Hoje revelamos-lhe factos que com certeza o irão surpreender e de que muitos nunca ouviram falar, a singular história das chitas de Alcobaça no séc. XX.
Pensamos ser fundamental divulgá-la, não só pelo valor histórico, cultural e artístico destes tecidos, mas também porque a história dos dois responsáveis por ainda existir produção de padrões de Alcobaça merece ser conhecida.
Após a publicação do nosso artigo As Chitas de Alcobaça, uma Herança Cultural em Risco, recebemos o contacto de uma das nossas seguidoras, manifestando satisfação por termos falado sobre este fantástico tecido português.
Contou-nos então que a família de uma amiga sua esteve estreitamente ligada a esta indústria e que o responsável máximo do negócio, gostando do nosso artigo, o considerou incompleto. Faltava contar uma parte importante da história e ele estava disposto a partilhá-la connosco.
Prontamente decidimos aproveitar a oportunidade.
Tivemos imensa sorte e honra por termos conhecido o Engº Elísio Sopas que muito amavelmente nos recebeu na cidade do Porto, para nos contar a história das chitas de Alcobaça no séc. XX.
Vamos então revelar-lhe o que ele nos contou.
A História das Chitas de Alcobaça no Séc. XX e os seus Impulsionadores
Foram dois os impulsionadores, pai e filho, que em momentos distintos do séc. XX tiveram relevantes papéis na revitalização dos padrões das chitas de Alcobaça.
Vamos por isso dividir esta história em duas partes.
Anos 50 do Séc. XX – Elísio Sopas pai
Recuamos até ao início dos anos 50 do séc. XX, altura em que Elísio Sopas pai era dono do Armazém dos Linhos, estabelecimento de venda de tecidos, na cidade do Porto desde 1905.
Era uma época muito diferente da que vivemos hoje. O empresário, para auscultar as necessidades do mercado e apresentar e vender os seus produtos noutros pontos do país, tinha de se deslocar ao encontro dos seus clientes.
Para além de portador de novidades comerciais, era também transmissor de notícias dos locais por onde ia passando. Por isso, era convidado a frequentar as casas dos seus parceiros de negócio onde se travavam agradáveis momentos de convívio. Com o passar dos anos criaram-se amizades e familiaridade tendo, inclusivamente, sido padrinho de casamento de alguns do seus clientes.
Numa das suas viagens à zona de Alcobaça, reparou numa colcha antiga em chita em casa de um cliente onde pernoitou. Ficou maravilhado com o belíssimo padrão e não lhe poupou elogios. O cliente por cortesia fez questão de lha oferecer.
Esta foi uma das circunstâncias para a mudança na realidade dos padrões de Alcobaça.
Pela mesma altura, a Empresa Fabril do Norte (mais tarde conhecida por EFANOR), fornecedora do Armazém dos Linhos, tinha adquirido máquinas para estampar e convidou Elísio Sopas pai a apresentar ideias de padrões. Foi desta circunstância que o empresário mandou executar a reprodução do padrão da colcha que lhe tinha sido oferecida.
Estávamos no pós-guerra, um período economicamente complicado. Para que o tecido pudesse chegar ao grande público, a estampagem foi realizada em telas económicas, com a largura mais vulgar na época, 0,70m.
O tecido de vistoso e colorido padrão foi um êxito de vendas.
Graças à sensibilidade e à visão de Elísio Sopas pai, estava dado o primeiro e decisivo passo na recuperação dos padrões de Alcobaça.
Perante este sucesso foi ainda recuperado outro padrão, designado desenho 2…
Anos 80 do Séc. XX – Elísio Sopas filho
Com o falecimento de sr. Elísio Sopas, em 1983, o estabelecimento enfrentou um dilema: ou encerrava ou alguém da família com dinâmica e empreendorismo tomava conta do negócio.
Perante este cenário o seu filho, formado pela Universidade Haute-Alsace em Mulhouse (França), decide conciliar a sua profissão de engenheiro têxtil e o negócio da família. Em boa hora o fez, será ele o segundo responsável pela recuperação de desenhos antigos!
O Engº Elísio Sopas contou então com a valiosa colaboração de um tio que ali trabalhava há muito e que estava a par de toda a actividade da empresa. Esta parceria foi muito importante no início da nova era do Armazém dos Linhos. Constatou-se que o tecido estampado com maior êxito da história da empresa tinha sido o do padrão copiado da colcha antiga, o denominado desenho 1.
O novo empresário tomou a decisão revolucionária de o voltar a estampar, mas agora em telas de melhor qualidade, 100% algodão, com a largura de 1,50m, apostando assim num produto com possibilidades de aplicação mais vastas para um público mais exigente.
Quando este foi apresentado despertou nos clientes a recordação do padrão que tinha sido lançado havia muito tempo; a reacção foi de grande entusiasmo.
A rapidez de escoamento do artigo levou o Engº Elísio Sopas a decidir o novo rumo do negócio, passando a investir em tecidos estampados exclusivos. Conferiu ainda uma nova imagem aos artigos, criando uma marca exclusiva de chitas de Alcobaça, baptizando-a de Colecção Elipas e deu nome a cada um dos padrões que foi recuperando.
Sugerimos a leitura do artigo A Origem dos Nomes das Chitas de Alcobaça – Colecção Elipas, onde estão reveladas as imperdíveis e curiosas histórias inerentes a cada um dos padrões.
Visibilidade e Reconhecimento
Em 1987 realizou-se uma exposição em Alcobaça de chitas, para a qual foram solicitadas amostras de tecidos ao Armazém dos Linhos. Os tecidos foram expostos com a respectiva informação sobre o produtor, o que permitiu a promoção dos artigos fabricados. A mesma exposição foi realizada, meses mais tarde, no Palácio Nacional da Ajuda em Lisboa o que trouxe ainda mais visibilidade às chitas de Alcobaça.
Os anos seguintes foram autênticos anos de ouro, a procura era imensa, mais padrões foram produzidos e resultavam sempre em grandes êxitos. E o Armazém dos Linhos tornou-se o maior estabelecimento de comércio de chitas de Alcobaça do país.
Mas como sabemos, a moda vai e vem…
Em Março de 1997, a revista inglesa The World of Interiors publicou um artigo sobre as chitas de Alcobaça, reconhecendo a qualidade dos seus desenhos e o seu grande valor decorativo.
Com esta divulgação mundial o Armazém dos Linhos recebeu imensos contactos de pessoas interessadas, muitas delas da diáspora portuguesa. Este entusiasmo deveu-se muito ao reavivar das memórias das casas decoradas com este tecido, nos anos 50/60.
Contudo, em termos de resultado comercial não produziu grandes efeitos, tendo conseguido a exportação de pouca expressão para Itália e Espanha.
A grande paixão do Engº Elísio Sopas pelas chitas de Alcobaça levou-o à dedicação máxima na recuperação e divulgação deste tão característico tecido português.
Apesar de estar afastado da sua produção e comercialização, desde 2011, altura em que trespassou o seu estabelecimento, pudemos sentir o seu grande entusiasmo que se revelou em cada palavra ao contar-nos esta singular história das chitas de Alcobaça no séc. XX.
Ficámos imensamente gratas ao Engº Elísio Sopas por esta enriquecedora e significativa partilha que nos proporcionou, sobre o decisivo papel do seu pai na recuperação dos padrões Alcobaça.
Agradecemos-lhe ainda o seu próprio contributo na continuidade da produção e divulgação destes preciosos tecidos, que consideramos ter sido valioso!
Não perca os nossos artigos | Subscreva |
O projecto getLISBON tem sido muito gratificante. Queremos continuar a revelar singularidades da apaixonante cidade de Lisboa.
Ajude-nos a manter o projecto vivo!
Para isso, basta usar os links que disponibilizamos para fazer as suas reservas. Não lhe vai custar mais e para nós é uma grande ajuda!
• Encontre os melhores hotéis no Booking.com e usufrua dos 15% ou mais de desconto!
• Faça visitas guiadas e outros eventos culturais com a nossa parceira PEDDY+
• Se pretende uma experiência diferente, podemos elaborar um roteiro personalizado de acordo com os seus interesses. Fale connosco!
• Ou se prefere tours e outras actividades em vários destinos, faça a sua escolha na GetYourGuide
• Poupe tempo e dinheiro com o Lisboa Card!