Capela de Santo Amaro em Lisboa

Capela de Santo Amaro em Lisboa: Uma Jóia da Arquitectura Quinhentista

Artigo original publicado em 20/02/2019

Vamos descobrir a Capela de Santo Amaro em Lisboa, uma jóia da arquitectura do séc. XVI, de planta circular com a sua galilé totalmente revestida de magníficos azulejos policromados!

Localizada no Bairro de Santo Amaro, na freguesia de Alcântara, na zona Ocidental de Lisboa, classificada como monumento nacional desde 1910, esta capela é, sem dúvida, um dos mais antigos e peculiares edifícios de Lisboa.

Sugerimos que se dirija à Rua 1º de Maio, junto ao Museu da Carris e suba a escadaria que começa logo no início da Calçada de Santo Amaro, tal como os peregrinos que outrora ali se dirigiam em tempo de festa e romaria.

Ao atingir o topo poderá descansar admirando a magnífica paisagem que dali se avista e depois visitar tranquilamente o pequeno mas rico templo.

Primeiro vamos saber que Santo é este e como começou e se vivenciou o seu culto neste local.

Santo Amaro ou São Mauro

Braços e pernas esculpidos em madeira e em pedra, pintados em azulejos ou forjados em ferro, são a iconografia do santo que estão presentes em todos os elementos decorativos da capela.
Painel de azulejos policromados com a iconografia de Santo Amaro

Santo Amaro foi um monge beneditino, educado desde tenra idade pelo próprio São Bento que muito apreciava o seu carácter virtuoso dado ao sacrifício e à santidade.

Foi por isso encarregue de fundar a abadia de Glanfeuil, primeiro mosteiro beneditino em França, da qual foi abade 38 anos e onde veio a falecer a 15 de Janeiro de 584.

A sua dedicação aos mais fracos e desafortunados assim como o relato de inúmeros milagres tornaram-se famosos e as suas capacidades curativas, relacionadas sobretudo com os membros, levaram a que braços e pernas se tornassem os seus atributos.

Esculpidos em madeira e em pedra, pintados em azulejos ou forjados em ferro a iconografia do santo está presente em todos os elementos decorativos da capela.

Origens e Vivências da Capela de Santo Amaro em Lisboa

As Lendas

As portas de madeira apresentam curiosos relevos que remetem para a lenda da origem da capela e para os atributos do santo.
Relevo na porta da Capela de Santo Amaro

Sobre a origem da capela existem duas versões.

A primeira refere que uns mareantes galegos perdidos no mar prometeram a Santo Amaro a construção de uma capela onde ancorassem em sítio seguro. Assim terá acontecido no local onde se inicia o escadório que dá acesso à capela no cimo de uma colina sobranceira ao rio.

Outra versão sustenta que 14 frades da Ordem de Cristo de regresso de uma peregrinação a São João de Latrão em Roma teriam decidido iniciar uma vida religiosa mística num local ermo. Para isso instituíram uma confraria e edificaram a Capela de Santo Amaro em Lisboa com a autorização do monarca D. João III.

Seja qual for a verdade, o certo é o que nos é relatado numa inscrição sobre a porta do templo onde ainda hoje se pode ler: “ COMEÇOUSE A EDIFICAR ESTA ERMIDA DE SANTO AMARO A DOZE/ DIAS DE FRO DO ANO D 1549 ANOS E AVIA SETE ANOS QUE HERA/ AQUI EDIFICADA A QUE AGUORA SERVE DE SACRISTIA”.

Ou seja, a primeira construção não passaria de um pequeno cenóbio erguido em 1542 correspondente à actual sacristia, tendo a capela vindo a ser edificada em 1549.

Terá sido na mesma época  que foram plantadas as quatro oliveiras que se encontram no jardim das traseiras da capela e que são hoje classificadas como Árvores de Interesse Público.

As Festas em Honra de Santo Amaro

Do conjunto arquitectónico faz parte a escadaria monumental, interrompida por um patamar com cruzeiro.
Escadaria monumental interrompida por um patamar com cruzeiro

É verdade que os freires de Cristo deram origem à Real Confraria do Bem-Aventurado Santo Amaro de Alcântara da qual fez parte a mais alta nobreza incluindo reis, príncipes e patriarcas. Gozava de grandes honrarias e privilégios, assim como do título de Real.

Todos os anos se realizavam festas em honra do Santo que contavam com a presença das mais distintas personalidades da época.

A extinção das ordens religiosas em 1834 afectou a confraria e a capela foi então entregue à Junta de Paróquia de Alcântara. Com o abandono do templo pela nobreza, o culto do santo não se perdeu mas passou a ter um cariz mais popular.

O largo da Capela de Santo Amaro em Lisboa era enfeitado com bandeiras, galhardetes e festões de verdura, para aqui se reunir o povo em danças e cantares. Pelo recinto vendia-se toda a espécie de produtos e iguarias tradicionais: bolos, pastéis, caramelos e frutos secos, sendo os mais famosos os pinhões enfiados em colares, que todos exibiam ao pescoço. Por detrás da capela montavam-se as bancas de comes e bebes.

As festividades que se realizavam entre 15 de Janeiro e 2 de Fevereiro chegaram a ser consideradas dos maiores arraiais de Lisboa.

Os galegos, que à época existiam em grande número em Lisboa, eram particularmente devotos deste santo e no primeiro dia da festa não trabalhavam e para ali se dirigiam muito cedo, vestindo de lavado, tocando gaitas-de-foles e castanholas. À noite queimava-se fogo-de-artifício e muitas velas cujo clarão podia ser visto da margem sul do Tejo.

Apesar de classificada como monumento nacional em 1910, no mesmo ano da implantação da República, esta não trouxe ventos favoráveis à Capela de Santo Amaro.

Encerrada, profanada e despojada das suas riquezas tornou-se depósito de carvão e habitação de gente humilde. Mas, em 1927, foi entregue à Irmandade do Santíssimo Sacramento, tendo retomado o culto no ano seguinte.



Descrição da Capela de Santo Amaro em Lisboa

A Capela de Santo Amaro consiste num edifício de planta centralizada rematada por cúpula, cuja concepção é atribuída a Diogo de Torralva, arquitecto que explorou a estética Maneirista.
Capela de Santo Amaro

Do conjunto arquitectónico faz parte a escadaria monumental, interrompida por um patamar com cruzeiro, que termina num pórtico ornado de volutas e a capela propriamente dita. Esta consiste num edifício de planta centralizada rematada por cúpula, cuja concepção é atribuída a Diogo de Torralva, arquitecto que explorou a estética Maneirista.

Ao longo do tempo foram acrescentados elementos decorativos, testemunhos da importância que lhe foi dada e que foram valorizando o conjunto.

O corpo da capela é precedido por uma galilé semicircular, com contrafortes que ladeiam cinco arcos de volta perfeita. Aos três arcos abertos correspondem admiráveis portões em ferro forjado acrescentados no séc. XVIII.

O corpo da capela é precedido por uma galilé semicircular, com contrafortes que ladeiam cinco arcos de volta perfeita. Aos três arcos abertos correspondem admiráveis portões em ferro forjado acrescentados no séc. XVIII.
Portões em ferro forjado acrescentados no séc. XVIII

A galilé é coberta por abóbada abatida de nervuras cujas pedras de fecho esculpidas apresentam os atributos do santo. As suas paredes são totalmente revestidas com azulejos policromos Maneiristas que se pensam poder datar do final de quinhentos início de seiscentos, assim como, os dois altares construídos sobre os vãos entaipados, um deles infelizmente em acentuado estado de degradação.

O acesso ao interior da capela é feito através de um portal de arco recto sobre o qual se encontra a inscrição que já referimos.

A galilé coberta por abóbada abatida de nervuras apresenta as paredes totalmente revestidas com azulejos policromos Maneiristas
Acesso ao interior da Capela de Santo Amaro

As portas de madeira apresentam curiosos relevos que remetem para a lenda da origem da capela e para os atributos do santo.

O corpo da capela é coberto por uma cúpula semiesférica e aí merecem destaque dois painéis de azulejos policromados do final do séc. XVIII, da Real Fábrica de Louça do Rato, e dois altares de talha barroca que ladeiam o arco triunfal.

A capela-mor apresenta igualmente planta circular e cobertura em abóbada semiesférica truncada. O altar-mor é também em talha barroca com a mesma tipologia dos anteriores e exibe duas pinturas muito escurecidas.

A capela-mor apresenta planta circular e cobertura em abóbada semiesférica truncada e os altares são todos em talha barroca
Vista geral do interior da Capela de Santo Amaro

Merece ainda destaque a sacristia que apresenta um arcaz sobre o qual um conjunto de pinturas relata a vida de Santo Amaro. A pintura sobre madeira do tecto e o lavabo em mármore não merecem ficar esquecidos.

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A Capela de Santo Amaro Hoje

Ao atingir o topo da escadaria poderá descansar e junto à Capela de Santo Amaro admirar a magnífica paisagem sobre o Tejo que dali se avista
Vista sobre o Tejo do adro da Capela de Santo Amaro

Infelizmente as condições de conservação da Capela de Santo Amaro não são as ideais. Há muito que se fala na premente necessidade de uma intervenção de fundo.

Após um período de cerca de duas décadas fechada, há agora oportunidade de a visitar de terça a sexta-feira e nos 1º e 3º fins-de-semana de cada mês entre as 11h00 e as 17h30. Sugerimos que assista ao Render Solene da Guarda ao Palácio de Belém, que se realiza sempre ao 3º domingo e depois dirija-se à Capela de Santo Amaro que não fica muito longe.

Quanto às vivências já não há galegos e colares de pinhões como outrora mas as festas de Santo Amaro, que agora se realizam durante 5 dias do mês de Junho e se inserem nas Festas de Lisboa, contam todos os anos com procissão, feira de comes e bebes, concertos de música e divertimentos que continuam a atrair multidões.


Curiosidade

A Capela de Santo Amaro em Lisboa foi classificada como Monumento Nacional em decreto de 23 de Junho de 1910.
Este decreto elege inúmeros imóveis espalhados por todo o país, de diferentes épocas e tipologias. São contemplados monumentos pré-históricos, castros, igrejas, pontes, pelourinhos, entre outros.
As lápides romanas das Pedras Negras, curiosos vestígios romanos, que já tivemos ocasião de lhe dar a conhecer nos nossos artigos, fazem parte deste rol.
Também dois dos cinco surpreendentes portais entre Alfama e a Mouraria que compilámos para si, foram devidamente classificados naquela ocasião. Trata-se do portal principal da Igreja da Madalena e o portal lateral dos antigos paços de São Cristóvão na Rua do Regedor.
A par de monumentos emblemáticos como a Sé de Lisboa, o Mosteiro dos Jerónimos e a Basílica da Estrela, foi ainda classificada a Igreja da Conceição Velha que abordámos através da sua história contada no feminino que o convidamos desde já a reler.


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