Passeio por Cacilhas: Terra de Operários, Burricadas e Petiscos

Passeio por Cacilhas: Terra de Operários, Burricadas e Petiscos

Desta vez fazemos um passeio por Cacilhas. Um programa que inclui o rio Tejo, vistas deslumbrantes da cidade de Lisboa, cultura e gastronomia.

Quando o tempo aquece torna-se mais apelativo ir até junto do rio. O que não falta em Lisboa e nos seus arredores são passeios marítimos, onde podemos desfrutar de belas paisagens e onde a frescura das águas desafiam o estio.

Rumemos à margem sul tomando no Cais do Sodré um barco com destino a Cacilhas. A travessia é rápida e por isso não se distraia, pois quando der por isso chegou ao seu destino e perdeu a oportunidade de se deslumbrar com magníficas vistas das duas margens, da Ponte 25 de Abril e do Mar da Palha. É do meio do rio que melhor consegue compreender a ideia da cidade das Sete Colinas.

Com sorte talvez até possa avistar golfinhos, outrora frequentes, mais tarde totalmente desaparecidos mas que hoje vão sendo avistados por vezes de forma bastante efusiva.

A margem sul tem inúmeras atracções, locais aprazíveis que conjugam a natureza e a cultura como o Solar dos Zagallos, na Sobreda, ou a Casa da Cerca, em Almada. Locais que vale a pena conhecer num programa mais alargado para um dia inteiro.

Mas, hoje, ficamos pelo passeio por Cacilhas e ainda aproveitar para conhecer um pouco das suas histórias.

Cacilhas: Terra de Operários, Burricadas e Petiscos

Terra de Operários

Equipamento industrial abandonado testemunho de antigas actividades
Equipamento industrial abandonado testemunho de antigas actividades

Desde tempos muito recuados que Cacilhas e Almada atraíam gentes que aqui se fixavam. Primeiro garimpando ouro no Tejo, depois trabalhando nas diversas indústrias que se foram instalando ao longo do Cais do Ginjal, em terrenos gradualmente conquistados ao rio.

Se nos situarmos no séc. XIX e na 1ª metade do séc. XX constatamos duas ocupações distintas. No interior um ambiente rural de propriedades nobres de veraneio assim como hortas e quintas populares. Em contraste, junto ao rio, a via de comunicação suprema, um ambiente operário que encontrava sustento na intensa azáfama industrial e comercial que então prosperavam. Cortiça, salga e conservas de peixe, construção e reparação naval, entrepostos comerciais… assim como pequenas indústrias de apoio: fabrico de redes de pesca, latoaria, tanoaria entre outras.

A travessia do rio era feita em barcos tradicionais do Tejo de diversas tipologias, adaptadas ao transporte de pessoas e de diferentes bens. Depois substituídos por vapores e mais tarde pelas actuais embarcações, comummente designados por cacilheiros que diariamente transportam milhares de pessoas.

As duas margens estiveram sempre profundamente ligadas pelas actividades económicas que ali se desenrolavam, mas também pelo interesse lúdico.

Com efeito, há notícia da deslocação de nobres e de reis de diferentes períodos da história à margem sul a fim de realizar caçadas, usufruir de bons ares, participar em festividades ou mesmo passar períodos de férias. São os casos de D. Pedro I, famoso rei da 1ª dinastia, do rei consorte D. Fernando de Saxe Coburgo-Gotha, e de D. Pedro V que recuperou a aprazível Quinta do Alfeite mas cuja morte prematura não o permitiu aproveitar, deixando o usufruto ao rei D. Carlos I.



Burricadas

As Burricadas encontram-se eternizadas em descrições literárias e em fotografias amarelecidas que revelam pessoas entusiasmadas, por vezes eminentes personalidades, que se divertiam montando os burros.
Burricada – Imagem gentilmente cedida pelo coleccionador Luís Filipe Veiga

Desde tempos remotos que Cacilhas era conhecida como a terra dos burros. Não se tratava de uma atribuição maldosa às qualidades intelectuais das suas gentes, mas porque efectivamente aqui existiam muitos exemplares destes equídeos que constituíam verdadeira atracção turística.

Aos fins-de-semana as gentes mais abastadas de Lisboa iam passar o dia em passeio por Cacilhas. Ali ao desembarcar montavam os burros e consoante as suas posses optavam entre pequenos circuitos dentro da pitoresca localidade ou aventuravam-se mais longe em direcção ao Alfeite. Em Retiros e Casas de Pasto refrescavam-se e tomavam refeições ou demoravam em alegres piqueniques.

Estes circuitos que atraíam gentes de longe designavam-se burricadas. Encontram-se eternizadas em descrições literárias e em fotografias amarelecidas que revelam pessoas entusiasmadas, por vezes eminentes personalidades, que se divertiam montando os burros.

Petiscos

Uma deliciosa refeição com uma deslumbrante vista da cidade de Lisboa

A atracção das burricadas acabou por fazer florescer o comércio, principalmente a restauração. Durante muito tempo, em Cacilhas, folgava-se apenas à quinta-feira já que o domingo era o dia forte do negócio.

Actualmente o largo de Cacilhas (Largo Alfredo Diniz) e a Rua Cândido dos Reis, artéria que dá acesso a Almada, continuam a ter uma generosa oferta de restaurantes, cervejarias e marisqueiras.

Outrora também o Ginjal era lugar de restaurantes onde afamadas caldeiradas passaram a ser a atracção para os forasteiros depois de terem acabado os burros. Nessa altura os barcos atracavam junto aos restaurantes à porta dos quais se encontravam mulheres que vendiam mariscos variados, burriés, ostras, búzios, caranguejos, camarão do rio, berbigão, amêijoas…

Também essa atracção acabou, mudam-se os tempos mas a vontade de atravessar o rio permanece.

Decadente mas Charmoso Cais do Ginjal

Vista do cais do Ginjal. Hoje o passeio por Cacilhas continua a atrair gentes, principalmente turistas que se aventuram pelo agora decadente, mas nem por isso menos charmoso sítio do Ginjal.
Vista do cais do Ginjal

Hoje o passeio por Cacilhas continua a atrair gentes, principalmente turistas que se aventuram pelo agora decadente, mas nem por isso menos charmoso sítio do Ginjal. Apesar do abandono do local, que já conhece projecto de reabilitação, é emocionante atravessar este lugar de tantas vivências. São cerca de 1.500m junto ao rio que ligam o largo de Cacilhas onde se situa o Terminal Fluvial, ao sítio conhecido por Olho de Boi.

Desconhece-se a origem do nome Ginjal, mas calcula-se que nesta encosta, protegida pela alta arriba, aqui existissem várias árvores desta espécie. Na verdade ainda hoje existem dois ou três exemplares discretos.

No fim do passeio marítimo encontrará restaurantes de onde se avistam esplêndidos pores-do-sol assim como uma aprazível zona ajardinada junto ao elevador que o conduz ao centro de Almada histórica.

Mas um pouco mais à frente não pode perder a Fonte da Pipa e uma visita ao Museu Naval de Almada. Aqui pode ficar a conhecer segredos e memórias dos estaleiros de construção e reparação naval outrora existentes em Cacilhas e no Ginjal.

Daqui pode voltar para trás pelo mesmo caminho ou subir o elevador panorâmico e, passando pelo centro de Almada, regressar a Cacilhas.

Porém, depois deste passeio por Cacilhas, não volte a entrar no barco de regresso a Lisboa sem antes comer os sazonais caracóis ou refrescar-se com uma Sereia… um menu composto por uma cerveja de pressão gelada e um pires de deliciosos camarões que a Cervejaria Farol lhe serve desde há muito, sempre com qualidade.  😉

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No passeio por Cacilhas esteja atento:

  • Fonte da Pipa – fontanário monumental de 4 bicas, coroado pelo escudo com as armas reais de D. João V, data de 1736;
  • Igreja de Nossa Senhora do Bom Sucesso – edificada entre 1756 e 1759, tem a sua principal festividade numa procissão que se realiza no dia 1 de Novembro, como agradecimento pelo milagre que poupou Cacilhas ao maremoto que atingiu Lisboa aquando do terramoto de 1755;
  • Chafariz de Cacilhas – as nascentes de água situavam-se todas ao longo do Ginjal o que obrigava os cacilhenses a grandes esforços na obtenção deste precioso bem. Após exigência popular foi construído, em 1874 o Chafariz que ali permaneceu até ser demolido no final dos anos 40. A reivindicativa população fez valer a sua vontade e em 2012 foi construída uma réplica, monumento da história local, testemunho de antigas vivências;
  • Fragata D. Fernando e Glória – embarcação de guerra à vela que navegou entre 1845 e 1878. Actualmente é um Navio Museu da Marinha Portuguesa que se encontra em doca seca em Cacilhas;
  • Farol de Cacilhas – foi construído em França e inaugurado em 1886. Após 92 anos foi considerado obsoleto e desmantelado. Em 1983 um violento sismo na Ilha Terceira nos Açores destruiu um farol que foi provisoriamente substituído pelo Farol de Cacilhas. Após a construção de um novo, este equipamento voltou ao continente e mais uma vez, um movimento popular exigiu o regresso do velho farol a Cacilhas em 2009;
  • Edifício da antiga Estação Fluvial (conhecido por Parceria) – construído em meados dos anos 20 em estilo Art Deco, destinava-se e funcionou muitas décadas como sala de espera de embarque. Um espaço amplo com bancos corridos que dispunha de WC e quiosque para venda de jornais e revistas;
  • Calçada portuguesa em volta do chafariz de Cacilhas onde estão representados barcos tradicionais do Tejo e golfinhos;
  • Elevador Panorâmico da Boca do Vento – faz a ligação do Jardim do Rio a Almada Velha e permite uma vista panorâmica privilegiada sobre a cidade de Lisboa. Data do ano 2000.

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