Apesar de o nosso convidado de hoje apenas residir há 6 anos em Lisboa, é já um profundo conhecedor e rendido apaixonado por esta cidade. Em Lisboa em Nós de Alexis Passechnikoff, conta-nos a sua interessante história como coleccionador, actividade que o trazia regularmente a Lisboa quando ainda residia no Porto.
O meu primeiro contacto com Lisboa, foi quando aterrei no então Aeroporto da Portela, em julho de 1954, vindo da Bélgica num quadrimotor a hélice, acompanhando os meus pais para viver na cidade do Porto, onde o meu pai ia trabalhar como engenheiro químico. Como só pernoitamos uma noite, não me lembro de nada de relevante de Lisboa, excetuando o jantar, que foi linguado no forno com banana, prato já pouco habitual na restauração.
Desde a minha juventude, sempre tive mentalidade de colecionador, principalmente de coleções que não eram habituais. Uma das principais, foi a do filumenismo (etiquetas e carteiras de fósforos), tendo-me especializado naquelas da antiga U.R.S.S., em que cheguei a ter quase 75.000 exemplares diferentes. Como essa coleção se baseava principalmente em trocas com colecionadores tanto do país como de outros, comecei a deslocar-me de vez em quando a Lisboa, a fim de visitar e efetuar permutas e compras com colecionadores dessa cidade, com quem fiz grandes amigos.
Nessas visitas à capital, adorava passear nas principais ruas da Baixa, cujas montras eram apelativas; também adorava atravessar o Tejo no cacilheiro em direção a Cacilhas, comer sardinhas nos restaurantes do Ginjal, ver Lisboa a partir dessa margem, sobretudo à noite e, noutras alturas, quando regressava mais cedo, assistir por vezes a magníficos pores-do-sol.
Durante muitas décadas, fui pescador submarino e, além da pesca, recolhia devido às suas curiosas formas, chumbadas que os pescadores à cana davam por perdidas nas penedias marítimas; essa recolha, feita a partir do ano de 1971, deu origem à minha primeira coleção de etnografia marítima que, no seu seguimento, alargou o meu panorama para o universo ergológico da pesca à linha do bacalhau.
Essa pesquisa, também me deu hipóteses de visitar mais assiduamente Lisboa, como base para visitar os núcleos piscatórios de Sesimbra, Setúbal, Ericeira, Peniche, etc., onde ia obtendo exemplares para a minha coleção e vivenciando relatos de antigos pescadores bacalhoeiros. Também devido a essa nova coleção e aquando da “Expo´98 – Os Oceanos, um Património para o Futuro”, visitei todos os pavilhões, a fim de ampliar os meus conhecimentos marítimos.
Nessas idas a Lisboa, visitava muitas vezes o Museu de Marinha, de Arte Popular, de Etnologia, bem como os organismos ligados à pesca do bacalhau, assim como lojas comerciais de apetrechos náuticos. Essa coleção deu origem a várias exposições nalguns museus do país, nomeadamente a primeira, comemorativa do Cinquentenário da Comissão Reguladora do Comércio de Bacalhau, no ano de 1984, no edifício dessa Comissão, atual Museu do Oriente.
Sempre me cingi no lema que colecionar é uma das formas de manter presente o passado e, sobretudo, transmitir às gerações vindouras, a sequência evolutiva e a ordem de determinados objetos.
Mudança para Lisboa
No ano de 2015 e por várias razões, vim residir para Lisboa e, devido a manifesta falta de espaço, tive de leiloar a maior parte das coleções de etnografia marítima.
Logo nesse ano e quando deambulava pelas zonas antigas de Alfama, Mouraria, Madragoa, etc., deparava-me nas fachadas de algumas casas, com lápides representando belíssimas embarcações de várias tipologias, algumas anteriores ao Terramoto.
Automaticamente, na minha mentalidade de colecionador e investigador, surgiu a necessidade de fotografar essas lápides, tentando organizar uma coleção virtual que já deu alguns frutos na preservação fotográfica de lápides que já não existem, tendo sido algumas destruídas sem dó nem piedade!
No princípio, baseei essa recolha fotográfica na obra “Pedras que Falam do Mar”, do falecido Coronel Nuno Valdez dos Santos, datada de 1985, em que constam as fotos e localização exata de quase cem exemplares de lápides e azulejos com embarcações; por conseguinte, fui visitar todos os locais onde elas estavam referenciadas a fim de fotografá-las, o que me permitiu conhecer a capital em meandros que, caso não fosse essa pesquisa, nunca teria conhecido, nem em sonhos!
Nesse seguimento, e sempre com a ideia marítima, fui também fotografando as sereias “entaladas”, que tenham um barco ou uma concha na mão, todo o tipo de golfinhos, peixes e também a barca de São Vicente e respetivo par de corvos nas suas múltiplas representações em vários edifícios, escolas, quartéis de bombeiros, órgãos camarários, etc., demonstrando o amor que os lisboetas têm pelo seu símbolo e patrono. Também tenho especial apetência pelas belas caravelas inseridas no empedrado das calçadas portuguesas, daquelas fundidas nas tampas de saneamento, dos cataventos, etc.
Estas coleções fotográficas, já me permitiram conhecer novos amigos que também se dedicam a essas investigações e com quem vou mantendo correspondência podendo desse modo, alargar o nível da pesquisa.
Por fim, sinto-me feliz por viver em Lisboa, numa freguesia que me dá acesso tanto a pé como em vários transportes, a várias zonas da capital, que me dão com a minha mulher, também amante do nosso país, sempre hipóteses de nos deslumbrarmos com os antigos palácios, belíssimas fachadas nas Avenidas da Liberdade, da República, Almirante Reis, etc. e, principalmente, com a amplitude do Rio Tejo e de quase todas as vielas lisboetas.
Lisboa em Nós de Alexis Passechnikoff | |
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Mini apresentação | Alexis Passechnikoff, nascido na Bélgica no ano de 1945, filho de pai russo e mãe belga, casado, funcionário bancário aposentado e residente em Lisboa desde o ano de 2015, na freguesia de Campo de Ourique |
Um local inspirador | A vista de Lisboa a partir do Restaurante Panorâmico, nos Montes Claros, em Monsanto |
Uma visita imperdível | Museu de Marinha, em Belém |
Água na boca com… | Jaquinzinhos com açorda de coentros |
Uma música… | Porto de Mágoas de Dulce Pontes |
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