Hoje trazemos-lhe um pouco da história partilhada entre Portugal e China, através de 7 sinais de Macau em Lisboa que a getLISBON, nas suas deambulações pela cidade, teve oportunidade de compilar.
Porquê Macau? A explicação é simples: 50% do código genético da getLISBON tem origem macaense. 🙂
Vamos ainda sugerir-lhe o que pode ser interessante conhecer em volta destes 7 sinais de Macau em Lisboa para que possa desfrutar mais do seu passeio.
Mas antes, importa dizer umas breves palavras sobre Macau: um resultado da exploração marítima dos portugueses no séc. XVI, que originou o cruzamento de culturas e de uma partilha com mais de 450 anos.
Breves Palavras sobre Macau
Este lugar longínquo no Oriente, no delta do rio das Pérolas, era povoado por pescadores e camponeses.
As primeiras naus portuguesas, para se abrigarem do mau tempo, terão entrado na baía onde existia um templo dedicado a A-Má, a deusa dos navegantes. A designação Macau terá surgido quando os portugueses perguntaram o nome desta região e os pescadores lhes terão respondido: A-Má Gau (porto ou baía de A-Má).
Apesar de as expedições portuguesas ao Oriente para o estabelecimento de relações diplomáticas e comerciais terem ocorrido logo no início do séc. XVI, só em 1554 é que Portugal obteve autorização para comerciar livremente em Cantão, sendo assim, a primeira nação europeia a estabelecer-se na China.
Acredita-se que a cedência de Macau a Portugal, em 1557, foi uma recompensa das autoridades chinesas pela ajuda dos portugueses no combate aos piratas na região. O acesso a produtos vindos do Ocidente era igualmente uma das razões apontadas para a conveniência da permanência destes estrangeiros em território chinês.
Durante séculos, Macau beneficiou do florescimento comercial que os portugueses intermediavam entre a China e outras partes do mundo. A população aumentou com gentes vindas de todo o lado à procura de um porto livre e seguro, uma autêntica terra cosmopolita.
Inclusive, reza a tradição que Luís de Camões terá chegado a Macau numa das muitas carreiras de navegação que circulava entre este território e os principais portos do império português, e que lá terá escrito uma grande parte de Os Lusíadas.
Ao fim de mais de três séculos de permanência no território, só em 1887 foi reconhecido aos portugueses o direito de dirigirem os destinos de Macau com a soberania de Portugal confirmada, através do Tratado de Amizade e Comércio Sino-Português.
Com a revolução de Abril de 1974, Portugal deu início ao processo de independência de todos os seus territórios ultramarinos. No caso de Macau este iniciou-se em 1985 e em 1999 a soberania regressou definitivamente à China.
Sinais de Macau em Lisboa
Foram mais de quatro séculos de união, vivência e partilha intensa. Hoje, apesar de a soberania de Macau já não pertencer a Portugal, a sua herança permanece bem enraizada.
E o testemunho de uma partilha histórica pode revelar-se em singelas referências. Pormenores que muitas vezes passam despercebidos, mas que nos remetem para episódios significativos.
Vamos, então, mostrar-lhe os 7 sinais de Macau em Lisboa que seleccionámos para si.
O primeiro navegou milhares de quilómetros para chegar à cidade das Sete Colinas.
A Estátua de Ferreira do Amaral
João Maria Ferreira do Amaral (1803-1849) foi um militar e político português que em 1846 assumiu o cargo de primeiro Governador de Macau.
As suas medidas enérgicas de defesa dos interesses de Portugal desagradaram aos mandarins, tendo o conflito culminado no seu assassinato em 1849.
Sabe-se que em 1879 o corpo de Ferreira do Amaral foi transladado para o Cemitério dos Prazeres em Lisboa.
Em 1940, 91 anos após a sua morte, foi erguido na Praça Ferreira do Amaral, em Macau, um imponente monumento em sua homenagem.
No entanto, o monumento foi desmantelado em 1992 e posteriormente enviado para Lisboa.
Em 1999, por iniciativa da Câmara Municipal de Lisboa, a estátua de Ferreira do Amaral foi colocada na Alameda da Encarnação, na Zona Norte da cidade.
Esta obra, da autoria do escultor Maximiliano Alves, perdeu a base com valor arquitectónico que lhe conferia monumentalidade, contudo, poder vê-la de perto permite uma observação distinta e pormenorizada.
Aproveite para dar um passeio pelo tranquilo Bairro da Encarnação, construído nos anos 30 do séc. XX, com vias largas e moradias unifamiliares. Um exemplo da aplicação da teoria urbanística de cidade-jardim que pretendia aproveitar o melhor da cidade e do campo.
Prédio com Inscrições Orientais
Na Avenida Ressano Garcia, nº16 na Zona Avenidas Novas existe um prédio com decoração oriental que nos chamou a atenção.
Através do site Memória para Todos, propriedade do Instituto de História Contemporânea da Faculdadede Ciência Sociais e Humanas, foi possível obter interessantes informações.
O prédio, inaugurado em 1935, é da autoria do arquitecto Norte Júnior (1878-1962) e a decoração que encerra revela as raízes culturais orientais do seu proprietário.
O edifício foi mandado construir por José Maria Nolasco da Silva, oriundo de Macau, que fixou a sua residência em Portugal em 1929, ao terminar a sua vida profissional.
A porta de entrada apresenta uma estrutura inspirada nos pórticos de templos xintoístas, ladeada de dois dragões em baixo relevo.
Num registo superior encontramos 3 moedas chinesas, símbolos de prosperidade.
Este tipo de moeda chinesa apresenta quatro caracteres gravados que, geralmente indicavam o nome do Imperador da época em que foram cunhadas. Da mesma forma, José Maria Nolasco da Silva quis que o seu nome fosse inscrito na moeda central para lhe conferir boa sorte e fortuna.
Depois desta curiosa observação, temos duas sugestões de visitas que ficam bem perto deste que é um dos sinais de Macau em Lisboa: a Mesquita Central de Lisboa, a principal mesquita da comunidade islâmica portuguesa e a Fundação Calouste Gulbenkian com as suas valiosas colecções e o seu agradável jardim.
Estação de Metro
Uma das formas mais convenientes de nos deslocarmos em Lisboa é sem dúvida de metro.
Sabia que numa das estações pode encontrar um pequeno sinal de Macau?
A estação Parque, linha azul, faz parte das primeiras estações da rede de Metro de Lisboa, inaugurada em 1959. A entrada é revestida de azulejos com composições geométricas nas cores branco, verde, castanho e preto da pintora Maria Keil (1914-2012).
Em 1994 todo o espaço interior desta estação foi objecto de uma intervenção plástica significativa e constitui hoje uma das mais ricas e enigmáticas estações de metro.
A intervenção, em azulejo e esculturas, da autoria das artistas belga Françoise Schein e francesa Federica Matta incide sobre dois temas e no seu todo merece um olhar prolongado.
O tema da Declaração Universal dos Direitos do Homem está representado com os trinta artigos inscritos na nave central desta estação e o tema da expansão e descobrimentos portugueses através das rotas que os portugueses trilharam pelo mundo.
Macau encontra-se representado no painel no fundo da plataforma.
Diga-nos se encontrou!
Brasões das Antigas Províncias Ultramarinas Portuguesas
Na fachada principal do edifício da antiga sede do BNU – Banco Nacional Ultramarino, actualmente MUDE – Museu de Design e de Moda, situado na Rua Augusta, existe um escudo com brasões das antigas províncias ultramarinas portuguesas.
Este alto-relevo da autoria do escultor Leopoldo de Almeida (1898-1975) é constituído por brasões dos territórios ultramarinos onde o BNU era banco emissor.
Da esquerda para a direita podemos identificar os brasões de Timor, São Tomé e Príncipe, Goa, Moçambique, Guiné Portuguesa, Cabo Verde e, por fim, Macau, representada por um dragão chinês armado.
Uma vez que se encontra na Baixa lisboeta sugerimos que vá até à Igreja de Nossa Senhora da Oliveira na Rua de São Julião e conheça os seus surpreendentes painéis de azulejos do séc. XVIII.
Bandeira do Leal Senado
Sabe onde pode encontrar a bandeira do Leal Senado de Macau?
A bandeira foi retirada do Leal Senado (denominação oficial da Câmara Municipal de Macau) no dia 20 de Dezembro de 1999, data da transferência de soberania de Macau para a República Popular da China. Por iniciativa do Dr. Jorge Rangel, personalidade estreitamente ligada ao processo da transferência de soberania, esta foi oferecida à Sociedade Histórica da Independência de Portugal em Outubro de 2003.
Pode vê-la no Palácio da Independência, onde está sediada esta Sociedade, no Largo de São Domingos ali mesmo ao lado do Rossio.
Sobre um fundo azul, os elementos que a compõem são: ao centro o escudo português, seguro por dois anjos. Este apresenta coroa aberta, ladeada à esquerda pela Cruz de Cristo e à direita por uma esfera armilar. Em baixo, inscrita numa filactera “Cidade do Nome de Deus de Macau, Não Há Outra Mais Leal”, designação concedida por D. João IV, em 1642, pela lealdade de Macau durante o domínio filipino em Portugal.
Apesar de não ser a bandeira oficial do território de Macau sob administração portuguesa, esta representação foi muitas vezes utilizada internacionalmente, inclusive na cerimónia da transferência de soberania onde esteve em conjunto com a de Portugal.
Quanto ao Palácio da Independência, para além de ser classificado como Monumento Nacional, tem um valor artístico e histórico muito relevante. Entre muitas outras histórias que se podem contar, era neste edifício que se reuniam, secretamente, os conjurados que levaram à restauração da Independência de Portugal em 1640. Foi ainda das poucas construções da Baixa Pombalina que sobreviveu ao terramoto de 1755.
Um local a não perder aliando à curiosa procura dos sinais de Macau em Lisboa!
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Pórtico de Macau
No Jardim Botânico Tropical, localizado na zona de Belém, pode encontrar mais um dos sinais de Macau em Lisboa.
Este jardim, então designado de Jardim Colonial, foi criado em 1906 com o propósito da organização dos serviços agrícolas coloniais e do Ensino Agronómico Colonial no Instituto de Agronomia e de Veterinária.
Hoje, podemos observar neste jardim elementos evocativos das colónias, nomeadamente bustos africanos e asiáticos, edifícios e painéis de azulejos, que faziam parte da Exposição do Mundo Português, promovida pelo Estado Novo, em 1940.
Neste contexto, encontra o pórtico de Macau de cor vermelha, estrutura tradicional chinesa que marca a entrada no pequeno jardim oriental de espécies asiáticas.
Aproveite para passear neste jardim classificado em 2007 como Monumento Nacional, com mais de 600 espécies originárias de vários continentes.
Uma vez que se encontra perto não pode perder a oportunidade de se deliciar com os famosos pastéis de Belém. Assim como, visitar o Parque Recreativo dos Moinhos de Santana onde existem dois moinhos do séc. XVIII e daí apreciar a vista da Zona Ocidental de Lisboa. ☺
Rua de Macau
Claro que teríamos de encontrar uma referência a Macau na toponímia de Lisboa.
A Rua de Macau insere-se no antigo Bairro das Colónias, tendo recebido a nova designação Bairro das Novas Nações após a revolução de Abril.
Este foi um projecto iniciado nas primeiras décadas do séc. XX. Os seus edifícios, construídos a partir dos anos 20 e, até aos finais dos anos 40, são predominantemente Arte Deco e modernistas.
Fazendo o paralelismo com a herança de cruzamento plural de culturas dos macaenses, o Bairro das Colónias está integrado na Freguesia de Arroios, a mais multicultural de Lisboa.
Tem sofrido grandes transformações e renovações, passou de uma zona de reputação duvidosa para uma área muito procurada por jovens e gente de proveniência diversa que pretendem viver em Lisboa.
Aqui pode encontrar estabelecimentos de gastronomias diversificadas, de carácter mais simples ou de conceitos mais modernos, lojas e supermercados de produtos orientais ou da europa de leste. Assim como comércio local tradicional característico de um bairro já com história.
Aproveite para subir até ao Miradouro do Monte Agudo pelas escadas que se encontram na Rua Ilha do Príncipe. De lá tem um ponto de observação magnífico e pouco conhecido de Lisboa.
Chegámos ao fim desta incursão por sinais de Macau em Lisboa, com a certeza que haverá muitos outros a assinalar. Desafiamos os nossos leitores a contribuírem com os seus…
Leia também 7 Sinais de Lisboa em Macau, uma espécie de reverso deste artigo.
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