Artigo original publicado em 05/05/2021
Sabia que as árvores classificadas são consideradas monumentos vivos? E que pela cidade de Lisboa podemos encontrar um número significativo de árvores de interesse público?
As árvores marcam presença nos arruamentos, jardins e parques da cidade. Umas mais frondosas e outras mais discretas, mas todas contribuem para melhorar a qualidade do ar, embelezar os espaços ou proporcionar uma sombra tão necessária nos dias mais quentes de Verão.
Elas também sinalizam a mudança das estações do ano, com o cair das folhas ou a variação cromática das mesmas, a floração e finalmente a frutificação.
Classificação de Arvoredo de Interesse Público
O ICNF – Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas é o órgão competente para a atribuição do estatuto de Arvoredo de Interesse Público.
No seu website encontram-se os critérios para esta classificação: “exemplares isolados ou conjuntos arbóreos que, pela sua representatividade, raridade, porte, idade, historial, significado cultural ou enquadramento paisagístico, possam ser considerados de relevante interesse público e se recomenda a sua cuidadosa conservação.”
No entanto, entidades públicas ou privadas, como: autarquias, proprietários, organizações não governamentais ligadas ao ambiente ou até o cidadão comum podem submeter propostas para avaliação do ICNF.
Uma vez atribuído o estatuto, o arvoredo fica sujeito a um conjunto de regras de protecção, nomeadamente atribuição de uma área de segurança à sua volta ou a proibição de intervenções que possam danificar ou alterar o aspecto característico do mesmo. Os proprietários são responsáveis pela manutenção e conservação dos exemplares classificados.
O ICNF atribui, mas também tem o poder de retirar a classificação de um arvoredo, quando este deixa de possuir as características que o distinguiram, ou se lhe tiver sido atribuído outro tipo de protecção especial.
A classificação é uma forma de envolver a sociedade em geral para a preservação, protecção, valorização e ainda a inventariação deste património vivo.
Recentemente, o noticiado estudo do investigador Paulo Reis Mourão, em co-autoria com Vítor Martinho, revela que a maioria das árvores classificadas como património nacional concentra-se no distrito de Lisboa, ao invés de zonas com maior densidade e diversidade florestal.
O estudo aponta a razão deste facto não só pela existência de mais entidades com interesse e cidadãos informados sobre a importância da valorização destas árvores, mas também pela iniciativa destes de submeter propostas ao ICNF para a sua classificação.
Por isso, todos nós podemos ter um papel activo no reconhecimento destas árvores e contribuirmos para a preservação de um património de importante valor ecológico, paisagístico, cultural e histórico.
9 Árvores de Interesse Público em Lisboa
Em Lisboa existem inúmeras árvores de interesse público, principalmente nos parques florestais e jardins botânicos.
Na impossibilidade de lhe falarmos de todas, escolhemos nove árvores que se encontram nas ruas, largos, praças ou pequenos jardins de Lisboa. Provavelmente já as tinha visto, mas sem nunca ter percebido que se trata de exemplares classificados, uma vez que muitos carecem de identificação.
Vamos passar por locais frequentados por turistas e visitantes e por zonas fora do centro, para conhecer as nove diferentes espécies de árvores de interesse público por nós seleccionadas.
Oliveiras – Capela de Santo Amaro
No jardim por trás da Capela de Santo Amaro não encontramos uma, mas quatro Olea europaea L. var. europaea, com cerca de 6m de altura e perímetros que variam entre 2 e 3m.
Segundo informação disponível estas oliveiras terão cerca de 460 anos de idade, revelados pelos seus troncos já retorcidos e ocos, muito característico desta espécie.
A sua existência partilha a história deste local sagrado com a da capela, fundada em 1542, considerada uma jóia da arquitectura do séc. XVI, que venera o santo que se dedicou aos mais fracos e desafortunados.
A oliveira é extensamente cultivada em Portugal, tendo particular relevância a produção de azeite a partir do seu fruto, as azeitonas.
Adapta-se a todos os tipos de solo, tolera bem o calor e pode viver mais de dois mil anos. Floresce na Primavera e o seu fruto amadurece no Outono.
Árvore-da-Sumaúma – Rua dos Jerónimos
Quantas vezes não passámos pela Rua dos Jerónimos para passearmos pelos jardins da zona ou simplesmente para matarmos saudades de uns pastéis de Belém?
Não são raras as vezes que olhamos para a árvore-da-sumaúma implantada junto à parede nascente do Mosteiro dos Jerónimos, sem sabermos que se trata de uma árvore classificada, com mais de 90 anos de idade.
A beleza da Ceiba crispiflora H.B.& K. é evidente no Outono, quando se encontra na época de floração. Flores cor-de-rosa marcam a copa desta árvore para depois passar aos frutos de cápsulas verdes. Estes quando amadurecidos rebentam e libertam sementes envolvidas em fibras finas e brancas, como algodão, a sumaúma.
Outra particularidade desta espécie originária do Brasil e Argentina é a de desenvolver espinhos piramidais de considerável dimensão ao longo do tronco, mas que começam a cair a partir de uma certa idade.
Bela-Sombra – Largo do Limoeiro
O antigo Largo do Limoeiro, actualmente uma rua que liga a Baixa Lisboeta ao Miradouro das Portas do Sol, é um local de passagem obrigatória para os turistas e faz parte do percurso do famoso elétrico 28.
Este é também um local de muitas histórias. Aqui existiu um Paço Real, uma igreja, uma cadeia e, hoje, ainda é possível visitar o Pátio onde terá vivido o último carrasco de Portugal.
Junto ao muro da então Cadeia do Limoeiro, actual Centro de Estudos Judiciários, encontra-se uma Phytolacca dioica L. que terá substituído o limoeiro que deu nome a este largo. Tem cerca de 13m de altura, 17m de perímetro de base e 100 anos de idade.
Esta espécie é originária da América do Sul, tem um crescimento muito rápido e a época de floração dá-se entre Abril e Junho.
Cipreste-do-Buçaco – Jardim do Príncipe Real
Esta emblemática árvore, localizada no Jardim do Príncipe Real, é destacada pela sua peculiar forma e grandeza.
Terá cerca de 150 anos de idade e é o ex-libris de um dos jardins de bairro mais bonitos da cidade, construído em 1863.
De nome científico Cupressus lusitanica Miller, também é vulgarmente conhecido por cedro-de-Goa ou cedro-do-Buçaco. Esta última designação é muito usada em Portugal devido aos magníficos exemplares existentes na Mata do Buçaco, situada na região centro do país.
Trata-se de uma espécie oriunda das montanhas do México, da Guatemala e da Costa Rica. Dá-se melhor em clima subtropical com invernos suaves e húmidos e calor ameno no resto das estações. A sua madeira tem vasta utilização, incluindo a manufactura de peças ornamentais.
Figueira-da-Baía-de-Moreton – Largo Hintze Ribeiro
Neste largo, pouco convidativo para permanência dada a ocupação dos automóveis, encontra-se um surpreendente conjunto arbóreo classificado de interesse público, com mais de um século de existência.
A Ficus macrophylla Desf.ex Pers, também conhecida como figueira-da-Austrália, oriunda da costa leste da Austrália, é muito utilizada como árvore ornamental em espaços públicos.
Os nove exemplares de grandes dimensões, do Largo Hintze Ribeiro, proporcionam sombra a toda a área. Nos dias mais quentes de Verão, uns bancos de jardim fariam a diferença para poder desfrutar da frescura e apreciar a obra de arte urbana na empena do Centro Cultural Cabo Verde, da autoria de Frederico Draw e Ergo Bandits.
Tipuana – Praça de São Bento
Junto à Assembleia da República, na Praça de São Bento, podemos observar a centenária Tipuana tipu (Benth.) Kuntze.
No momento em que foi fotografada apresentava-se uma folhagem pouco densa que expunha as suas imensas ramificações retorcidas, formando uma autêntica composição artística, como que um quadro do pintor americano, expressionista abstracto, Jackson Pollok.
Esta espécie é oriunda da América do Sul, mais precisamente do Norte da Argentina e da Bolívia. Entre o final do Inverno e a Primavera ocorre a floração alaranjada com uma mancha vermelha acastanhada na base.
Nogueira-do-Japão – Praça Paiva Couceiro
Vamos agora ao encontro de outra árvore centenária, desta vez uma Ginkgo biloba L., localizada na Praça Paiva Couceiro, na Freguesia de Penha de França.
Esta espécie originária da China, tem mais de 200 milhões de anos de existência. Contemporânea dos dinossauros é considerada a mais antiga do reino vegetal.
Para além desta particularidade, foi a única espécie que renasceu após a devastação da bomba atómica em Hiroshima, no Japão, daí ter sido adoptada como símbolo de paz e longevidade.
Esta árvore caduca perde as suas folhas no Inverno, mas antes ganha uma cor amarela viva que marca a paisagem, colorindo-a.
Feijoeiro-da-Índia – Jardim da Luz
Seguimos até ao Largo da Luz em Carnide, local da realização anual da Feira da Luz. Esta feira de raiz rural é uma das mais emblemáticas de Lisboa e está integrada nas Festas da Senhora da Luz.
Este espaço encontra-se rodeado de edifícios históricos, dos quais se destaca a Igreja da Nossa Senhora da Luz de onde sai a procissão no mês de Setembro de cada ano.
No meio do Largo fica o Jardim Teixeira Rebelo, mais conhecido por Jardim da Luz, onde podemos observar entre muitas espécies diferentes de árvores, dois exemplares classificados de Erythrina crista-galli L., com cerca de 100 anos de idade.
Devido à falta de sinalização, a sua identificação pode não ser fácil para alguém que não tenha um conhecimento mais aprofundado. Situam-se ambas na zona sul do jardim e têm aproximadamente 12m e 15m de altura.
Esta espécie, ao contrário do que indica o seu nome comum, não é originária da Índia, mas sim, da América do Sul. Foi baptizada pelos portugueses quando chegaram ao Brasil, pensando que se tratava da Índia.
A sua época de floração é em Junho, altura em que esta árvore fica carregada de flores vermelhas vivas que fazem lembrar cristas de galo.
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Lódão-Bastardo – Av. de Berlim
Na zona oriental de Lisboa, na confluência da Av. de Berlim com a Av. Dr. Francisco Luís Gomes, junto da escultura Homem Sucata (1993) de Lúcio Bittencourt encontra-se uma Celtis australis L.
Este exemplar de lódão-bastardo é distinguido pela sua silhueta simétrica e pela dimensão da copa. Tem cerca de 16m de altura, 100 anos de idade e é sobrevivente do arvoredo das quintas que existiam nesta área de Lisboa, antes da sua urbanização nos anos 40 e 50.
Celtis australis é uma espécie muito utilizada para ornamentos de jardins e vias públicas e a sua madeira quando cortada em tiras finas pode ser usada em cestaria. A época de floração dá-se na Primavera e a frutificação entre o final do Verão e o Outono.
Chegámos ao fim deste passeio pela cidade em que as árvores de interesse público são o mote. Esperamos que os nossos leitores tenham ficado sensibilizados para a importância da valorização deste património vivo que muito contribui para o bem-estar de todos.
O projecto getLISBON tem sido muito gratificante. Queremos continuar a revelar singularidades da apaixonante cidade de Lisboa.
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