A Mulher na Arte Urbana do Bairro da Graça: Este mural, assinado por Leonor Brilha e localizado no Beco dos Peixinhos, remete-nos para os bordados tradicionais. Este é composto por elementos decorativos florais, presentes nos lenços dos namorados, nos bordados de Viana, de Guimarães e de Castelo Branco.

A Mulher na Arte Urbana do Bairro da Graça

Actualizado em 08/03/2024
Artigo original publicado em 27/01/2021

A arte urbana do bairro da Graça constitui hoje mais um pólo destacado desta expressão artística em Lisboa, dada a qualidade e o número relevante dos seus murais. Na abordagem a este núcleo temos um propósito específico, o de revelar obras em que o denominador comum é a mulher.

Embora a importância da participação feminina na sociedade seja cada vez mais efectiva, muito está ainda por fazer, continuando por isso a ser necessário realçar a importância da igualdade de género. A contribuição de todos, sem excepção, é fundamental para o desenvolvimento e evolução da humanidade.

As obras de arte urbana do bairro da Graça que lhe trazemos remetem para o feminino sob diferentes perspectivas. Aqui a mulher é tema e é também, quase sempre, autora.

Passeio Literário da Graça

Iniciamos com o projecto Passeio Literário da Graça promovido pelo colectivo artístico e curatorial EBANO Collective, em colaboração com a Câmara Municipal de Lisboa, a Galeria de Arte Urbana e a Junta de Freguesia de São Vicente.

Esta iniciativa, de 2014, visou homenagear quatro figuras literárias femininas ligadas ao bairro da Graça, assim como, promover o seu característico património arquitectónico: os pátios e as vilas operárias.

A evocação a Natália Correia, Angelina Vidal, Sophia de Mello Breyner Andresen e Florbela Espanca foi feita através da arte urbana. Contudo, nem todas as obras realizadas sobreviveram ou se encontram no seu melhor estado de conservação, como é próprio desta forma de arte. 

Sophia

A Mulher na Arte Urbana do Bairro da Graça: Na Rua Josefa de Óbidos podemos apreciar a pintura do stencil artist Daniel Eime. Trata-se do tributo que o artista português escolheu fazer à incontornável escritora Sophia de Mello Breyner Andresen.
“Sophia” de Daniel Eime, Rua Josefa de Óbidos, em 2021

Na Rua Josefa de Óbidos podemos apreciar a pintura do stencil artist Daniel Eime. Trata-se do tributo que o artista português escolheu fazer à incontornável escritora Sophia de Mello Breyner Andresen. Sendo parte da sua obra dedicada à camada mais jovem, esta escritora marcou a infância de Eime e a de muitas crianças.

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As Poetisas

No Arco da Travessa do Monte e na Travessa do Monte ainda é possível observar vestígios do mural intitulado As Poetisas, executado por Mariana Dias Coutinho. Aos retratos das quatro poetisas que a artista compôs, conjugando o seu distinto estilo com as características físicas de cada uma das escritoras, associou-se o poema Ser Poeta de Florbela Espanca, escrito sobre um fundo branco.
“As Poetisas” de Mariana Dias Coutinho, Travessa do Monte, em 2021

Este mural, intitulado As Poetisas, foi executado por Mariana Dias Coutinho na Travessa do Monte e no Arco da Travessa do Monte.

Hoje ainda é possível observar vestígios dos retratos das quatro poetisas que a artista compôs, conjugando o seu distinto estilo com as características físicas de cada uma,  aos quais associou o poema Ser Poeta de Florbela Espanca, escrito sobre um fundo branco.

Contudo, a extensão da pintura no Arco, que já se encontrava em mau estado, foi substituída por uma outra da autoria do artista Jorge Romão.



Mural de Leonor Brilha

A Mulher na Arte Urbana do Bairro da Graça: Este mural, assinado por Leonor Brilha e localizado no Beco dos Peixinhos, remete-nos para os bordados tradicionais. Este é composto por elementos decorativos florais, presentes nos lenços dos namorados, nos bordados de Viana, de Guimarães e de Castelo Branco.
Mural de Leonor Brilha, Beco dos Peixinhos, em 2021

Este mural, assinado por Leonor Brilha e localizado no Beco dos Peixinhos, remete-nos para os bordados tradicionais. Este é composto por elementos decorativos florais, presentes nos lenços dos namorados, nos bordados de Viana, de Guimarães e de Castelo Branco.

A autora preferiu não fazer referência especial a nenhuma das poetisas homenageadas pelo projeto, mas antes realçar a contribuição das suas obras na defesa do direito à liberdade das mulheres. Estas, que no passado viveram privadas da sua autonomia, encontravam no bordado uma forma de escape.

Na frase inscrita lê-se: “A casa não passava de uma gaiola, e ao bordar, a mulher portuguesa tecia as teias do silêncio.”

Leia também Personalidades Homenageadas na Arte Urbana de Lisboa para conhecer outros tributos em murais artísticos.

A Mulher em Outras Obras de Arte Urbana do Bairro da Graça

Para além do projecto Passeio Literário da Graça, podemos também destacar outras obras em que a mulher é protagonista.

Universal Personhood e Peace Guard

Em 2017, o artista americano Obey Giant fez duas intervenções neste tradicional bairro, aquando da realização da exposição Printed Matters, na Galeria Underdogs em Lisboa.

A Mulher na Arte Urbana do Bairro da Graça: “Universal Personhood” de Obey Giant e Vhils, Rua Senhora da Glória. Esta pintura, pertencente ao projecto Universal Personhood de Obey Giant que visa promover a paz, igualdade e humanidade, evoca a discriminação dos direitos das mulheres nos países árabes.
“Universal Personhood” de Obey Giant e Vhils, Rua Senhora da Glória, em 2021

A primeira, que já referimos em Causas e Manifestos em Arte Urbana de Lisboa, situa-se no nº 39 da Rua Senhora da Glória e foi realizada em colaboração com Vhils.

Esta pintura, pertencente ao projecto Universal Personhood de Obey Giant que visa promover a paz, igualdade e humanidade, evoca a discriminação dos direitos das mulheres nos países árabes.

“Peace Guard” de Obey Giant, Rua Natália Correia. Retrata uma mulher fardada que empunha uma espingarda da qual desponta uma flor vermelha. Versão original e versão retocada.
“Peace Guard” de Obey Giant, Rua Natália Correia, em 2021 e em 2024

A segunda, intitulada Peace Guard, encontra-se na empena de um prédio da Rua Natália Correia. Retrata uma mulher fardada que empunha uma espingarda da qual desponta uma flor vermelha.

Esta recorda-nos o simbólico e importante gesto protagonizado por uma figura feminina na revolução de Abril de 1974. O cravo oferecido por Celeste a um soldado que o colocou na ponta da espingarda, tornou esta flor vermelha símbolo desta pacífica revolução.

Em 2023, Obey Giant esteve em Lisboa a propósito da sua exposição individual na Underdogs Gallery e aproveitou esta ocasião para retocar o mural, reforçando a importância do tema que este retrata através da conjugação de novas cores.

Era Uma Vez

“Era Uma Vez” de Isa Silva, Rua Natália Correia, em 2021

Também em 2017 foi realizado um mural artístico na fachada exterior da Escola Básica Natália Correia, proposto no âmbito do Orçamento Participativo de Lisboa.

Este trabalho intitulado Era Uma Vez é da autoria da ilustradora Isa Silva. Nele podemos encontrar personagens, maioritariamente femininas, de contos infantis como o Capuchinho Vermelho, Cinderela, Branca de Neve, A Bela Adormecida, Alice no País das Maravilhas ou A Menina do Mar.

Contos estes que nos transmitem mensagens e valores morais que põem em evidência a superação das personagens sobre as vicissitudes da vida. 

Mural Dia da Mulher

Dia da Mulher, Rua Josefa de Óbidos, em 2021

Em 2020, no Dia Internacional da Mulher, a Junta de Freguesia de São Vicente juntou-se ao colectivo intercultural de arte urbana YESYOUCAN.SPRAY, na iniciativa de convidar 17 artistas femininas, entre elas, Moami, para pintar o muro que circunda a sede da Junta, na Rua Josefa de Óbidos.

Para além de alertar para a violência doméstica sobre as mulheres durante o período de confinamento devido à pandemia, uma outra mensagem foi associada a esta intervenção artística, a da “necessidade da eco-revolução numa perspectiva feminina”.

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Natália Correia

Mural de homenagem a Natália Correia da autoria de Mafalda M. Gonçalves.
Mural de homenagem a Natália Correia de Mafalda M. Gonçalves, Rua Natália Correia, em 2024

“A Natália é uma composição pensada onde a figura roda 360° através da inclusão de uma silhueta a rosa do lado direito, onde destaco a imagem de marca dela, o cigarro.”. 

Mafalda M. Gonçalves apresenta assim o seu mural de homenagem a Natália Correia que faz parte de um conjunto de 3 intervenções, realizadas em 2022. Encontram-se na zona de acesso dos edifícios municipais, localizados na Rua Natália Correia, tornejando para a Rua de Sapadores.

Esta iniciativa da Gebalis – Gestão do Arrendamento da Habitação Municipal de Lisboa, no âmbito do projecto Programa Lotes ComVida, permitiu aos moradores que escolhessem os temas de cada um dos murais: para além da reconhecida poetisa, dois outros motes estreitamente ligados ao bairro da Graça, as Festas de Lisboa e o emblemático eléctrico 28, também foram seleccionados.

Chegámos ao fim deste roteiro especial de arte urbana do Bairro da Graça. Esperamos desta forma contribuir para a construção de uma Lisboa plural e solidária, chamando a atenção para os problemas de discriminação ainda existentes na sociedade e, neste caso em particular, para a discriminação de género.


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