Eileen é uma americana que planeava ficar apenas nove meses em Lisboa, mas acabou por não resistir ao charme do velho mundo… Em Lisboa em Nós de Eileen McDonough, esta artista e artesã explica-nos em que medida esta cidade a impressionou e o que a levou a dedicar-se a criar surpreendentes peças em mosaico.
Leia a versão original em Lisbon in Us by Eileen McDonough
Vim para Lisboa com um contrato de 9 meses… há 27 anos atrás, e fiquei.
Acho que abandonei acidentalmente a Corporate America.
Eu não pretendia deixar definitivamente o meu cargo em Washington, DC… mas já viram a calçada de Lisboa? Já viram os prédios cobertos de azulejos?
Como é que eu podia partir?
Lembro-me da primeira vez que desci a Avenida da Liberdade à noite, e como o reflexo das luzes na água da chuva batia nas pedras da calçada.
Parecia de outro mundo. Talvez seja o forte contraste da minha cidade natal, Pittsburgh, PA, com os seus muitos arranha-céus modernos (veja a foto). Pittsburgh também é uma cidade de rios (3 na verdade), muitas pontes, eléctricos, colinas íngremes. É impressionante, mas não tem o charme do velho mundo.
A magia das calçadas captou de tal modo a minha atenção, o meu pensamento, que eu não me conseguia libertar.
Então, depois de algum tempo a vaguear pelas ruas, hipnotizada, resolvi aprender a antiga arte do mosaico.
Imaginei que estando numa capital do azulejo, e dada a sofisticação da calçada, seria fácil encontrar uma oficina ou um curso.
Mas não parecia haver nenhum. Como isto foi num tempo anterior aos vídeos do YouTube, onde se pode aprender tudo, tornei-me autodidacta. Fiz muitas experiências com vários produtos e materiais.
Era também uma época em que não existia a comodidade da Leroy Merlin. Então eu consultava as páginas amarelas da lista telefónica, (lembra-se delas?).
Acabei por ir dar a pequenas lojas de materiais de construção em Campo de Ourique, na Estefânia ou no Cais do Sodré.
No meu fraco português, eu tentava explicar o meu objectivo aos homens que trabalhavam nessas lojas. Fosse por pura determinação da minha parte ou telepatia da parte deles, eu conseguia o que precisava. Estes homens, portugueses, foram sempre gentis, pacientes e prestáveis (pelo menos esperavam até depois de eu sair para se rirem da estrangeira maluca…).
Eu continuava a andar pelas ruas, hipnotizada, absorvida pela beleza natural e a tentar descobrir como obter materiais. Naquele tempo, antes das obras por toda a Lisboa, podia-se tropeçar em contentores de entulhos com belos azulejos antigos deitados fora!
Eu era como uma criança numa loja de doces. Até hoje, quando passamos por um local de obras, o meu marido diz “continua a andar…”.
Desde aqueles primeiros dias, tenho feito exposições, trabalhos por encomenda para clientes e ensino esta forma de arte deliciosa (altamente viciante).
Em 2015 criei o Lisbon Mosaic Studio, onde dou cursos básicos e intensivos de mosaico.
Em 2017, comecei com as Experiências Airbnb, com a minha “experiência mosaico”, onde recebo pessoas de todo o mundo e criamos mosaicos juntos. Sobretudo turistas, que chegam de olhos arregalados de entusiasmo por explorar a cidade. Então eu volto a descobrir Lisboa, pela primeira vez, através dos seus olhos.
| Lisboa em Nós de Eileen McDonough | |
|---|---|
| Mini apresentação | Nasci em Pittsburgh, PA, EUA, a 6ª de 8 filhos. Sempre gostei de fazer parte de uma grande família. Passei a minha infância ‘sob o radar’. Isso também tornou mais fácil anunciar que me iria mudar para a Europa.Conheci o meu marido português/inglês no início do meu tempo aqui. (Não foi apenas pela calçada que me apaixonei…). Casámos em Sintra em 2000. Vivemos no centro de Lisboa com a nossa filha de 19 anos e um cão de água português. O meu atelier fica perto da Sé, onde crio peças para casas particulares e restaurantes/cafés e também dou workshops. Faço frequentemente vídeos do processo criativo: Siga-me: |
| Um local inspirador | Calçada Conde Penafiel, esta é a rua do meu estúdio. Todas as manhãs, subo a colina a caminho do trabalho, tenho de parar e admirar a vista: o rio, a ponte, o Cristo Rei, a Sé, os telhados. Agradeço diariamente por esta visão. Dia após semana, mês após ano, nunca me canso desta visão. |
| Uma visita imperdível | Museu da Mãe d’Água (Reservatório da Mãe d’Água das Amoreiras) Este espaço é ao mesmo tempo elegante e rústico. Há alguns anos atrás participei numa exposição de arte colectiva aqui. Foi uma honra ter o meu trabalho neste magnífico espaço, entre a pedra antiga, a água e a inspiradora arquitectura. |
| Água na boca com… | Num dia de verão, nada melhor do que os camarões tigre ao molho de alho, um cesto de pão crocante servido com vinho verde gelado… |
| Uma música… | Jazz musician Melody Gardot’s sexy, edgy song Lisboa. |
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