As estátuas do jardim da Praça de Londres (Jardim Irmã Lúcia), junto à Igreja de São João de Deus, não estiveram sempre nesse sítio. Tem ideia de onde elas vieram?
Se conheceu o Cine-Teatro Monumental, muito provavelmente lembra-se destas esculturas. Mas quem pertence a uma geração mais nova ou quem nos visita, pode não saber a história que elas têm para nos contar.
Cine-Teatro Monumental
As estátuas que referimos faziam parte da fachada de um dos mais emblemáticos e modernos cine-teatros de Lisboa, o Cine-Teatro Monumental. Localizava-se onde hoje se encontra o Centro Comercial Dolce Vita Monumental, na Praça do Duque de Saldanha, na zona das Avenidas Novas.
Apesar de o actual edifício ter herdado o nome do seu antecessor e continuar a funcionar com salas de cinema, não há comparação possível com a antiga casa de espectáculos.
O Cine-Teatro Monumental foi projectado pelo arquitecto português Raúl Rodrigues Lima (1909-1980) e inaugurado em 1951.
Era um edifício que inspirava monumentalidade, de traços austeros e clássicos, de estética modernista característica do Estado Novo. A sua fachada era revestida de pedra e no topo de uma das esquinas ostentava uma esfera armilar, símbolo do império português, muito adoptado pelo regime da altura.
A nível de cinema e teatro era o maior complexo existente em Lisboa. Dispunha de um grande e luxuoso foyer decorado com mármores e grandiosos lustres ao estilo de Hollywood. Havia duas salas, uma de cinema e outra de teatro, cada uma com capacidade para mais de 1000 espectadores. A de cinema tinha inclusivamente, a mais recente tecnologia utilizada na época, CinemaScope.
Passaram por lá notáveis peças de teatro, revistas, operetas e concertos, protagonizados por artistas nacionais e estrangeiros. Mas a década de 70 marcou o início do declínio deste espaço onde confluíam as artes cinematográfica e da representação.
Após muitos anos de glória e de espectáculos de referência, o Cine-Teatro Monumental não resistiu à mudança dos tempos e das tendências. A ascendência da televisão, salas de cinema mais reduzidas e novos hábitos levaram ao seu encerramento. O valor imobiliário do terreno ditou a muito contestada demolição em 1984.
Sugerimos a leitura do artigo Esferas Armilares: Equívoco Desfeito!, onde desfizémos o equívoco que tinha a ver com a esfera armilar do Cine-Teatro Monumental.
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Estátuas do Jardim da Praça de Londres
As estátuas do jardim da Praça de Londres ornamentavam os dois lados da frontaria do Cine-Teatro Monumental. Trata-se de escultura aplicada, daí o sumário tratamento das costas das figuras, executadas em pedra, com cerca de 3,30 metros de altura, todas figurativas de inspiração clássica. São no total quatro estátuas: um grupo escultórico constituído por um elemento masculino e um feminino, e três figuras individuais femininas que exibem elementos alusivos à arte de representação, máscaras e lira.
A autoria destas figuras é atribuída a Euclides Vaz (1916-1991), premiado escultor modernista português, medalhista e professor. A sua vasta obra encontra-se espalhada por todo o país e pelas antigas colónias portuguesas.
As estátuas foram colocadas pela Câmara Municipal de Lisboa no local actual entre 1993 e 1998, no entanto, não sabemos o motivo da escolha deste jardim. Talvez se relacione com a envolvente urbanística que resultou do desenvolvimento urbano dos anos 40/50, mantendo-se assim a coerência estilística do espaço.
Mesmo ao lado deste jardim havia um cinema muito mais recente, igualmente acarinhado pelos lisboetas, o Cinema Londres. Este, infelizmente, também não resistiu às mudanças acedendo à abertura de mais um espaço comercial de quinquilharias.
Estas estátuas constituem a memória de alguns, mas ao saber a sua história, permitem despertar-nos para a importância da preservação de espaços onde o cinema e o teatro podem e devem ser realmente desfrutados.
Cinema e Teatro, um Património a Preservar
Ao longo do séc. XX muitas salas de espectáculos foram demolidas ou destinam-se agora a outras utilizações. São exemplos os casos do Teatro Apolo, demolido em 1957, o Cinema Eden, o Jardim Cinema ou o Cinema Europa. Apesar da consciência da salvaguarda deste património ser actualmente já uma realidade, há ainda muito a fazer.
A requalificação de espaços como o Parque Mayer, apesar das recentes melhorias, ainda carece de solução. Há ainda a lamentar o desaparecimento de grupos de teatro de referência, como recentemente o Teatro da Cornucópia que não sobreviveu à falta de apoios.
Apesar de tudo e a propósito do Dia Mundial do Teatro comemorado no dia 27 de Março, podemos dizer que hoje Lisboa é uma cidade que celebra as artes de representação.
Existem inúmeros grupos de teatro independente que persistem, assim como, empresários do sector que não se cansam de promover esta arte maior e que conseguem manter uma programação regular.
Através da sua agenda, também o Município proporciona aos amantes do grande ecrã e do palco, festivais e mostras de cinema e uma programação permanente em teatros municipais, fazendo resistir as mais antigas e emblemáticas salas de espectáculos.
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