Hoje é possível através de passeios em barcos tradicionais do estuário do Tejo reavivar a memória das muitas embarcações de diversas tipologias que navegavam ao longo do rio e entre as suas margens. Estas exerciam diferentes labores da pesca e desempenhavam funções fulcrais de transporte de passageiros, matérias-primas e mercadorias.
Uma visão geral sobre a sua evolução, a indústria artesanal naval a elas associadas e o seu declínio na década 60, com o surgimento de novos meios de transporte e vias de comunicação, como a nova Ponte Sobre o Tejo em 1966, pode ser lida no artigo Breve História das Embarcações do Estuário do Tejo da autoria do coleccionador Luís Bayó Veiga.
Nos últimos anos assistimos ao significativo esforço dos municípios da zona do estuário do Tejo na recuperação dos barcos típicos, com destaque para o trabalho desenvolvido pelo Núcleo Naval do Ecomuseu Municipal do Seixal, a fim de manter vivos o património, a história e a cultura ligados ao meio fluvial destes territórios.
Proporcionar actividades lúdicas, culturais e educativas às populações e visitantes através de passeios em barcos tradicionais é uma das formas de os municípios divulgarem esta rica herança do passado.
Antes de embarcarmos, chamamos a atenção para a riqueza das coloridas pinturas decorativas que cada um apresenta, resultado do gosto e criatividade dos pintores dos diferentes estaleiros de construção naval que existiam.
Passeios em Barcos Tradicionais
Encontramos vários barcos de diferentes tipologias: varino, bote, bote de fragata e muleta que efectuam percursos a partir de diversas localidades ribeirinhas. Estes são organizados e realizados pelos municípios ou por operadores turísticos que também possibilitam programas especiais para grupos privados.
Os circuitos são muito variados, permitindo observar paisagens diversificadas, como os mouchões e a reserva natural com as suas faunas e floras, as vistas urbanas das duas margens e ainda o avistamento de locais e monumentos emblemáticos de Lisboa, como a Praça do Comércio com o seu Arco do Triunfo.
Iniciamos com os passeios em barcos tradicionais disponíveis na margem norte, primeiro no concelho mais a montante, Vila Franca de Xira e em seguida na cidade de Lisboa, navegando depois para a margem sul, Alcochete, Moita, Barreiro e Seixal.
Vila Franca de Xira
A história do varino “Liberdade” iniciou-se em 1945, em Abrantes, local onde foi construído e baptizado com o nome “Campino”.
A sua função inicial de transporte de mercadoria no rio Tejo sofreu alterações. Nos anos 60 levava cargas de lixo de Lisboa para a margem sul, acabando mais tarde por navegar no rio Sado para carregamento de sal.
Com o declínio dos meios de transportes fluviais, esta embarcação, entretanto, renomeada “Rio Zuari” teve de ser afundada até que a Câmara Municipal de Vila Franca de Xira a recuperou e a rebaptizou “Liberdade” no dia 25 de Abril de 1988, integrando desde então o Núcleo Museológico deste município.
A beleza deste varino pode ser apreciada virtual ou presencialmente através de viagens organizadas entre Março e Novembro, sendo os restantes meses destinados à sua manutenção e recuperação das pinturas ornamentais.
São vários os percursos, explorando locais diferentes: Volta aos Mouchões, Vala Real da Azambuja, Conchoso, Parque das Nações…
Toda a informação pode ser consultada no website da Câmara Municipal.
Lisboa
Em Lisboa, é possível fazer passeios em barcos tradicionais efectuados pelo operador turístico Nosso Tejo.
Esta empresa possui duas embarcações típicas, o bote de fragata “Seja Feliz” construído em 1947 e o varino “Sou do Tejo” de finais do séc. XIX.
Apresenta propostas diversas, de duração mais prolongada ou versão express e ainda a possibilidade de assistir ao fabuloso pôr do sol com um sunset cruise, avistando monumentos e locais representativos de ambas as margens, como a Torre de Belém, o Cristo Rei ou Cacilhas com o seu emblemático farol.
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Alcochete
Em Alcochete podemos navegar a bordo do bote “Leão” que realiza desde 2016 circuitos até Lisboa e à Reserva Natural do Estuário do Tejo.
Esta embarcação, propriedade da Câmara Municipal, foi totalmente construída de raiz de acordo com as técnicas utilizadas nas antigas embarcações do Tejo em memória e à semelhança do bote homónimo que fez a ligação entre a vila de Alcochete e a capital, dos finais do séc. XIX até aos anos 60 do séc. XX.
O bote “Leão” também é visitável de modo virtual, permitindo-nos conhecê-lo de uma forma lúdica e observar alguns dos seus pormenores, nomeadamente as pinturas decorativas.
Para informações detalhadas consulte a página do município.
Moita
No Cais da Moita, de onde partem as várias rotas de passeios em barcos tradicionais promovidos pela Câmara Municipal, encontramos outras pequenas embarcações típicas, todas coloridas e bem conservadas o que é, sem dúvida, um cenário animador para a memória e preservação das mesmas.
No passeio marítimo, suportes informativos disponibilizam breve história sobre as embarcações e a relevância deste Cais que em 2023 comemorou os seus 300 anos de existência.
Sobre o passado do varino “O Boa Viagem” pouco se sabe, apenas que em 1900 estava registado como “Marechal Saldanha” e em 1907 com a mudança de proprietário o seu nome foi alterado, para “Albano I”.
Em 1980 a Câmara Municipal da Moita adquiriu-o e promoveu a sua recuperação segundo as técnicas tradicionais pela mão do Mestre José Lopes, no estaleiro naval do Gaio.
No ano seguinte, na altura das festas da vila, o varino foi dado a conhecer à população, tendo recebido o nome que evoca a tradição religiosa local, em honra de Nossa Senhora da Boa Viagem.
As rotas de passeios em barcos tradicionais apresentadas pelo município, incluem inciativas tão distintas como: programa especial para escolas; observação de pássaros; sunset a bordo; possibilidade de incluir almoço típico; entre outras.
Toda a informação sobre esta rica e variada programação de Maio a Outubro, pode ser obtida no site da Câmara.
Barreiro
A tradição de actividades marítimas foi igualmente muito marcante na história deste Concelho. Uma das embarcações típicas usadas para o labor da pesca era a muleta de características únicas que nos remetem para origens do Mediterrâneo Oriental.
A Câmara Municipal do Barreiro é proprietária da muleta “Álvaro Velho”, construída de raiz no estaleiro de construções e reparações navais do Mestre Jaime Ferreira da Costa. Desde 2022 faz viagens no Tejo organizadas pelo próprio município ou pelo operador turístico que detém a concessão da mesma.
O contacto do Posto de Turismo encontra-se na página do município, onde também pode ser lida uma descrição mais detalhada sobre a tipologia da muleta.
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Seixal
A Câmara Municipal do Seixal possui duas embarcações tradicionais, o bote de fragata “Baía do Seixal” e o varino “Amoroso”.
A primeira é mais antiga, com informação conhecida a remeter a sua construção para 1895 e a segunda foi construída em 1921; ambas encontram-se ao serviço do município para a realização de atividades marítimas de natureza cultural e histórica.
O percurso que oferecem tem como objectivo dar a conhecer o património do município, avistando do rio pontos relevantes como: a Praia da Ponta dos Corvos; o Moinho de Maré de Corroios; quintas senhoriais; o Núcleo Naval; o estaleiro da Quinta da Fidalga; entre outros.
Para obter informação mais detalhada consulte o site da Câmara Municipal do Seixal.
Com esta última sugestão chegámos ao fim da nossa rota marítima pelo estuário do Tejo. Embarque num dos muitos passeios em barcos tradicionais para desfrutar de vistas e paisagens únicas, e imagine o vibrante movimento e as cores que outrora animavam o rio.
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