às profundas carências alimentares da população mais necessitada da cidade de Lisboa.

Não menos importante foi o seu papel como generosa mecenas das artes, através da aquisição de obras de artistas, apoio monetário, atribuição de bolsas e cedência do seu atelier a artistas deslocados.

Ela própria uma artista, escultora de renome premiada em Paris, possuía no Palácio Palmela dois ateliers um de pintura e outro de escultura.

A duquesa teve como seu mestre de escultura o francês Anatole Celestin Calmels (1822-1906), autor do conjunto escultórico do frontão dos Paços do Concelho e do programa iconográfico do Arco do Triunfo da Praça do Comércio. Foi este escultor o responsável pela renovação decorativa do Palácio Palmela, que refrescou e enriqueceu, mas com respeito pelo legado neo-clássico da primeira intervenção.

Também muito ligado à família real, teve com os duques uma relação tão próxima que hoje repousa no jazigo dos Palmela, o maior mausoléu privado da Europa, situado num dos cemitérios históricos de Lisboa, o Cemitério dos Prazeres e em cuja capela se podem observar impressionantes trabalhos escultóricos.



O Magnífico Interior do Palácio Palmela

Escadaria nobre do Palácio Palmela
Escadaria nobre do Palácio Palmela

No nº140 da Rua da Escola Politécnica, mesmo a chegar ao Largo do Rato, encontramos este edifício de carácter austero, cuja fachada imponente mas sóbria, não deixa adivinhar a exuberância decorativa do seu interior.

A marca mais distintiva do exterior do edifício reside no seu portal principal cuja moldura escultórica, coroada com o brasão dos Palmela, é ladeada por duas hermas que representam: à esquerda a Força Moral e à direita o Trabalho. 

Através de duas imponentes portas de carvalho, que ostentam magníficas ferragens, temos acesso ao seu interior.

O vestíbulo apresenta um magnífico pavimento em três cores de mármore, cujos elementos formam um padrão geométrico que simula tridimensionalidade. Ali encontramos duas impressionantes esculturas de mármore branco, encomendadas pela duquesa num período particularmente difícil da sua vida, decorrente do falecimento de um filho em tenra idade.

Trata-se de duas alegorias, do lado esquerdo a Dor, tal como as hermas da autoria de Calmels, e do lado direito, datada de 1892, a Maternidade, do escultor francês Eugéne Guillaume (1822-1905) e cuja modelo foi a própria duquesa.

A escadaria que dá acesso ao andar nobre impressiona, mais uma vez, pela utilização dos mármores coloridos aplicados nos pavimentos e nas elegantes colunas torsas e pelas belas guardas em ferro fundido.

Ao longo das paredes nichos, hoje vazios, permitem-nos imaginar a riqueza de outrora quando eram habitados por esculturas da autoria da dona da casa e de outros artistas.

“Dor” de Calmels  e a “Maternidade” de Guillaume; aspecto da escadaria nobre
“Dor” de Calmels e a “Maternidade” de Guillaume; aspecto da escadaria nobre

Ao visitar o Palácio Palmela não conseguirá tirar os olhos dos magníficos tectos. Prepare-se para apreciar as pinturas e elementos decorativos de gosto neo-clássico dos tectos e paredes, onde efeitos trompe-l’oeil, chinoiserie e azulejos convivem de forma harmoniosa num ecletismo próprio do romantismo do séc. XIX.

Merecem ainda destaque o jardim com a sua casa de fresco sobranceira ao Largo do Rato, o pavilhão de escultura hoje transformado num espaço multiusos, e dois curiosos pequenos pavilhões, antiga Casa da Manteiga e Pombal, edificados à imagem de construções presentes nos jardins do Chalet da Condessa d’Edla em Sintra.

Pavilhão de escultura e antiga Casa da Manteiga e Pombal
Pavilhão de escultura e antiga Casa da Manteiga e Pombal

Abandono e Recuperação

O Palácio Palmela será habitado pelos descendentes da família até 1977 quando o Ministério da Justiça adquire o imóvel com a pretensão de dar morada à Procuradoria-Geral da República.

O projecto contudo ficará suspenso alguns anos durante os quais o edifício será ocupado por famílias retornadas das ex-colónias.

Na fatídica noite de 22 de Abril de 1981, em vésperas da esperada inauguração da Procuradoria, quando finalmente a recuperação do palácio se encontrava praticamente concluída, deflagrou um incêndio que destruiu por completo a capela do palácio.

Tratava-se de um exemplar neo-barroco admirável, de nave única com tecto em abóbada, rica em pintura e talha dourada, da qual restam apenas algumas fotografias.

Capela do Palácio Palmela, vistas do Altar-Mor e do Órgão
Capela do Palácio Palmela, vistas do Altar-Mor e do Órgão. Imagens gentilmente cedidas pela Procuradoria-Geral da República

A Procuradoria apenas viria a ganhar esta morada em 1982. No espaço da capela encontra-se hoje a galeria de retratos dos procuradores.

Desde então tem sido feito um grande esforço no sentido da preservação desta magnífica casa, tendo decorrido uma importante campanha de restauro realizada pelas oficinas da Fundação Ricardo Espírito Santo e Silva, em 2007.

A Procuradoria-Geral da República abre as portas a quem a queira conhecer através de visitas guiadas para grupos, previamente agendadas.


Aproveite e conheça este espaço emblemático, outrora palácio de nobres, hoje casa dos cidadãos da República, onde todos os visitantes são bem-vindos!


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