Artigo original publicado em 18/11/2020
O Jardim de São Pedro de Alcântara é sobejamente conhecido por quem visita Lisboa. Ninguém quer perder a larga panorâmica, entre o Parque Eduardo VII e o rio Tejo, que dali se avista.
Localizado no eixo Amoreiras/Chiado, logo abaixo do Jardim do Príncipe Real, este espaço de planta rectangular, constituído por dois patamares desnivelados, tem outros motivos de interesse para além das belas vistas.
Queremos que os conheça!
Breve Origem
A origem deste espaço remonta ao séc. XVIII quando se começa a formar uma praça fronteira ao Convento de São Pedro de Alcântara, que havia sido construído no último quartel do século anterior.
D. João V teve intenção de prolongar o Aqueduto das Águas Livres e construir neste local uma grandiosa Mãe d’Água, com vista a abastecer o lado oriental da cidade. Estas obras chegaram a ser iniciadas, tendo sido construída uma muralha com cerca de 20 metros de altura que hoje serve de suporte a estes terrenos.
Contudo, o violento terramoto de 1755 estabeleceu outras prioridades.
Só após a guerra civil (1832-34), com a vitória do Liberalismo e as novas competências da Câmara Municipal de Lisboa, é que este espaço, até então um baldio abandonado, começa a receber forma de jardim.
Jardim de São Pedro de Alcântara
O Jardim de São Pedro de Alcântara é constituído por dois níveis: um patamar superior delimitado a ocidente pela Rua de São Pedro de Alcântara, artéria por onde passa a carreira nº24 dos eléctricos de Lisboa; e a oriente por uma varanda composta por um bonito gradeamento em ferro.
Este apresenta em cada topo duas cancelas, datadas de 1839, que dão acesso a escadarias de pedra que nos conduzem ao patamar inferior que, por sua vez, termina também com um gradeamento sobre a Rua das Taipas.
Patamar Inferior
Aqui encontra-se um espaço ajardinado ao estilo francês pontuado por colunas que ostentam bustos de personalidades históricas, nacionais e da antiguidade, assim como personagens da mitologia clássica.
Este espaço já teve outra feição e encerra muitas curiosidades mas isso dar-lhe-emos a conhecer noutra ocasião.
Leia também Fontes de Ferro da Lisboa Oitocentista onde falamos de uma fonte que esteve neste patamar do jardim.
Patamar Superior
O patamar superior caracteriza-se pela presença de árvores de grande porte, na sua maioria da espécie lódão-bastardo (celtis australis), que ladeiam alamedas com bancos.
É aqui que encontramos vários motivos de interesse que merecem a sua atenção.
Fontanário Barroco
A peça mais antiga que se encontra no Jardim é proveniente dos jardins do Palácio da Bemposta, na Colina de Santana.
Trata-se de um fontanário ornamental barroco, composto por um largo tanque polilobado e uma coluna de decoração complexa que suporta duas taças. Cada uma apresenta quatro carrancas que correspondem a bicas.
Calçada Portuguesa do Jardim de São Pedro de Alcântara
Em toda a extensão desta parte do Jardim encontramos bonitos padrões decorativos de calçada portuguesa, resultado de intervenções de diferentes épocas.
Um dos seus mais antigos exemplares circunda o gradeamento, facto que se comprova não só pela data ali inscrita, 1876, mas também pela pequena dimensão das pedras que a compõem.
Repare ainda nos inúmeros pequenos motivos, dissimulados entre os padrões, que constituem curiosos segredos na calçada portuguesa, assim como nos magníficos ornamentos que envolvem e complementam o monumento de homenagem a Eduardo Coelho.
Monumento de Homenagem a Eduardo Coelho
O patamar superior do Jardim de São Pedro de Alcântara apresenta apenas uma obra escultórica. Trata-se de um monumento de homenagem ao jornalista fundador do Diário de Notícias, Eduardo Coelho.
Destaque para o pequeno ardina, animado de movimento e energia, assim como para a harmonia patente entre os vários elementos que compõem este conjunto.
Uma peça que data de 1904, do escultor Costa Motta Tio, da qual falamos em pormenor no artigo que lhe dedicámos.
Panorâmica em Azulejos
Data de 1962, um colorido painel de azulejos onde está representada a panorâmica que daquele local se avista. Encontram-se ali assinalados vários locais como os Miradouros da Penha de França e do Monte Agudo, diversas igrejas, palácios, monumentos e até o ascensor do Lavra, entre muitos outros motivos de interesse.
Este trabalho produzido pela Fábrica Viúva Lamego é da autoria do artista plástico suíço Fred Kradolfer (1903-1968) que residiu na peculiar casa das placas evocativas no Bairro Alto.
Placa Toponímica
Na entrada sul do jardim encontra-se uma placa toponímica colocada a 27-12-1967, aquando das comemorações do centenário do nascimento do poeta português, que lhe dá nome mas pelo qual ninguém o chama, António Nobre (1867- 1900).
Ali está gravado: “Ai canta ao luar minha guitarra/ a Lisboa dos poetas cavaleiros”, um excerto de um poema que dedicou a Lisboa e uma ilustração de carácter modernista não assinada.
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A Luz do Jardim de São Pedro de Alcântara
Para além dos elementos artísticos que compõem este admirável espaço não podemos deixar de destacar que este é um dos melhores locais para observar a tão especial luz de Lisboa.
Se de manhã a luminosidade é mais crua, o entardecer reserva-lhe um verdadeiro cenário de deslumbramento seja qual for a época do ano.
A sua melhor e intemporal descrição, encontra-se no Guia de Portugal, uma obra de 1924, escrita por Raul Brandão e Raul Proença que aqui partilhamos consigo:
“… A velha cidade destaca-se agora perfeitamente: vem do velho castelo como uma pinha, mais amontoada, numa confusão de paredes com buracos de janelas, e lá de cima, dos velhos muros sem carácter, desce até à baixa, e recorta-se até à velha Sé, de pedra doirada pela luz, que parece debruçar-se sobre a nesga azul do Tejo, debruada ao longe pelas colinas da Outra Banda, onde o castelo de Palmela ergue o severo perfil. Mas é ao entardecer que este panorama, cerceado na sua beleza, que poderia ser empolgante, pelo aspecto vulgar e mesquinho da casaria, atinge o deslumbramento. Há ali uma janelinha que de súbito arde em luz doirada, como se a iluminassem de repente. Acende-se outra e outra ainda; e dentro em pouco, na nossa frente, todas as vidraças se incendeiam. Lisboa inteira refulge em labareda, e a cor transmuda-se, e as janelas, na pompa ensanguentada do poente, são já de fogo e púrpura… Depois, uma após outra, as vidraças apagam-se, como se um sopro as fosse percorrendo. Mas ainda lá em cima uma janelinha persiste em arder solitária, como faúlha no rescaldo do fogo chamejante que por momentos consumiu Lisboa, fazendo dela um quadro de apoteose…”
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