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A afirmação de uma Lisboa plural e solidária está presente em marcos simbólicos que encontramos espalhados pela cidade.
Em 1945 vivia-se o rescaldo das duas grandes guerras mundiais que provocaram milhões de mortos, destruição, fome e miséria.
Então, delegados de 50 países reuniram-se em São Francisco com o objectivo de, nas suas palavras “… salvar as gerações futuras do flagelo da guerra, que por duas vezes na nossa vida trouxe incalculável sofrimento à Humanidade…”.
É neste contexto que são elaborados os trinta artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, adoptada pelas Nações Unidas no dia 10 de Dezembro de 1948.
Com esta declaração propõe-se: “… o advento de um mundo em que os seres humanos sejam livres de falar e de crer, libertos do terror e da miséria, … [em que] todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos.”
É da cidade multicultural e das intervenções artísticas que afirmam uma Lisboa defensora dos direitos humanos que hoje lhe falamos.
Construção da Lisboa Plural e Solidária
Lisboa nasceu a meio caminho entre o norte da Europa e o Mediterrâneo.
Local de novas oportunidades, de encontro ou de refúgio, desde os seus primórdios desenvolveu-se com base na diversidade cultural, religiosa, étnica…
Uma pluralidade que alternou ao longo dos séculos entre tempos de pacífica convivência e miscigenação e dramáticos episódios de intolerância e fanatismo.
Hoje Lisboa continua a ser um pólo de atracção para pessoas de toda a parte do mundo que procuram oportunidades de melhores condições de vida ou que, simplesmente, aqui permanecem encantadas pela cidade e as suas gentes.
Apesar de Lisboa ser indiscutivelmente uma cidade multicultural, cosmopolita e na generalidade receptiva ao que chega do exterior, ainda persistem preconceitos enraizados que só podem ser justificados pelo desconhecimento das suas próprias origens e da sua história.
Descriminações de carácter étnico, religioso, sexual ou de género estão, apesar de dissimuladas, ainda presentes. Infelizmente não atingimos um nível de evolução e conhecimento que permita que estes assuntos deixem de ser tema de debate. Quem atingiu?
Muito há a aprender, a consciencializar, no sentido de construir uma sociedade que se quer mais que tolerante, inclusiva e solidária.
Neste sentido o papel da CML – Câmara Municipal de Lisboa é fundamental, não só no seu próprio comportamento efectivado em acções concretas no terreno, mas também em actos simbólicos como são os que se perpetuam nos marcos que hoje lhe trazemos.
Marcos de uma Lisboa Plural e Solidária
Para falar de marcos simbólicos de uma Lisboa plural e solidária é obrigatório começar pelo Largo de São Domingos. Este não é um local de boa memória e, por isso mesmo, é aqui que encontramos três memoriais que nos falam de diálogo entre culturas.
Largo de São Domingos, Três Referências em Diálogo
Foi em 1506, ano de peste, fome e seca severa que assolou Lisboa, que tiveram lugar os acontecimentos que desencadearam o massacre dos cristãos-novos. Judeus há nove anos convertidos à força, através de um baptismo colectivo que encheu o Rossio, foram acusados de ser os causadores dos fenómenos que castigavam a cidade.
A 19 de Abril desse ano, atiçada por frades dominicanos fanáticos, parte da população de Lisboa enlouquecida perseguiu, torturou e barbaramente matou e queimou, milhares de cristãos-novos.
Um cenário macabro de genocídio que durou três dias e que marcou a cidade com um sentimento de vergonha. O rei D. Manuel, que então se encontrava ausente da cidade, retirou-lhe o título de “MUI NOBRE E SEMPRE LEAL CIDADE DE LISBOA”, para além de ter promovido o julgamento dos culpados morais e a sua condenação à morte.
Um triste momento da história que quase foi erradicado da nossa memória porque incomodava lembrar.
Mas a história não se apaga e deve ser conhecida exactamente para que sirva de aprendizagem, a fim de evitar que erros do passado se tornem a repetir.
Nesse sentido, no dia 22 de Abril de 2008, Ano Europeu do Diálogo Intercultural, foram inaugurados três memoriais no Largo de São Domingos: um judeu que recorda o massacre; um cristão que evoca o pedido de perdão feito oito anos antes pelo patriarca de Lisboa e um da CML, que consiste num mural onde a frase “Lisboa, cidade da tolerância” foi inscrita em 34 línguas.
Três marcos simbólicos distintos que convivem, dialogam e procuram consciencializar, mas que infelizmente não se encontram no estado de conservação que merecem. Muito há a aprender sobre respeito, não só pelo outro como pelo património edificado que é de todos…
Laje em Honra das Vítimas da Fome, da Ignorância e da Violência
No dia 17 de Outubro de 1987, foi inaugurada uma laje em honra das vítimas da pobreza, na Praça dos Direitos Humanos e das Liberdades Fundamentais em Paris, o local onde foi assinada a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Desde então, um pouco por todo o mundo, têm sido reproduzidas réplicas destas lajes e Lisboa também tem a sua.
Foi instalada na calçada da Rua Augusta junto ao Arco do Triunfo da Praça do Comércio no dia 17 de Outubro de 1994 e recorda a importância da erradicação da pobreza, um dos compromissos garante dos Direitos Humanos.
Homenagem do Povo de Lisboa às Vítimas do 11 de Setembro
Passava apenas um mês sobre os atentados terroristas do dia 11 de Setembro de 2001, quando em Lisboa foi erigido um monumento de homenagem às suas vítimas.
A iniciativa da CML contou com a oferta do escultor Augusto Gil que procurou, com esta obra produzida em metal, recriar os destroços do World Trade Center.
Encontra-se no cruzamento da Av. EUA com a Av. de Roma, na zona das Avenidas Novas.
Um Jardim Pela Paz
Em 2001, no Jardim da Paz, também conhecido por Jardim Maria de Lourdes Pintassilgo, localizado na Colina de Santana, foi erguido o marco Um Jardim Pela Paz.
Este é constituído por um obelisco de pedra, implantado no centro de uma colorida mandala de mosaicos, onde se lê: “Enquanto existir o Espaço, enquanto aí existirem Seres, possa eu também permanecer para dissipar a dor do Mundo. Shantideva (filósofo indiano do séc. VIII).
Foi inaugurado no dia 28 de Novembro pelo 14º Dalai Lama, Prémio Nobel da Paz, aquando da sua estada em Lisboa e pelo então presidente da Câmara Municipal Dr. João Soares.
Um monumento discreto e equilibrado integrado num pequeno e tranquilo jardim.
Monumento de Homenagem às Vítimas de Homofobia
Já lhe falámos deste interessante monumento de homenagem às vítimas de homofobia, no nosso artigo Arte Pública do Jardim do Príncipe Real.
Um memorial importante inaugurado em Junho de 2017, da autoria do escultor Rui Pereira, que convida à introspecção e à reflexão na construção da Lisboa plural e solidária.
Espaço Václav Havel
Também no Jardim do Príncipe Real foi inaugurado, no dia 22 de Junho de 2017, um memorial de homenagem ao primeiro presidente da República Checa, Václav Havel (1936-2011). Este, concebido pelo designer checo Bořek Šípek, pretende representar um lugar de encontro para a promoção do diálogo, da discussão e da liberdade de expressão.
Mural Amnistia Internacional e Hannah Arendt
Em 2018, o Dia Internacional dos Direitos Humanos e simultaneamente o 70º aniversário da sua Declaração Universal foram comemorados em Lisboa através de várias iniciativas, das quais ficaram duas intervenções: o Mural Amnistia Internacional e uma homenagem a Hannah Arendt.
O primeiro consiste num mural de azulejos de grandes dimensões, situado na Rua Carlos Alberto Mota Pinto nas Amoreiras.
Foi concebido no âmbito do projecto Art for Amnesty da Amnistia Internacional e é da autoria do checo Petr Sís, um conceituado e premiado ilustrador.
Neste painel encontra-se representada uma ave formada por 30 pássaros. Esta é uma evocação a um livro de poemas persa do séc. XII, A Conferência dos Pássaros, que nos conta como os pássaros do mundo se reuniram para decidir quem deveria ser o seu rei. O mais sábio sugeriu que deveriam procurar Simorgh, um pássaro mítico, figura que se identifica com Deus. Muitas aves desistiram da viagem, revelando cada uma as diversas falhas humanas que impedem atingir a iluminação. Apenas 30 chegaram ao seu destino. Nessa altura descobriram que o rei que procuravam eram eles próprios.
Quando passar por este painel vai, certamente, vê-lo com outros olhos!
A homenagem a Hannah Arendt, filósofa alemã, judia, é mais discreta.
Trata-se de duas faixas em dois degraus, presentes no cruzamento entre a Rua da Sociedade Farmacêutica e a Rua Conde de Redondo.
Uma destas faixas assinala a presença em Lisboa da refugiada do regime nazi, entre Janeiro e Maio de 1941.
Na outra está inscrita uma frase sua: “A comunidade dos povos da Europa estilhaçou-se no momento em que permitiu que os seus membros mais vulneráveis fossem excluídos e perseguidos”. Esta citação remete-nos para a importância da protecção e direitos devidos a refugiados e apátridas, consagrados na Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Mural de Azulejos Carta de Lisboa
O último marco que lhe trazemos data de 2019 e relaciona-se com a Carta de Lisboa – Direitos e Responsabilidades. Uma proposta que nas suas próprias palavras “… tem por ambição dotar a cidade de um documento que consagre os direitos de cidadania e as responsabilidades dos poderes autárquicos, das organizações sociais, e de todas as pessoas que nela habitam, trabalham, estudam e a visitam.”
A fim de celebrar a realização deste documento, foi executado um painel de azulejos que resultou de uma parceria entre a CML e a Galeria Ratton que então completava 30 anos.
Encontra-o no Jardim Fernando Pessa, espaço ajardinado que se situa por detrás do Fórum Lisboa, local onde reúne a Assembleia Municipal.
Ali estão ilustrados, por outros tantos artistas plásticos, os 11 direitos e responsabilidades consagrados na Carta: Habitação, Protecção, Ambiente, Inclusão, Lazer, Participação, Saúde, Trabalho, Solidariedade, Educação e Cultura.
Respeitando e afirmando as diferenças, caminhemos Todos no sentido de construir uma sociedade inclusiva, igualitária em direitos e obrigações. Uma Lisboa plural e solidária, onde estes marcos deixem de fazer sentido… por agora ainda fazem e muito!
Nota: Artigo original publicado em 4/11/2020.
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