A Escultura da Av. da Liberdade - Poente. Representação do Rio Douro

A Escultura da Av. da Liberdade – Poente

Hoje vamos ao encontro da escultura da Av. da Liberdade – Poente. São peças de diferentes estilos e épocas, inseridas numa das artérias mais bonitas de Lisboa.

No eixo Baixa/Liberdade, entre a Praça Marquês de Pombal e a Praça dos Restauradores, estende-se a Av. da Liberdade, uma via muito arborizada com magníficos edifícios históricos, salas de espectáculos, hotéis, esplanadas e lojas das mais prestigiadas marcas internacionais.

É aqui que se realizam as mais importantes comemorações oficiais e festividades, assim como o tradicional desfile das marchas populares durante as Festas de Lisboa

Talvez já tenha percorrido esta avenida muitas vezes e consiga enumerar algumas das suas peças escultóricas. Mas se lhe dissermos que, só neste artigo sobre o lado Poente, pode ficar a conhecer seis pontos de interesse, talvez fique surpreendido.

A admiração será maior se acrescentarmos que encontrará mais sete peças no nosso próximo artigo Escultura da Av. da Liberdade – Nascente.

Para maior comodidade convidamo-lo a iniciar este percurso na Praça Marquês de Pombal e a descer a Av. da Liberdade pela placa ajardinada do seu lado direito. 

Venha connosco neste percurso e deixe-se encantar por esta fascinante artéria da cidade das Sete Colinas, particularmente pela escultura da Av. da Liberdade – Poente.

Faça uma visita guiada às zonas históricas de Lisboa e conheça locais imperdíveis desta magnífica cidade.

Louvores e Ornamentos na Escultura da Av. da Liberdade – Poente

Podemos considerar que a escultura da Av. da Liberdade tem duas vertentes essenciais: a homenagem e a decoração. Vamos por isso encontrar, respectivamente, estátuas de vulto ou bustos de personalidades ilustres e elementos decorativos ou alegóricos.

No início da avenida existe um conjunto de quatro estátuas de vulto, de carácter modernista encomendadas pela CML – Câmara Municipal de Lisboa e inauguradas nos anos 50 do séc. XX, que visavam homenagear escritores do séc. XIX.

Encontram-se todas no mesmo cruzamento, duas do lado nascente e outras duas do lado poente.

É por estas últimas que iniciamos o nosso percurso.

Estátua de Vulto de Alexandre Herculano

A estátua de vulto de Alexandre Herculano encontra-se no cruzamento da Av. da Liberdade com a Rua Alexandre Herculano
Estátua de vulto de Alexandre Herculano

Ao cruzar a Rua Alexandre Herculano encontramos a primeira destas estátua de vulto que representa o ilustre liberal, escritor, historiador e jornalista do período romântico, Alexandre Herculano (1810-1877). 

Esta obra de grandes dimensões (2,88m), executada em mármore entre 1945 e 1946 tem autoria do escultor Salvador Barata Feyo (1899-1990).

A obra deste artista da segunda geração do modernismo português, que se dedicou particularmente à estatuária de carácter oficial, tem maior incidência na cidade do Porto.

Em Lisboa, para além desta, podemos apreciar a estátua de Antero de Quental que se encontra no Jardim da Estrela.



Estátua de Vulto de António Feliciano de Castilho

Estátua de Vulto de António Feliciano de Castilho escritor ultra-romântico defensor dos cânones clássicos e conservadores
Estátua de vulto de António Feliciano de Castilho

Segue-se a homenagem ao escritor ultra-romântico António Feliciano de Castilho (1800-1875). Defensor dos cânones clássicos e conservadores, na célebre polémica literária “Questão Coimbrã”, em oposição à nova geração de escritores realistas como Antero de Quental.

Castilho era cego desde os seis anos de idade e esse aspecto é claramente representado, nesta produção de 1948, por Leopoldo de Almeida (1898-1975).

Trata-se igualmente de um escultor da segunda geração modernista que desenvolveu o seu trabalho na proximidade do discurso oficial do Estado Novo e ao qual se devem obras emblemáticas como: o Padrão dos Descobrimentos em Belém; a Estátua Equestre de D. João I na Praça da Figueira; ou o Monumento a Calouste Gulbenkian, nos jardins da Fundação Calouste Gulbenkian na Av. de Berna; entre muitas outras.

Conjunto Escultórico de Homenagem a Rosa Araújo

Conjunto escultórico de homenagem a Rosa Araújo, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, responsável pela abertura e nome da Avenida da Liberdade
Conjunto escultórico de homenagem a Rosa Araújo

Continuamos a descer a avenida e ao entroncar com a Rua Rosa Araújo encontramos um conjunto escultórico de homenagem a esta personalidade.

José Gregório da Rosa Araújo (1840-1893), presidente da CML entre 1878 e 1885, foi o grande impulsionador do polémico projecto de reestruturação da cidade, que visava a sua expansão para norte. A ele se devem a abertura e o nome da Avenida da Liberdade.

Para homenagear esta personalidade foi erigido este monumento em 1936. Inicialmente colocado numa esquina entre a Rua Rosa Araújo e a Rua Mouzinho da Silveira, foi transferido para a actual localização, em 1945.

Trata-se de uma obra tardia do escultor Costa Motta – sobrinho (1877-1956). O busto de carácter realista, em bronze, sobre um pedestal em pedra, de linhas sóbrias clássicas e austeras tem em contraponto a representação de uma figura feminina curvilínea de gosto Arte Nova.

Esta mulher coroada representa a cidade de Lisboa em atitude de agradecimento ao responsável pelo seu desenvolvimento.

Talvez a estética estivesse já um pouco desactualizada para meados dos anos 30 mas não deixa de constituir um exemplar de grande beleza que devemos admirar.

Monumento aos Mortos da Grande Guerra

Em frente à Rua do Salitre, observa-se um espaço mais amplo em cujo centro se encontra implantado o monumento de homenagem aos Mortos da Primeira Grande Guerra Mundial 1914-1918
Monumento aos Mortos da Grande Guerra

A meio da avenida, em frente à Rua do Salitre, observa-se um espaço mais amplo em cujo centro se encontra implantado o monumento de homenagem aos Mortos da Primeira Grande Guerra Mundial 1914-1918 em que Portugal participou.

A ideia de erigir este monumento surgiu em 1920, tendo sido colocada a primeira pedra três anos depois pelo então presidente da República, Dr. António José de Almeida.

Após a realização de polémicos concursos e difíceis angariações de fundos, decidiu-se pelo projecto actual.

Concebido pelo escultor Maximiano Alves (1888-1954) e os irmãos arquitectos Guilherme Rebelo de Andrade (1891-1969) e Carlos Rebelo de Andrade (1887-1971), foi inaugurado a 22 de Novembro de 1931.

Construído em pedra, o monumento ergue-se sobre uma placa ajardinada de forma octogonal, onde está inscrita uma cruz de Cristo sobre a qual se desenvolve o conjunto escultórico.

Duas figuras masculinas fisicamente possantes, que simbolizam a vontade e a força, sustêm com evidente esforço as figuras protagonista deste monumento presentes no seu remate. Este é composto pela Pátria vitoriosa, uma figura feminina erecta que empunha uma bandeira e que coroa com louros de bronze o Soldado ajoelhado.

Na inscrição pode-se ler a frase “ AO SERVIÇO DA PÁTRIA, O ESFORÇO DA GREI”.

A monumental composição da calçada em volta do monumento foi feita após a construção do metropolitano no final da década de 50 do séc. XX. 

Atente no seu desenho e aproveite para procurar algumas das divertidas intervenções de que lhe falámos no artigo Curiosos Segredos na Calçada Portuguesa em Lisboa.

Alegoria ao Rio Douro

Tanque serpenteado rematado a norte por uma cascata, por sua vez encimada por um elemento escultórico em pedra, uma alegoria ao Rio Douro
Alegoria ao Rio Douro

Ao atravessar a Rua da Alegria vai sentir que entrou num espaço mais antigo da Av. da Liberdade. Desde logo o desenho da calçada é diferente pelas razões que lhe revelámos no artigo As Origens da Calçada Portuguesa e os Seus Primeiros Exemplares.

Este troço até à Praça dos Restauradores era ocupado pelo antigo Passeio Público, um jardim murado frequentado pela elite da Lisboa de novecentos, que teve o seu fim em 1879 com a abertura da Av. da Liberdade. 

Aqui encontra um tanque serpenteado rematado a norte por uma cascata, por sua vez encimada por um elemento escultórico em pedra. A figura masculina de longas barbas, que segura um recipiente de onde brota água, representa o Rio Douro. Veremos que do lado nascente existe uma composição similar referente ao Rio Tejo.

Foram realizadas por Alexandre Gomes (1772-1775), um dos escultores que participou com Machado de Castro, na realização do monumento equestre de D. José. As alegorias aos rios destinavam-se a integrar um chafariz monumental que se projectou para a Colina de Santana mas que nunca se chegou a concretizar. Hoje encontram-se muitas das peças deste projecto espalhadas pela cidade, sendo que estes elementos foram colocados em 1836 no Passeio Público e desde então aqui permanecem.

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Peças Decorativas em Ferro Fundido

As últimas peças escultóricas que encontramos, antes de desembocar na grande Praça dos Restauradores, são elementos decorativos em ferro fundido pintado.
Peças Decorativas em Ferro Fundido

As últimas peças escultóricas que encontramos, antes de desembocar na grande Praça dos Restauradores, são elementos decorativos em ferro fundido pintado.

Provavelmente de origem francesa produzidos em série, revelam uma estética neo-clássica. Não deixam por isso de se constituir como elementos curiosos que importa referir e preservar.

Trata-se de dois grandes vasos decorados com medalhões que encerram camafeus, carrancas, motivos vegetalistas e geométricos. Estão montados sobre dois pedestais de pedra que ladeiam um tanque de pedra recortado, em cujas extremidades se encontram dois leões alados de cuja boca brota água.

Uma curiosidade importa realçar: os leões alados, em que poucos reparam e a que outros se referem como grifos, são idênticos aos famosos leões da fonte que dá nome corrente à Praça Gomes Teixeira, a Praça dos Leões, na cidade do Porto. Aqueles sabemos que ali foram colocados em 1882 por iniciativa da Companhia de Águas do Porto.

Aos de Lisboa apenas encontramos uma referência que nos chega do lápis mordaz de Rafael Bordalo Pinheiro.

No seu jornal, Pontos nos ii de 07/01/1886, Bordalo ironiza com o Aspecto dos dragões que estão no lago da avenida. Critica, por um lado a sua origem e, por outro, os costumes pouco higiénicos dos portugueses de então, reforçando a caricatura com a legenda: “para cuspir por entre os dentes era melhor terem posto dois fadistas, o que tinha, sobre todas, a vantagem de ser muito nacional”.

Com esta curiosidade encerramos o nosso percurso pela escultura da Av. da Liberdade – Poente.

Nota: Artigo original publicado em 09/10/2019.


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