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Neste artigo falaremos do estilo arquitectónico Português Suave, estética que marcou todo o país na década de 40 do séc. XX.
Abordaremos em particular as suas características, o seu impacto e os principais exemplos que podemos encontrar em Lisboa.
Porquê Português Suave?
O Estado Novo foi o regime político ditatorial que vigorou em Portugal durante 41 anos, até ser derrubado pela revolução de Abril de 74.
Este regime autoritário impôs uma ruptura com o Movimento Moderno, em ascensão na década de 20, ao promover uma estética arquitectónica assente numa linguagem simbólica, tradicional e nacionalista. Ou seja, que se pretendia afirmar, portuguesa.
Um programa de grandes obras, comprometido ideologicamente com o regime conservador e autocrático que, paradoxalmente, se desejava simultaneamente moderno e tradicional.
Por outro lado, este regime explorou e exaltou a ideia de que Portugal era um país constituído por um povo pacífico, como se dizia à época de “brandos costumes” e de carácter suave, resignado ao seu fado, pobre mas honrado e orgulhoso do seu passado histórico…
Assim, Português Suave (Português porque nacionalista e Suave porque brando) foi o nome irónico e pejorativo, vulgarizado entre os arquitectos que eram críticos desta opção estética e posteriormente, também adoptado pela população em geral.
O Estilo Arquitectónico Português Suave
O Português Suave, marcou a arquitectura de Norte a Sul do país.
Os centros das cidades foram renovados e ali construídos grandes edifícios, que não raras vezes descaracterizaram as urbes, impondo uma estética oficial que afirmava o poder ditatorial do Estado Novo.
Ao percorrer o país facilmente identificamos tribunais, correios, escolas, igrejas, filiais da Caixa Geral de Depósitos e câmaras municipais, construídas neste período.
Estas construções foram estruturalmente inovadoras através da utilização de novas técnicas de engenharia como a introdução de estruturas de betão armado.
Porém, no que respeita à estética, não será necessário um olhar muito atento para encontrar inúmeros elementos do passado que contrariam esse progresso.
Foram assim utilizados materiais e elementos arquitectónicos que propiciavam uma leitura que, ideologicamente, interessava ao regime exaltar:
- O carácter rural tradicional: por meio da utilização de telhados inclinados de telhas vermelhas com beirais e cornijas falsas, cata-ventos…;
- O período da história que remete para a fundação da nacionalidade, através do recurso a uma gramática medievalista como: vitrais, ferros forjados, merlões, torreões, pináculos…;
- O auge do Império Português de quinhentos, com a presença dos seus elementos simbólicos como a esfera armilar e as caravelas…;
- O neo-barroco joanino que, inspirado nas fachadas dos palácios do séc. XVII, apresenta em destaque um andar nobre e entradas centralizadas encimadas por sacadas.
A utilização de pedra nos revestimentos, a verticalidade e repetição de elementos imprimem a estas construções um carácter austero e pesado.
Retrocesso das Vanguardas
O estilo arquitectónico Português Suave constituiu-se assim, como um retrocesso numa linha evolutiva que parecia naturalmente acompanhar as tendências de vanguarda e gosto internacionais.
Curiosamente, esta involução foi protagonizada pelos promissores arquitectos modernistas que haviam realizado na década anterior, produções de arrojo, por vezes ainda hesitante ou marcado pela estética Art Déco.
São exemplos o Instituto Superior Técnico (1935) e o Instituto Nacional de Estatística (1935) de Pardal Monteiro (1897-1957); a Casa da Moeda (1934) de Jorge Segurado (1898-1990); ou o Cinema Capitólio (1925/31) de Cristino da Silva (1896-1976), entre outros.
Este último, considerado um dos melhores projectos de arquitectura modernista de vanguarda, situa-se no Parque Mayer. De carácter manifestamente diverso, o mesmo arquitecto viria a projectar, em 1943 a cenográfica Praça do Areeiro.
O Estilo Arquitectónico Português Suave em Lisboa
Em Lisboa, o estilo arquitectónico Português Suave, começa a tomar forma nos últimos anos da década de 30 e tem como momento-chave a Exposição do Mundo Português de 1940 cujo responsável foi o arquitecto Cottinelli Telmo (1897-1948).
Este evento teve um enorme impacto na zona de Belém e na vivência da cidade. As demolições, abertura de vias de acesso, urbanização do Bairro do Restelo e a criação da grande Praça do Império deixaram uma marca ideológica clara, na área até então dominada pelas construções quinhentistas: Mosteiro dos Jerónimos e Torre de Belém.
Impacto Negativo em Nome do Progresso
Felizmente, as propostas de outros projectos de grandes construções que visavam o centro histórico da cidade e que teriam tido as consequências de um verdadeiro terramoto, não foram avante.
Era o caso, por exemplo, de intervenções previstas para a total remodelação do Rossio assim como para a sobranceira encosta do Carmo, a Praça da Figueira, ou o monumental remate do Parque Eduardo VII.
Contudo, a ideia de ligar a Avenida Almirante Reis ao Rossio, incompreensivelmente, justificada com a necessidade de fluidez do trânsito, apesar de não concretizada em pleno, não deixou de provocar danos profundos irreversíveis.
Entre 1946 e 1962 foram destruídos inúmeros prédios da Baixa Pombalina com comércio local activo e toda a Baixa Mouraria, assim como edificações emblemáticas de diversas épocas. São os casos do Palácio dos Marqueses do Alegrete, do Mercado da Praça da Figueira, da Igreja do Socorro, do Teatro Apolo e do arco do Marquês do Alegrete que correspondia à última porta da muralha Fernandina do séc. XIV.
Estas demolições realizadas em nome do progresso e da modernidade, apenas resultaram no que ainda hoje se apresenta como o mais difícil espaço a ocupar no centro histórico da cidade, a Praça Martim Moniz. Uma ferida aberta na cidade tantas vezes evocada no fado cantado pelas suas gentes, que apenas viram ser poupada a capela de onde sai a Procissão da Senhora da Saúde.
As Grandes Construções de Expansão da Cidade
Em Lisboa o Português Suave ficou patente não só em grandes projectos de edifícios de serviços públicos, espalhados um pouco por toda a cidade, mas também em moradias unifamiliares de luxo nas zonas de Alvalade e Restelo, assim como em bairros económicos de que Alvito, Encarnação ou Caselas são exemplos.
Mas o maior impacto encontra-se nos novos arruamentos habitacionais destinados à classe alta. Em linhas gerais podemos enumerar, como os mais emblemáticos, as edificações: das Avenidas Sidónio Pais e António Augusto de Aguiar paralelas ao Parque Eduardo VII; da Avenida D. João V que liga o Rato ao acesso à auto-estrada para Cascais; da Praça de Londres e da Praça do Areeiro na zona das Avenidas Novas; e da Rua Francisco Metrass em frente à Igreja do Santo Condestável em Campo de Ourique.
Os edifícios das Avenidas Sidónio Pais e António Augusto de Aguiar apresentam, quase todos, baixos-relevos decorativos que encimam ou ladeiam as portas principais. É aqui que encontramos maior número de exemplares destes trabalhos. Estes lembram ainda as intervenções Art Déco dos anos 30, também elas bastante mais circunscritas e discretas que as efusivas decorações da Belle Époque que as precederam e das quais Lisboa conserva ainda deliciosos exemplares.
Se atentarmos nestes trabalhos escultóricos observamos uma linguagem modernista de linhas sumárias. Os temas passam por alegorias ou símbolos que apontam para um discurso ideológico conservador, que exalta a família enquanto pilar da sociedade. Aqui estão presentes mulheres que personificam os valores morais e as musas, representações da família, símbolos de fertilidade ou eucarísticos como as espigas e os cachos de uvas, ou simplesmente cristãos como os peixes ou as pombas.
São também estes, os temas que iremos encontrar nos entalados da Lisboa dos anos 50.
O estilo arquitectónico Português Suave marcou assim de forma inequívoca a face da cidade de Lisboa. Ligado ideologicamente a um regime ditatorial que vingou durante tantas décadas, não poderia ser de outra forma.
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