Os raros exemplares de mosaico italiano nas ruas de Lisboa podem ser considerados um tesouro escondido à vista de todos.
Os mosaicos de que hoje lhe falamos são produções datadas do final de oitocentos, início de novecentos. Resultam de um gosto revivalista ecléctico característico do movimento romântico deste período.
Provavelmente outros de idêntica qualidade podem ser apreciados no interior de palacetes, mas são os que observámos em espaços públicos que lhe queremos revelar.
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Breve Abordagem aos Mosaicos Artísticos
Os mosaicos são revestimentos decorativos de superfícies móveis ou fixas usadas no interior ou no exterior, compostos por pequenas peças coloridas que justapostas formam um desenho mais ou menos elaborado. As peças ou tesselas podem ser de diversos materiais: argilas, pedras, vidros, esmaltes, entre outros.
Esta expressão artística tem possivelmente origem na Mesopotâmia, mas foi largamente difundida pelo vasto Império Romano. Existem inúmeros exemplares de painéis e pavimentos de mosaico romano, um pouco por toda a Europa e norte de África.
Mais tarde a arte do mosaico vai ser a expressão máxima dos primeiros cristãos, sendo famosas as grandiosas obras das igrejas Bizantinas.
Ao longo dos tempos, o mosaico foi perdendo terreno para a pintura, entrando em declínio a partir do Renascimento.
Contudo, no período Barroco as artes decorativas voltam a ganhar novo fôlego e arriscamos dizer que os projectos realizados em mosaico mais elaborados e perfeitos são deste período.
É o caso dos magníficos mosaicos italianos do séc. XVIII da Capela de São João Baptista, na Igreja de São Roque, em Lisboa.
No séc. XIX o gosto ecléctico e revivalista recupera esta arte e são deste contexto, os raros exemplares de mosaico italiano nas ruas de Lisboa que trazemos até si.
Mosaico Italiano nas Ruas de Lisboa
Para partir ao encontro desta arte decorativa precisa caminhar um pouco por esta cidade das Sete Colinas. Os exemplares são poucos mas encontram-se dispersos entre a Colina de Santana, a Avenida da Liberdade, Campo de Ourique e as Avenidas Novas. Estas são zonas privilegiadas no que respeita a edificações ricas em aspectos decorativos, da passagem do séc. XIX para o séc. XX.
Palacete Virtus, Rua de Júlio de Andrade
No n.º5 da Rua de Júlio de Andrade encontramos o palacete Virtus, uma construção de gosto ecléctico projectada pelo arquitecto italiano César Janz.
Este arquitecto vem para Portugal no final da década de 80 do séc. XIX, recrutado através de um concurso internacional que pretendia colmatar a carência de professores qualificados para o Ensino Técnico Industrial e Comercial, então em desenvolvimento.
O palacete foi construído para moradia de Júlio Andrade, um rico banqueiro de Lisboa. De linhas clássicas, veio mais tarde a sofrer algumas transformações pela mão do arquitecto Norte Júnior.
Surpreende-nos entre duas janelas, num nicho rematado por um arco de volta perfeita, um painel de grandes dimensões, constituído por mosaico italiano.
Vemos representada sobre fundo dourado, rodeada de flores e trajando à grega, uma figura feminina descalça. Armada de arco e estojo com flechas, exibe os atributos, geralmente, associados à deusa grega Ártemis, ou à romana Diana, deusa da caça. Na mão esquerda empunha um cacho de uvas e na direita uma taça com vinho. Esta representação remete-nos para uma figura de convite que nos saúda e exalta a fertilidade da natureza.
Casa Lambertini, Avenida da Liberdade, n.º 166
O n.º 166 da Avenida da Liberdade corresponde à Casa Lambertini, propriedade de Michel’Angelo Lambertini (1862-1920), um importante pianista, maestro, compositor, musicólogo, editor e comerciante de instrumentos musicais.
Trata-se de um edifício projectado em 1901 pelo arquitecto veneziano Nicola Bigaglia (1841-1908). Estamos de novo perante um arquitecto italiano, recrutado em 1888 pelo Estado português como professor.
Este arquitecto desenvolveu inúmeros projectos em Lisboa, tendo ganho prémios importantes dos quais destacamos o Prémio Valmor de 1902 com o Palácio Lima Mayer, e uma Menção Honrosa do mesmo prémio de 1904 com o projecto que agora abordamos.
A sua construção teve muito impacto em Lisboa, sendo inclusive apreciada e descrita em publicações da imprensa da época.
Este edifício de gosto ecléctico, em estilo neo-veneziano, exibe na sua fachada mosaicos especialmente importados de Veneza.
Sobre fundo dourado, uma moldura de hera, símbolo de permanência, rodeia duas cartelas suspensas por fitas e laços azuis onde estão inscritas as expressões DOMUS QVIETA /FACULTAS CERTA, ou seja Casa Tranquila/Fazenda Certa. Junto às cartelas, rosas brancas e romãs que simbolizam respectivamente, pureza e fertilidade, completam a composição e a ideia.
Apesar de ter sofrido alterações importantes em 1927 e em1939 com o acrescento de mais um andar, o exterior do edifício não perdeu o seu carácter e os mosaicos encontram-se conservados.
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Jazigo da Família Franco Mantero, Cemitério dos Prazeres
Para se deslumbrar com o melhor destes exemplares de mosaico italiano nas ruas de Lisboa que lhe apresentamos tem de se dirigir ao Cemitério dos Prazeres em Campo de Ourique e procurar o jazigo n.º 4920 da família Franco Mantero.
Francisco Mantero (1853-1928) nascido em Espanha, com origens em Génova, foi um proprietário e explorador de roças em São Tomé, Angola, Moçambique e Timor. Em 1916 fixou definitivamente residência em Lisboa onde veio a falecer.
O seu jazigo de família, também da autoria do arquitecto Nicola Bigaglia, é um dos mais belos do Cemitério dos Prazeres. A construção revivalista neo-bizantina chama a atenção pelas suas grandes dimensões e pelo colorido e impressionante mosaico que se observa na fachada principal sobre o portal. A composição ocupa todo o tímpano, representando um retrato de Cristo inserido numa cartela circular, rodeado de lírios brancos sobre fundo dourado.
Moradia António Bravo, Av. 5 de Outubro, n.º 209
Da autoria de Porfírio Pardal Monteiro (1897-1957), um dos arquitectos que marcou a cidade de Lisboa na 1ª metade do séc. XX, encontramos na Avenida 5 de Outubro uma magnífica moradia unifamiliar que exibe na sua fachada principal três painéis idênticos de mosaicos coloridos.
Projectada em 1926 e galardoada com o prémio Valmor de1929, consiste numa proposta inovadora em estilo Art Déco. Neste projecto salienta-se o equilíbrio volumétrico e harmonia das formas e elementos decorativos.
O movimento Art Déco marca a passagem dos processos construtivos tradicionais para a arquitectura moderna. Mas se esteticamente se aproxima desta propondo linhas rectas e depuramento de formas, ainda mantém o gosto pelo decorativismo e a utilização das práticas tradicionais do saber fazer.
Os painéis de mosaicos apresentam coloridas molduras polilobadas com representações de rosas vermelhas e folhas verdes sobre fundo dourado. Desconhecemos a origem da execução dos painéis mas, e apesar da datação e estética mais tardia, pelo colorido e utilização de tesselas irregulares, pensamos que se aproxima dos exemplos anteriores e não os poderíamos deixar de referir neste contexto.
Curiosidade
A utilização de madeiras nobres, estuques trabalhados, revestimentos em mármore, ou mosaicos não estava ao alcance de todas as bolsas. Mas o gosto e a criatividade sempre contornaram esta dificuldade.
A técnica do Trompe-l’oeil ou Pintura Fingidora é antiga e quando executada por artistas de qualidade leva-nos por vezes a embaraçosos enganos. Quem não foi já confrontado com uma parede de mármore que afinal não passa de cal, ou um tecto pintado que nos ilude um magnífico trabalho de estuque?
Trata-se de uma técnica artística com origem na antiguidade mas muito explorada e aperfeiçoada no período Barroco. Consiste em criar ilusões de óptica, através de truques de perspectiva criando a sensação de profundidade e abertura de espaço, reprodução de elementos arquitectónicos como portas ou janelas, ou ainda a imitação de materiais diversos.
Estas técnicas ilusionísticas eram comuns em igrejas, palacetes, prédios de arrendamento ou lojas.
No que respeita a simulação de mosaico encontrámos uma bem curiosa. Trata-se de uma pintura em vidro que remata as montras de uma loja na Rua Garrett, em pleno Chiado …
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Esperamos que tenha gostado desta nossa abordagem ao mosaico italiano nas ruas de Lisboa, cidade que a getLISBON lhe quer continuar a revelar.
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