Evanne é americana e mudou-se com o seu marido para o coração de Lisboa, após 18 anos a morar numa auto-caravana e a viajar pelos EUA. Em Lisboa em Nós de Evanne Schmarder, partilha connosco o seu sentir em relação a esta cidade.
Texto original em Lisbon in Us by Evanne Schmarder
A relação de Evanne Schmarder com Lisboa
Lembro-me, como se fosse ontem, da primeira noite em que dormi na minha nova cidade, Lisboa. O quarto era escuro, a cama confortável e apesar do jet lag e da excitação do dia, eu estava pronta para adormecer.
Lá fora havia sons estranhos – o silêncio foi interrompido pela minha nova vida – empregados dos restaurantes a arrastar caixotes de lixo sobre a calçada antiga – bump bump bump bump –; boémios que passavam pela nossa charmosa praça, na Mouraria; música suave do vizinho, rica de zhs e suzh da língua portuguesa.
Eu estava aqui, em Portugal e no dia seguinte iria acordar em solo português. E não era só isso, estava ansiosa por descobrir a vida palpitante da capital do país.
Os primeiros anos foram muito estimulantes. Depois de uma “bica” e de um pão, eu e o meu marido saíamos do apartamento e deslocávamo-nos para qualquer lado a pé. Independentemente da direcção que escolhêssemos, a aventura acontecia.
Desde a espectacular arte urbana (umas escondidas e outras promovidas pela cidade) aos quiosques e cafés cheios de turistas e locais, passando por uma rápida escuta de um guia turístico a contar a história desta magnífica cidade e os artistas de rua que actuavam ao longo do rio Tejo, tudo nos encantava. Não deve haver muitas ruas de Lisboa por onde não tivéssemos passado, fotografado e pelas quais não nos tivéssemos apaixonado.
Ao longo do tempo tive a sorte de conhecer e interagir com muitos portugueses. Apesar da barreira linguística, consigo comunicar com um casal que mora no mesmo andar que eu, no prédio ao lado. À janela, ao cruzarmos os nossos olhares, damos o nosso melhor para nos cumprimentarmos, perguntar como vão as coisas e comentar o estado do tempo. Afinal, são celebridades locais. Quem diria.
Depois houve a senhora idosa que me parou, numa das íngremes calçadas de Lisboa e que, referindo-me a sua deficiência visual e segurando-se no meu braço, me pediu ajuda para atravessar a rua.
Desenvolvemos empatia com os donos, pai e filho, da nossa casa de bifanas favorita. Eu dizia frequentemente ao pai que ele fazia as melhores sandes de ovo da cidade. Ele ficava radiante. Quando ele adoeceu e acabou por falecer chorámo-lo com o seu filho e fizemos o que pudemos, oferecendo todo o nosso apoio.
Estas e dezenas de outras experiências, tocaram-me profundamente, penetrando o meu ser e influenciando cada momento da minha vida.
Lisboa está em mim! Isso não foi algo que eu pudesse prever; simplesmente apaixonei-me.
É verdade, eu não cresci aqui e ainda luto com o idioma. Mas, a fabulosa luz de Lisboa; a beleza e o contraste do antigo e do novo; a diversidade; o óbvio deleite de alguém local quando lhe respondo à sua pergunta sobre como gosto da cidade; os restaurantes acolhedores que me impressionam; o orgulho dos pequenos empresários; o fado nas ruas e a incrível simpatia das gentes, dão-me imenso prazer em dizer que, embora nunca seja nativa, sou – por completo –, uma lisboeta.
| Lisboa em Nós de Evanne Schmarder | |
|---|---|
| Mini apresentação | Após 18 anos a morar numa auto-caravana e a viajar pelos EUA, esta rapariga da Califórnia, mudou-se, com o seu marido de há mais de 30 anos, para a sua adorável Lisboa. Ela é fundadora e editora da premiada publicação gratuita Relish Portugal, revista de culinária e cultura em língua inglesa dedicada aos amantes de Portugal em todo o mundo. |
| Um local inspirador | O Jardim da Estrela para um piquenique ou esplanada de quiosque e observar as pessoas e a vida local. |
| Uma visita imperdível | Qualquer exposição do Museu de Lisboa, no Torreão Poente da Praça do Comércio. |
| Água na boca com… | Bifana com mostarda e piri-piri no Triângulo da Ribeira, de preferência ombro a ombro ao pequeno balcão. |
| Uma música… | Balancê da Sara Tavares |
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