Actualizado em 30/08/2024
Artigo original publicado em 10/10/2018
Vencer as colinas era um dos problemas de acessibilidade na Lisboa do século XIX. Os elevadores e funiculares de Lisboa vieram resolver este problema, e hoje os que ainda existem, estão classificados desde 2002 como Monumentos Nacionais.
O relevo de Lisboa é caracterizado por colinas separadas por vales onde outrora corriam ribeiras que desaguavam no Tejo. Esta característica é tão acentuada que é até conhecida por cidade das Sete Colinas. Com o tempo a cidade foi conquistando espaço às ribeiras, mas se observarmos com atenção percebemos as suas marcas. Talvez se surpreenda se lhe dissermos que onde actualmente se situam a Avenida Almirante Reis, a Avenida da Liberdade ou a Avenida de Ceuta outrora passaram ribeiras. Contudo é evidente que todas estas avenidas se estendem por vales que separam colinas.
Ora quando o transporte de pessoas e bens era exclusivamente feito a pé ou em veículos de tracção animal, podemos imaginar como o perto se tornava longe quando era necessário vencer acentuados declives.
Faça uma visita guiada às zonas históricas de Lisboa e conheça locais imperdíveis desta magnífica cidade.
Raoul Mesnier Ponsard
A expansão urbana de Lisboa a partir do final da década de 70 do século XIX, associada a novas tecnologias e à arquitectura do ferro, permitiu colmatar o problema. Em 1882 a CML – Câmara Municipal de Lisboa aprovou uma licença de construção e exploração de elevadores e funiculares movidos a tracção mecânica, ao engenheiro portuense de origem francesa Raoul Mesnier Ponsard (1848-1914).
Foi este engenheiro o responsável pelo projecto de todos os elevadores e funiculares de Lisboa, assim como de idênticos projectos em Braga, no Porto, na Nazaré e no Funchal. Ao contrário do que se costuma dizer não consta haver registo de que este engenheiro tenha sido aluno ou tenha trabalhado com o famoso Gustave Eiffel (1832-1923). Seja como for, Ponsard conheceria a obra de Eiffel e é até provável que o tenha conhecido. Tanto porque Ponsard estudou em Paris, como porque Eiffel viveu no norte de Portugal entre 1875 e 1877 e aqui deixou vasta obra.
Seja como for, o certo é que a Raoul Mesnier Ponsard se deve a concepção dos elevadores e funiculares de Lisboa.
Vencer Andares ou Desníveis
Funiculares em Lisboa? Geralmente chamamos-lhes ascensores!
Cabe agora um esclarecimento: elevadores e ascensores são termos sinónimos e referem-se a um aparelho mecânico que eleva ou ascende verticalmente pessoas ou carga a vários pisos de um edifício. Já um funicular é um veículo que se move por meio de cabos num plano inclinado e permite ultrapassar grandes desníveis.
Assim, e em bom rigor, quando nos referimos ao de Santa Justa falamos de um elevador, quando nos referimos ao do Lavra, ao da Glória e ao da Bica o termo correcto é funicular mas como estes são geralmente apelidados de ascensores assim os trataremos daqui em diante.
Desfeita a confusão vamos então passar a conhecer os elevadores e funiculares de Lisboa.
Elevadores e Funiculares de Lisboa
Chegaram a ser nove os elevadores e funiculares de Lisboa:
- Ascensor do Lavra – 1884
- Ascensor da Glória – 1885
- Ascensor Camões/Estrela – 1890 /desmantelado em 1913
- Elevador do Chiado – 1892; de iniciativa particular, situava-se dentro do Edifício dos Antigos Armazéns do Chiado e ligava a Rua do Crucifixo à Rua (Nova) do Carmo
- Ascensor da Bica – 1892
- Ascensor da Graça – 1893 /desmantelado em 1909
- Elevador de São Julião – 1897 /desmantelado em 1915
- Ascensor de São Sebastião – 1899 /desmantelado em 1901
- Elevador de Santa Justa – 1902
O funcionamento dos funiculares ou ascensores consistia num sistema de cremalheira e cabo por contrapeso de água. Este sistema era pouco eficaz pois a cidade de Lisboa sofria de frequentes cortes no abastecimento de água o que levava ao condicionamento da utilização destes equipamentos.
Foi por este motivo que o sistema foi num primeiro momento substituído por uma máquina a vapor e pouco depois, a partir de 1912, definitivamente electrificado.
Alguns destes equipamentos não duraram muito tempo tendo sido substituídos por carros eléctricos. É o caso dos ascensores Camões/Estrela, Graça e São Sebastião.
Os 4 Equipamentos Monumentos Nacionais e os Seus Percursos
Ascensor do Lavra
O ascensor do Lavra situa-se na Calçada do Lavra e faz a ligação no sentido ascendente entre o Largo da Anunciada e a Rua Câmara Pestana na Colina de Santana.
É o mais antigo dos elevadores e funiculares de Lisboa.
Ascensor da Glória
O ascensor da Glória situa-se na Calçada da Glória e faz a ligação no sentido ascendente entre a Praça dos Restauradores e a Rua de São Pedro de Alcântara no Bairro Alto.
Em 1926 a exploração destes equipamentos passou da Companhia de Ascensores Mechanicos de Lisboa para a Companhia de Carris de Ferro de Lisboa. Nessa altura foi construído, do lado da Praça dos Restauradores, um abrigo para os passageiros de que hoje lamentavelmente só restam fotografias.
O abrigo terá sido retirado em 1937, alegadamente por ter sofrido críticas por parte da opinião pública.
Parece pouco provável que, por um lado a opinião pública fosse uma força nesse tempo, e por outro que os utentes do equipamento tivessem preferido ficar sujeitos às intempéries. Talvez o abrigo precisasse de obras de manutenção e tenha sido mais fácil e económico proceder à sua remoção. De uma forma ou de outra, assim se perdeu uma magnífica peça de mobiliário urbano que com certeza enriquecia e embelezava a cidade.
Mais tarde foi colocado um simples telheiro em chapa que para além de inestético não cumpria eficazmente as suas funções. Hoje não existe qualquer abrigo.
Ascensor da Bica
O ascensor da Bica situa-se na Rua da Bica de Duarte Belo e faz a ligação, no sentido ascendente, entre a Rua de São Paulo e o Largo do Calhariz no Bairro Alto.
Este ascensor que atravessa uma das consideradas mais belas ruas do mundo sofreu durante as suas obras de electrificação, na década de 10 do século XX, um aparatoso acidente que o deixou inactivo por longos anos. Mas em 1923 a CML exigiu à companhia que explorava este equipamento o retomar do seu funcionamento.
Elevador de Santa Justa
O Elevador de Santa Justa situa-se na Rua de Santa Justa e faz a ligação, no sentido ascendente, entre a Rua do Ouro e o Largo do Carmo.
É actualmente um dos raros exemplares de Arquitectura do Ferro em Lisboa. Destaca-se não só por constituir uma elevada torre, toda em ferro, implantada no meio dos sóbrios edifícios da Baixa Pombalina, mas também pela magnífica decoração de estilo revivalista neo-gótico. Para além de elevador constitui em si um miradouro.
Este elevador perdeu desde há algum tempo o seu carácter funcional. É bem verdade que ainda liga a Baixa ao Carmo, mas hoje só turistas o frequentam, esperando em longas filas a sua vez de entrar nas belas cabines revestidas a madeira e espelhos, para no último piso usufruir de uma vista privilegiada sobre o centro histórico da cidade e o rio.
Se não tiver paciência para esperar, pode aceder ao passadiço pelos Terraços do Carmo e não chegando ao topo, ainda assim, deslumbrar-se com o centro de Lisboa a seus pés.
Para uma ligação mais funcional existe à disposição um novo elevador, o Elevador do Carmo que faz a ligação entre a Rua do Carmo nº79 e os Terraços do Carmo com acesso gratuito.
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O Século XXI Trouxe Mais Equipamentos
Elevador Castelo de São Jorge-Baixa
Em 2013 foi inaugurado um novo equipamento que ajudou a vencer a mais alta elevação da cidade, a colina do Castelo. Trata-se de dois elevadores que se complementam e que sem dúvida facilitam a íngreme subida à zona do Castelo de São Jorge. Foram encomendados pela CML e projectados pelo atelier do arquitecto João Pedro Falcão de Campos.
No sentido ascendente encontramos um primeiro elevador inserido num edifício pombalino na Rua dos Fanqueiros nº178, que faz a ligação com a Rua da Madalena. Um segundo elevador que se encontra no edifício do antigo mercado do Chão do Loureiro, hoje um estacionamento público, eleva-nos, por sua vez, à Costa do Castelo. A sua utilização é gratuita.
Sugerimos que aproveite para conhecer as fabulosas obras de Arte Urbana do Estacionamento do Chão do Loureiro.
Elevador de Santa Luzia
Também inserido num edifício, propositadamente recuperado para o efeito, este discreto elevador faz a ligação entre o Miradouro de Santa Luzia e a Rua Norberto de Araújo em Alfama. Foi inaugurado a 10 de Junho de 2015 ao mesmo tempo dos Terraços do Carmo junto às Ruínas do Carmo. Este equipamento de utilização livre, permite facilitar a mobilidade de moradores e turistas.
Funicular da Graça
O Funicular da Graça foi inaugurado no dia 12 de Março de 2024, retomando a ligação entre os Bairros da Mouraria e da Graça através deste tipo de equipamento, como aconteceu, pela primeira vez, há mais de um século atrás.
Entre 1893 e 1904 funcionou um ascensor que ligava a Rua da Palma à Graça, entretanto desmantelado em 1909.
O actual funicular, com lotação para 14 passageiros, funciona numa única via entre a Rua dos Lagares e o Miradouro Sophia de Mello Breyner Andresen de onde se pode desfrutar de uma das mais deslumbrantes vistas de Lisboa.
Curiosidade
Foi recentemente implantada uma nova forma de vencer as colinas. Através de escadas rolantes as íngremes e longas Escadinhas da Saúde, que ligam a Praça de Martim Moniz à Rua Marquês Ponte de Lima, deixaram de ser um obstáculo e até já se tornaram uma curiosa atracção para locais e turistas.
Percorra as colinas tirando partido dos elevadores e funiculares de Lisboa. Estes equipamentos ajudam-no a vencer declives e ao mesmo tempo proporcionam-lhe uma curiosa experiência com tanta história para contar.
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